Vamos aos números:
Estão registadas 24.307 espécies em perigo de extinção.
Entre essas espécies, 12.630 são animais, 11.643 são plantas e 34 são fungos.
Das mais de 12 mil espécies de animais ameaçadas, 2.696 estão no grau mais elevado de ameaça: estão criticamente em perigo de extinção. Por outras palavras, o seu desaparecimento pode estar iminente.
Estes números, atualizados em Dezembro de 2016, são provenientes da IUCN Red List,
a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e
dos Recursos Naturais (IUCN), também conhecida simplesmente por Lista
Vermelha.
Esta lista, criada em 1963, avalia e classifica o risco
de extinção de milhares de espécies obedecendo a critérios rigorosos.
Trata-se do sistema mais global, abrangente e compreensivo para
determinar o estado de conservação de cada espécie.
A partir dos
dados oficiais da Lista Vermelha, vamos dar-lhe a conhecer alguns dos
animais com o risco mais elevado de extinção — os animais que estão
classificados em perigo critico, o último passo antes da extinção na
natureza.
Mas antes de lá chegarmos, vamos perceber melhor do que
realmente estamos a falar, do que é que está a acontecer e qual é o
nosso papel no meio de tudo isso.
O que é uma espécie ameaçada?
Uma espécie está ameaçada quando se considera que está em risco de extinção, ou seja, em risco de desaparecer do planeta.
Isso
acontece quando a população dessa espécie se encontra em declínio
acentuado e o número de indivíduos é considerado muito baixo.
Um
habitat pequeno e frágil, baixa variabilidade genética, períodos de
gestação longos e que resultam em poucos filhotes, entre diversos outros
fatores de que falaremos mais à frente, podem aumentar o risco de
extinção de uma espécie.
Quando uma espécie se encontra ameaçada,
governos e organizações internacionais podem organizar ações para as
tentar proteger. Legislação que proíba a caça e o comércio dos animais
(ou partes destes), bem como a destruição dos seus habitats, é crucial
para que algumas espécies tenham oportunidade de recuperar e fintar a extinção.
Existem
essencialmente quatro tipos de espécies ameaçadas, que ajudam a tomar
decisões quanto à sua conservação e a criar programas para o efeito:
- Espécie-bandeira: As espécies que são escolhidas como embaixadoras, ícones ou símbolos de uma causa, geralmente a sua própria proteção e de todo o ecossistema onde vive. De forma a chamar a atenção das pessoas para a importância da conservação, são selecionados como espécie-bandeira os animais considerados mais carismáticos, como os tigres e os pandas, em vez de outros animais menos empáticos.
- Espécie-chave: Também chamada espécie pedra-angular, tratam-se das espécies que desempenham um papel único e essencial no seu ecossistema. A extinção de uma espécie-chave pode causar uma perturbação tão grande que leve outras espécies do mesmo ecossistema também a extinguir-se, por efeito dominó. Por exemplo, o desaparecimento dos morcegos e dos insetos impediriam a polinização, o que resultaria num planeta sem flores, frutas, vegetais… e sem vida dentro de 50 anos.
- Espécie-indicadora: As espécies que, pela sua biologia, nos fornecem indicadores sobre o estado de um determinado ambiente ou habitat. Por exemplo, os corais são indicadores da temperatura e acidez da água (quando elevados sofrem de branqueamento). As aves de rapina também são indicadoras da poluição no ambiente, como a presença de pesticidas, pois encontram-se no topo da cadeia alimentar e acumulam os poluentes presentes nos alimentos que ingerem.
- Espécie-guarda-chuva: São as espécies que, uma vez protegidas, permitem proteger simultaneamente muitas outras espécies, pois partilham das mesmas necessidades. Por exemplo, ao focar um programa de conservação numa espécie que requer um habitat extenso, está-se a proteger indiretamente todos os outros animais que necessitam desse mesmo habitat. O tigre-siberiano é simultaneamente uma espécie-chave e uma espécie-guarda-chuva, devido ao impacto ecológico que tem sobre animais como os veados e os javalis.
Quantos animais estão em perigo de extinção?
As espécies avaliadas pela Lista Vermelha são classificadas numa das seguintes categorias:
- Pouco preocupante (Least concern em inglês, sigla LC): As espécies com risco mais pequeno de extinção e que deverão conseguir sobreviver a longo prazo sem intervenção humana. Encontram-se nesta categoria 34.108 espécies de animais.
- Quase ameaçada (Near threatened, NT): As espécies que ainda não são consideradas em risco de extinção, mas caminham nesse sentido, com uma diminuição da sua população e/ou do seu habitat. Contém 3.836 espécies de animais.
- Vulnerável (Vulnerable, VU): O primeiro de três graus de perigo de extinção, quando se verifica elevado declínio populacional e outras ameaças. São vulneráveis 5.856 espécies de animais.
- Em perigo (Endangered, EN): O segundo de três graus de perigo de extinção, contendo espécies em elevado perigo de se extinguirem num futuro próximo se não forem adotadas medidas de conservação. Estão em perigo 4.078 espécies de animais.
- Criticamente em perigo (Critically endangered, CR): O grau mais elevado de perigo de extinção. Estes animais já são muito raros e necessitam de medidas de conservação urgentes. Estão em perigo critico 2.696 espécies de animais.
- Extinta na natureza (Extinct in the wild, EW): As espécies em que, após extensiva investigação científica, não foi possível encontrar um único indivíduo na natureza, mas ainda existem em cativeiro. Estão extintas na natureza 33 espécies de animais.
- Extinta (Extinct, EX): Não há muito por dizer sobre esta categoria. Estas espécies já não existem, tendo em conta que o último exemplar das mesmas já morreu. São classificadas como extintas 744 espécies de animais.
Todos
os animais classificados nas categorias Vulnerável, Em perigo e
Criticamente em perigo, são considerados em risco de extinção. Existe
assim um total de 12.630 espécies de animais em risco de extinção.
Apesar dos números serem alarmantes, não contabilizam ainda mais de 10 mil espécies de animais marcadas como Data deficient, ou seja, espécies sobre as quais ainda não existem dados científicos que permitam classificar o seu estado de conservação.
Além
destas, milhares de outras ainda não foram avaliadas — muitas das quais
provavelmente não conhecemos e nunca chegaremos a conhecer. Como refere
o World Resources Institute (WRI), “os cientistas têm um melhor
conhecimento de quantas estrelas existem na galáxia do que quantas
espécies existem na Terra”.
Porque estão os animais em perigo?
Os animais enfrentam um conjunto de ameaças que colocam em causa a sua sobrevivência, tanto a curto como a longo prazo.
As principais ameaças são:
- Perda e fragmentação do habitat: A população humana continua a crescer exponencialmente, requerendo cada vez mais espaço e recursos, que são retirados à natureza e consequentemente aos animais. Por exemplo, a destruição de florestas para a construção de habitações, estradas, indústrias, campos agrícolas e outros.
- Caça e tráfico: Uma grande quantidade de animais é vítima de caça furtiva e tráfico de espécies exóticas, o que leva ao declínio das suas populações e até mesmo à extinção, como aconteceu com o tigre-da-tasmânia.
- Alterações climáticas: Subida do nível das águas, oceanos cada mais quentes e ácidos, secas cada vez mais longas, vagas de calor, falta de alimento e água doce, gelo polar a derreter, são apenas algumas das consequências das alterações climáticas que põem em causa a sobrevivência dos animais.
- Poluição: Os animais (e o ambiente) são particularmente afetados pelos nossos resíduos plásticos, pesticidas ou metais pesados. Derrames de petróleo e poluição da água com químicos são particularmente perigosos para as espécies marinhas.
- Espécies invasoras: As espécies invasoras introduzidas pelos seres humanos (quer intencionalmente como acidentalmente) em diversos habitats têm efeitos devastadores nas espécies nativas.
- Doenças: Bactérias e vírus são por diversas vezes introduzidos acidentalmente num habitat por seres humanos e animais de estimação. Os animais desse habitat, se nunca tiverem sido expostos anteriormente a esses agentes, são severamente afetados. Por exemplo, cerca de 20% das mortes dos gorilas-das-montanhas são causadas por doenças respiratórias de origem humana.
Para além destas ameaças, alguns animais têm uma maior dificuldade em recuperar do que outros.
Por
exemplo, quando uma espécie tem baixa variabilidade genética
(diversidade de características dentro de uma espécie), a sua capacidade
de se adaptar a novos ambientes é reduzida. Estes animais poderão ter
mais dificuldades em lidar com grandes mudanças no seu habitat como as
provocadas pelas alterações climáticas.
Animais com períodos de
gestação longos e que resultam em poucos filhotes também têm
dificuldades em recuperar os números das suas populações quando estão em
perigo.
Por exemplo, os elefantes têm um período de gestação
entre os 617 e os 645 dias (quase dois anos), ao fim dos quais nasce
apenas um filhote (muito raramente nascem gémeos). Após darem à luz,
aguardam cerca de 5 anos até terem um novo bebé.
Porque motivos devemos tentar salvá-los?
Um
dos argumentos que surge com alguma frequência contra a conservação, é
que a extinção de espécies se trata de um fenómeno natural. Pelo que não
devemos intervir.
A extinção é efetivamente um fenómeno natural.
Ao longo da história da vida na Terra,
incontáveis espécies se extinguiram e deram lugar a outras. Ocorreram
pelo menos cinco grandes extinções, a mais famosa há 66 milhões de anos
quando os dinossauros desapareceram. Por ordem cronológica:
- 450-440 milhões de anos: transição entre o período Ordoviciano e o período Siluriano, extinguiram-se entre 60% a 70% de todas as espécies;
- 375-360 milhões de anos: entre os períodos Devoniano e Carbonífero, extinguiram-se 70% das espécies;
- 251 milhões de anos: a maior de todas, entre os períodos Permiano e Triássico, extinguiram-se 90% a 96% das espécies;
- 201 milhões de anos: entre os períodos Triássico e Jurássico, extinguiram-se 70% a 75% das espécies;
- 66 milhões de anos: extinção dos dinossauros na transição entre o período Cretáceo e Paleogeno, extinguiram-se 75% das espécies.
Mas
enquanto estas extinções ocorreram por fenómenos naturais, como um
grande aumento do oxigénio, alterações de temperatura e do nível do mar,
atividade vulcânica ou impacto de meteoros, hoje estamos a assistir a
algo bastante diferente.
Aquela
que já é chamada de sexta grande extinção, está a ser provocada pelo
aparecimento de uma única espécie há cerca de 200 mil anos atrás: Homo sapiens.
Pela
primeira vez, surge no planeta um predador que se encontra no topo da
cadeia alimentar, tanto em terra como na água, e que se apodera da
maioria dos recursos naturais para se sustentar e desenvolver.
As
consequências desse domínio sobre as outras espécies, já descritas em
cima, incluem a destruição de habitat, caça, alterações climáticas,
contaminação com doenças, entre outros.
Apesar da nossa atividade já estar a contribuir para a extinção de espécies há milhares de anos, tem sido em particular nos últimos séculos que mais espécies desapareceram às nossas mãos.
Animais como o dodo, a raposa-das-falkland, a quagga, o tigre-da-tasmânia e muitos animais que não aparecem nas notícias, são apenas alguns desses exemplos.
E
como poderá ver nos próximos artigos desta série, animais atuais como o
rinoceronte-negro, o orangotango-de-sumatra, a vaquita, o
pangolim-chinês, o kakapo, o tubarão-anjo, a tartaruga-de-pente ou a
salamandra-gigante-da-china estão a seguir rapidamente o mesmo caminho.
Tigres,
baleias, golfinhos, chimpanzés, pinguins, leopardos, tartarugas e
gorilas também se encontram em perigo e podem juntar-se aos criticamente
ameaçados num futuro próximo. Já imaginou um futuro sem estes animais?
Mas
se a nossa responsabilidade na extinção destas espécies não for motivo
suficiente para as querer salvar, até podemos entrar em motivos
egoístas, uma vez que a extinção de espécies afeta diretamente os seres
humanos.
Por exemplo, e como referimos antes, sem insetos não há polinização e sem polinização não há vida. Não há nós.
Gerardo Ceballos, investigador na National Autonomous University of Mexico e autor de um estudo sobre a sexta extinção em massa, onde é estimado que se estejam a extinguir atualmente 100 vezes mais espécies que o normal, é perentório:
As pessoas julgam que nada de mal vai acontecer por se perderem espécies, porque os cientistas não conseguem prever exatamente quantas precisam de ser extintas para que o mundo colapse. O problema é que o nosso meio ambiente é como um muro de tijolos. Ele vai-se manter de pé se você retirar alguns tijolos, mas eventualmente há um tijolo que o vai derrubar.
Portanto, talvez existam fortes motivos
para tentar reverter a situação atual e salvar todas as espécies
possíveis da extinção. Ainda não é tarde demais, desde que se atue.
Os seres humanos têm de deixar de se ver como um ser especial,
separado do resto da natureza. As perturbações nos ecossistemas, no
clima e no mundo, afetam-nos tal como afetam os outros seres vivos.
Afinal, o planeta é o mesmo e só temos este.
Como ajudar os animais em extinção?
Apesar
de existirem programas específicos para a proteção de determinadas
espécies, que podemos apoiar, existem igualmente ações que podemos
adotar no dia a dia e que fazem a diferença em termos globais.
No nosso artigo sobre alterações climáticas, falamos sobre diversas formas de como ajudar.
Sendo as alterações climáticas uma das principais ameaças que os
animais enfrentam, possivelmente até a maior ameaça que têm pela frente a
longo prazo, todas essas dicas ajudam os animais em extinção, pelo que
são um bom ponto de partida. Leia-as (ou releia-as) nesta ligação.
Outras formas de ajudar incluem:
- Conhecer a fauna local: Informe-se sobre as espécies que vivem perto de si e quais se encontram ameaçadas. A melhor forma de proteger as espécies ameaçadas é protegendo o local onde vivem — contribua para essa proteção.
- Apoio e voluntariado: Apoie com a sua visita e/ou voluntariado os centros de recuperação de vida selvagem, refúgios e parques naturais, onde inúmeras espécies encontram um lugar seguro para viver.
- Responsabilidade pelos seus animais: Mantenha os seus animais de estimação dentro de casa, em particular gatos, para evitar ataques em animais selvagens (como pássaros e roedores). Ao fazê-lo, está também a proteger os seus animais de acidentes e contaminação com doenças.
- Evitar o uso de poluentes: Químicos presentes em herbicidas e pesticidas levam um longo tempo para se degradar e afetam animais particularmente sensíveis como os anfíbios. Além disso, integram-se na cadeia alimentar quando animais predadores se alimentam de animais envenenados, ameaçando diversas espécies.
- Evitar a compra de produtos feitos a partir de animais ameaçados: Apesar da legislação estar cada vez mais apertada em relação ao comércio de animais (ou partes destes) ameaçados, continuam a ser encontrados produtos à venda. Se for de férias para um país onde estes produtos são vendidos, evite comprá-los. Entre eles estão o marfim, carapaças de tartaruga, corais, produtos medicinais tradicionais feitos a partir de rinoceronte, tigres ou ursos, produtos com pele ou pêlo de tigres, ursos-polares, lontras-marinhas, crocodilos, entre outros.
- Evite comprar um animal selvagem maltratado mesmo que a sua intenção seja salvá-lo: o dinheiro com que o compra servirá para os traficantes capturarem mais animais na natureza e continuarem a vendê-los, prolongando o ciclo ad infinitum.
Continua…
Esta é a primeira parte de uma série de artigos que vamos publicar sobre os animais em maior risco de extinção.
Neste
artigo, fizemos uma introdução aos animais em extinção e respondemos a
algumas das perguntas mais frequentes: o que é uma espécie ameaçada,
quantos animais estão em perigo, as principais ameaças que os afetam,
porque os devemos tentar salvar e como o podemos fazer.
Explicamos
conceitos importantes como o que é uma espécie-chave, uma
espécie-bandeira ou uma espécie-guarda-chuva, demos-lhe a conhecer as
categorias pelas quais se classifica o grau de perigo de extinção de
cada animal e detalhamos as consequências que o impacto humano tem na
vida selvagem e respetivos habitats.
Ao longo das próximas
semanas, vamos dar-lhe a conhecer alguns dos animais mais raros do
mundo, as espécies criticamente ameaçadas e cuja existência está no
limite. O próximo artigo será sobre os mamíferos, aos quais se seguirão
as aves, os peixes, os répteis, os anfíbios e os invertebrados.
Sobre
cada um destes animais, vamos procurar fornecer-lhe todas as
informações relevantes: não apenas os motivos que estão os estão a
conduzir à extinção, mas também os projetos e as organizações que estão a
tentar salvá-los e o que você poderá fazer para ajudar.
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