No terceiro país mais desigual da América Latina, 5% mais ricos do país detêm a mesma fatia de renda que os demais 95% da população, aponta relatório da Oxfam. Segundo ONG, negros só verão igualdade salarial em 70 anos
(Foto: Agência DW)
eis bilionários brasileiros concentram riqueza equivalente ao patrimônio da metade mais pobre da população do país, ou seja, mais de 100 milhões de pessoas, aponta o estudo A distância que nos une – Um retrato das desigualdades brasileiras, publicado pela ONG Oxfam Brasil nesta segunda-feira (25/09).
Se gastassem 1 milhão de reais por dia, juntos, esses seis magnatas (três executivos da multinacional de bebidas AB Inbev, e outros três do Banco Safra, Facebook e Grupo Votorantim, respectivamente) levariam 36 anos para esgotar o equivalente ao seu patrimônio, diz a publicação.
Além disso, os 5% mais ricos do país detêm a mesma fatia de renda que os demais 95% da população. Quem recebe o salário mínimo de 937 reais teria que trabalhar 19 anos para obter o equivalente ao rendimento mensal de um dos super-ricos.
Ao situar o Brasil no cenário global, em que "o 1% mais rico [...] possui a mesma riqueza que os outros 99%, o documento ressalta que “a desigualdade e a pobreza não são inevitáveis”. “São, antes de mais nada, produtos de escolhas políticas injustas que refletem a desigual distribuição de poder nas sociedades", diz o texto da ONG caritativa britânica que se instalou no país em 1968.
O estudo da Oxfam Brasil igualmente denuncia desníveis sociais relativos a gênero e raça: mantendo-se a tendência dos últimos 20 anos, a equiparação salarial entre homens e mulheres só será alcançada 2047. Os negros, por sua vez, só terão salários equivalentes aos dos brancos daqui a mais de 70 anos, em 2089.
Combate à pobreza x desigualdade
O estudo aponta que programas sociais são mais importantes no combate à pobreza do que às desigualdades. “O Programa Bolsa Família, por exemplo, cresceu em importância nos últimos 15 anos [...] É um recurso que sustenta cerca de 20% da renda dos 10% mais pobres, portanto é fundamental para a redução da pobreza no país.”
A Oxfam destaca o custo do Bolsa Família representa 0,5% do PIB, "muito baixo comparativamente a outros programas”. “Contudo, dado que o benefício distribuído por família é relativamente baixo, ele não deve ser visto como uma solução para a redução das desigualdades de renda no Brasil”, pondera.
Em 2017 o Brasil caiu 19 posições no ranking de desigualdade social da Organização das Nações Unidas, figurando entre os dez Estados mais desiguais do mundo e o terceiro da América Latina, atrás apenas de Colômbia e Honduras. Para reduzir sua desigualdade ao nível do Chile, por exemplo, o Brasil levaria três anos, 11 para alcançar o México, 31 a Argentina, e 35 anos o Uruguai.
Para contribuir com o combate à desigualdade, a Oxfam aponta que o poder público deve propor mudanças no sistema tributário e assegurar políticas educacionais inclusivas, entre outras medidas.
As empresas, por sua vez, "devem cumprir suas obrigações legais de pagar impostos, promover a inclusão social em seu próprio ambiente de trabalho, formalizando a mão de obra contratada e os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras".
Por fim, os cidadãos devem acompanhar e cobrar mudanças de políticas e práticas de governos e empresas. "Temos responsabilidade por quem elegemos", conclui o relatório.
AV/ots
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