Tilápia. Ceará: de produtor a comprador de peixe

Seca e queda na produção pesqueira ditam mudanças. De cozinhas a fazendas de peixes, empreendedores miram em novas estratégias de negócios para não faltar tilápia na mesa
Lígia Costa ligiacosta@opovo.com.br
Valdir Nascimento, proprietário do restaurante Tilápia, tem no cardápio pelo menos 30 pratos a base de tilápia. Conta que o peixe que comprava de produtores no Castanhão hoje vem de Recife

Apontado como o 3º maior produtor de tilápia do Brasil em 2015, conforme dados divulgados no último dia 29 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - o Ceará amarga seu 5º ano de seca com uma queda significativa na produção do pescado, agora trazido de outros estados, como Piauí, Pernambuco, Alagoas, Bahia e até mesmo Paraná. “A produção no Ceará está péssima. O custo encareceu muito”, afirma Cleiton Feitosa, distribuidor de tilápia há 13 anos em Fortaleza e Região Metropolitana. “Sempre teve fluxo de venda de tilápia de outros estados para cá, mas a partir de 2015 a coisa apertou”, revela Antônio Albuquerque, secretário executivo da Associação Cearense de Aquicultores (Aceaq).

 Carlos Alberto Lemos, presidente da Aceaq, estima que a produção de tilápia no Estado sofreu uma retração de aproximadamente 36% no acumulado do ano, em comparação a igual período no ano passado. “Até junho, tivemos uma produção até razoável, mas em julho, com a mortalidade muito grande, a produção do peixe reduziu em torno de 10 mil toneladas este ano”. 

 Grande berço da produção de tilápia e maior açude do Ceará, o Castanhão vive seu pior momento: está com apenas 6,20% da capacidade total, o menor volume desde sua criação. “Com a redução do volume, a qualidade da água cai cada vez mais. É um risco (econômico) muito grande continuar produzindo”, confirma Débora Rios, diretora de Operações da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos do Estado do Ceará (Cogerh).

Margem de lucro
Peixe de água doce originário da África, a tilápia ganhou lugar cativo na mesa do cearense. Sócio-proprietário do Tilápia Restaurante, um dos mais tradicionais no preparo do peixe em Fortaleza, Valdir Nascimento, sentiu o impacto da escassez do insumo. Antes saído das águas do Castanhão, o ingrediente principal segue longo trajeto, até chegar de Recife.

 Com criatividade, Valdir tem conseguido manter intacta sua margem de lucro e a qualidade de cada prato. O segredo é manter o peixe no cardápio e economizar nas guarnições. “Hoje, a gente faz pelo menos 30 pratos a base de tilápia. Para não assustar os clientes, há um ano não aumentamos os preços e nem mexemos no cardápio”. 

 Pesquisa da Embrapa sobre o mercado de tilápia mostra que, no 2º trimestre de 2016, o Ceará praticou os valores mais baixos no varejo nacional. Além do Ceará, integram a análise São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Distrito Federal. A maior diferença está no preço do filé congelado: no Ceará o quilo custa em média R$ 27,38, enquanto que em São Paulo - o maior produtor do peixe em 2015, segundo o IBGE - sai a R$ 44,50. “As empresas não estão conseguindo repassar o aumento de custos e perdem lucro”, diz Antônio.
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