Sou neto e filho de Agricultor, por isso não posso negar minhas raízes. Desde pequeno, cresci às margens do Rio Jaguaribe. Conhecido por alguns como o maior Rio seco do mundo, o Velho Jaguaribe que tem sua nascente na cidade de Tauá, desagua para o mar na divisa das cidades de Fortim e Aracati. Fonte de riqueza nas Regiões do Alto, Médio e Baixo Jaguaribe, o que era pra ser um simples afluente, se tornou um verdadeiro pai de família, levando fartura à mesa de milhões de Cearenses.
Pelo pouco que eu sei da história
do velho Jaguaribe, na década de 6o, com a construção do Açude do Orós, o rio
passou de seco para perenizado. Essa mudança garantia a sobrevivência das
famílias que viviam as margens do rio, proporcionando alternativas aos
agricultores, no período do verão, plantarem as famosas vazantes. Lembro-me
ainda quando meu pai e meu tio faziam essas plantações. Feijão, Batatas e
verduras, recheavam a mesa da nossa família que juntamente com as variedades de
peixes, nos trazia a certeza de que as dificuldades seriam amenizadas pelo velho
Rio Jaguaribe, um verdadeiro Pai.
Veio o início do século XXI e com
ele a construção do maior reservatório do Estado do Ceará. Concretizava-se no
final do ano 2003 o sonho de décadas, pois neste ano foi anunciado o fim das
obras do Castanhão. Os homens que os
fizeram, deram um prazo de 10 anos para que o mesmo ficasse com sua capacidade
de armazenamento, pouco mais de sete bilhões de metros ao quadrado de água. Só
que o pensamento do homem, não foi combinado com o de Deus.
Passado 2003, chegando 2004 o ano
foi muito chuvoso. Apenas trinta dias de chuvas fortes nas cabeceiras do Castanhão,
fizeram com que suas comportas fossem abertas e o nosso Velho Jaguaribe
começasse a inundar as margens adentrando nas cidades do vale. Naquele momento,
se para uns a retirada de suas casas trazia desconforto e um pouco de tristeza,
por outro lado, a certeza de que mais na frente, a fartura era certa, assim
como foi, os enchia de alegria e esperança.
De 2004 até 2009 os anos nos trazia certa normalidade no período chuvoso. Isso fazia com que toda região banhada pelo Rio Jaguaribe, tivesse progresso e desenvolvimento. Passado esse período, se iniciou uma temporada de anos conturbados no período de chuvas. A inconsistência dos períodos chuvosos fazia com que dia após dia o maior reservatório de água do Ceará, começasse a reduzir seu volume. Não resta dúvida que isso começou a preocupar as autoridades, porém poucos fizeram para evitar o colapso.
Os investimentos em medidas
alternativas pararam no tempo. No período chuvoso, milhões e milhões de m³ de
água passavam no leito do nosso rio e desaguava para o mar e nada foi feito. Olhava-se
para o Castanhão e ao ver aquele verdadeiro mar de água, achava-se que nunca
secaria e consequentemente nosso velho Jaguaribe não morreria. Negativo, por
mais que pareça que não, o pior aconteceu. O Castanhão quase já secou e o nosso
velho Jaguaribe, decididamente, morreu.
Não queria hoje está aqui contando essa triste história, mas infelizmente a realidade tem que ser mostrada. O homem, o maior responsável por essa tragédia, está pagando o preço do descaso e de suas ações erradas. Podemos até achar que o que passou não tem mais volta, mas se olharmos para o futuro, ainda dá tempo de se fazer alguma coisa.
Por mais que alguém ache que estou exagerando ao dizer que estamos de luto pela morte do Velho Jaguaribe, eu continuarei com meu pensamento. Torço que, no futuro, vejamos ainda correr muita água no leito desse Rio e que ele, assim como a ave PHOENIX, que ressurge das cinza, possa nos dá essa alegria de um dia poder vê-lo novamente vivo.
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