Cenário. O Brasil que Temer recebe do PT

A interrupção dos 13 anos de gestão do PT abre um debate sobre os desafios que a herança deixada impõem a Michel Temer

VALTER CAMPANATO/ABR
Michel Temer, no exercício da presidência administra os efeitos de 13 anos de PT no poder

O Partido dos Trabalhadores entrega um Brasil diferente do que recebeu há treze anos. Com êxitos e fracassos, o grupo político que governou o País por tantos anos deixa nas mãos do PMDB uma Nação menos desigual, porém com a situação econômica crítica.

O presidente em exercício Michel Temer (PMDB) tem adotado um discurso de que manterá programas sociais que foram vitrines dos governos petistas. O desafio agora é conseguir manter todos os investimentos educacionais, como Prouni, Fies, Pronatec, e sociais, como Minha Casa Minha Vida, com pouco dinheiro no caixa.

Enfrentando uma grave crise econômica, o peemedebista sinalizou que deverá enxugar a máquina pública. Anunciou, na última sexta-feira, 13, o corte de cerca de quatro mil cargos comissionados, além de já ter reduzido o número de ministérios – apesar de a ação mais parecer gesto simbólico do que de economia de gastos.

Assumindo o governo em 2003, com o ex-presidente Lula, o PT conseguiu reduzir as desigualdades sociais, combateu a miséria como uma das políticas prioritárias e melhorou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da população brasileira. Obras e programas instaurados nas gestões do partido geraram reconhecimento internacional, como o Bolsa Família – política de transferência de renda para combater a miséria.

Na educação, as principais marcas foram as construções de universidades federais, a criação do Prouni e do Pronatec, além do aperfeiçoamento do Fies. Na habitação, ainda no governo Lula, implementou-se o Minha Casa Minha Vida, com foco na classe média baixa. A transposição do Rio São Francisco, a Ferrovia Transnordestina e a Usina Hidrelétrica de Belo Monte – ainda em construção – completam o maior legado do partido nesse período.

Apesar da base social conquistada com a implementação dos programas, o governo recebeu muitas críticas em relação à política econômica, crescendo menos de 3% em média anual. O resultado, porém, é melhor que o governo Fernando Henrique Cardoso, que cresceu 2,5% nos oito anos.

O Brasil que Temer recebe das mãos do PT, apesar de programas exitosos, é um País com crescente desemprego. O último número divulgado pelo IBGE aponta cerca de 11% de desempregados, mais de dez milhões de pessoas. O Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos tem atingido índices negativos, e históricos. A inflação em alta é mais um problema que o peemedebista enfrentará pela frente.

Parlamento
Ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, o deputado federal Patrus Ananias (PT-MG), coloca em xeque a possibilidade da manutenção dos programas sociais implementados pelo seu partido. “A todos os que foram beneficiados pelos programas que marcaram o Brasil, especialmente os mais pobres e a classe média, o golpe foi dado contra essas políticas. Porque os mais ricos querem para eles o dinheiro que foi destinado aos mais pobres”, ressalta.

O senador Eunício Oliveira (PMDB), que votou favoravelmente ao impeachment, afirma que o País deixado pelo PT está “difícil do ponto de vista da economia”. “Há uma perda imensa no nível de empregos do Brasil inteiro, uma inflação mantida num patamar elevado e principalmente a descrença da maioria da população”.

O deputado Chico Alencar (Psol-SP), diz que o PMDB - para se proteger -, deverá manter os programas. “O PMDB é um partido que sabe muito bem aquilo que pode miná-lo. Como os programas assistenciais eu creio que eles vão ser mantidos, gerariam uma reação muito grande”, diz. 


(Colaborou Letícia Alves)
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