Número de mulheres assassinadas triplica no Ceará.

Nos primeiros 100 dias deste ano, foram registrados 149 homicídios com vítimas mulheres no Estado. No mesmo período em 2017, foram 50 casos
ESTUDANTES fecharam a avenida Washington Soares em protesto ontem FOTOS ESTER CORREA/ ESPECIAL PARA O POVO

O número de mulheres assassinadas no Ceará em 2018 é três vezes maior que o ano anterior. Nos primeiros 100 dias deste ano (até 10/4), 149 pessoas do gênero feminino foram vítimas de homicídio.

Um significativo aumento comparando-se com os 50 casos registrados no mesmo período em 2017. E esses números alarmantes não param de crescer. A morte da estudante de Direito Cecília Moura na última quinta-feira, 12, foi mais uma nessas estatísticas.

Sem falar do aumento de 73% entre 2016 e 2017, quando o número de casos de mulheres assassinadas passou de 210 para 364. Esses aumentos se dão em um contexto de segurança pública no Ceará que atinge recordes de homicídios (5.133 em 2017 e mais 1.400 apenas neste ano) e fortalecimento das facções criminosas. Tais organizações têm um óbvio peso significativo no aumento de assassinatos.

O que não significa dizer que todas as mortes estejam ligadas à disputas de facções. Como no caso da própria morte de Cecília, na qual a Polícia Civil trabalha como principal linha de investigação homicídio por tentativa de roubo (latrocínio).

Sobre o assunto

Para Hayeska Costa Barroso, pesquisadora do Observatório da Violência contra a Mulher (Observem) e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o caso da estudante de Direito é símbolo de relações sociais enraizadas e estabelecidas de como a mulher é vista na sociedade.

“Ela (Cecília) estava dirigindo um carro e foi alvo de uma violência urbana que acontece com todos. É inegável, que quando a vítima é mulher, há uma certa crença de que não haverá resistência e a gente vê a questão do gênero. Há uma compreensão de que ela é medrosa, que não vai reagir. A mulher se torna alvo prioritário porque é um sujeito que vivenciou historicamente a violência”, aponta. A pesquisadora aponta que as questões de gênero condicionam o modo como todos (mulheres e homens) vivem o cotidiano. “Só quem é mulher sabe como é viver com esse medo. Todo dia é resistência. São criadas estratégias de defesa cotidiana, como entrar em um Uber e fingir estar conversando com alguém para não correr risco de ser assediada”, exemplifica. Para Hayeska, não é possível fazer uma relação direta entre aumento do número de mulheres mortas com o da violência causada pelas facções no Ceará.

“A gente tem um aumento não só no número de vítimas mulheres, mas no geral. Embora haja um crescimento de mulheres ligadas ao tráfico e maior encarceramento feminino. Ainda que tenhamos mulheres com envolvimento, elas também são vítimas nos processos de opressão e relações de poder estabelecidas”, complementa a pesquisadora.

Luiz Fábio Paiva, sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), ressalta o impacto do gênero na crueldade presente nos casos em que mulheres têm suas mortes ‘decretadas’ por facções. Em muitos casos, em decorrência de ser suspeita de ser simpatizante, informante, paquera ou namorada de um inimigo.

“Observa-se que elas interagem com esses grupos, aderindo a eles e encarnando seus símbolos. Como são coletivos no qual os homens lideram, eles exercem sobre as mulheres um controle perverso, restringindo, entre outras coisas, suas relações, afetos e sexualidades. Em muitos casos, como é possível ver pela Internet, essa morte ocorre depois de sinistros rituais de tortura”, afirma. (colaborou Ester Correa/Especial para O POVO) 

APELO AO GOVERNO

Após o bloqueio na avenida Washington Soares, estudantes se reuniram para fazer um apelo ao Governo em relação à segurança pública e pedir Justiça."Senhor governador estamos com medo” 

O momento é de solidariedade, mas também de chamar atenção para a violência no Ceará”

Hiago Marques, Secretário do Centro Acadêmico de Direito da Unifor 

JOÃO MARCELO SENA
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Sobre jaguarverdade

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