No início era apenas um menino igual aos demais. Aos poucos
foi crescendo e com seu crescimento mudava-se o comportamento e suas atitudes.
Sem querer brincar com os demais colegas da mesma idade e sempre recatado, aos poucos ia
mostrando sua vocação com os insetos. Tinha apenas oito anos, mais ou menos,
quando pela primeira vez se utilizou de seus amiguinhos, como assim sempre chamou
pra se alimentar de um deles. A princípio, pensava-se que fosse apenas
curiosidade de criança, mas não.
O tempo foi passando e aquele gosto de comer insetos ia
aumentando a cada dia, até que então, entravam na sua vida as serpentes. Em
nossa região, dentre todas elas, desde as venenosas ou não, ele não abria mão.
Com seu faro aguçado e com seu instinto que nem a ciência soube explicar, saia
na direção da Chica (nome que ele dava as cobras) bastava sentir o cheiro. Dizia até onde se
localizava a serpente e se fosse alguém com ele, era só pra confirmar a
veracidade da sua informação. Quando via sua amiga, a mesma fica imobilizada e
ele simplesmente a pegava carinhosamente.
Tratava suas amiguinhas com muito carinho, quando muitas
vezes era picado o remédio era chupar o sangue e como castigo pela serpente ter
feito isso com ele, arrancava-lhe a cabeça com uma mordida e dali pra frente,
aquele amigo das cobras, se tornava no verdadeiro predador delas. Jararaca,
cobra coral, cascavel, essas altamente venenosas e também as não venenosas,
todas ele a domesticava. Parecia coisa de cinema, ao passar as mãos em cima
delas, ficavam quietas. (relatos visto por quem subscreve este artigo).
Estou falando de Sardanha, o homem que nunca deixou de ser
menino, a eterna criança que aos oito anos de idade, segundo informações,
descobriu o dom que tinha pelos insetos e junto com ele se adaptou a uma vida
que para muitos poderia ser considerada sub-humana, mas para ele, era o seu verdadeiro
mundo. Nunca fez mal a ninguém, mas foi sempre motivo de medo das crianças,
pois na hora de colocarem os filhos para dormir, as mães sempre diziam:
"Durmam se não eu chamo o Sardanha". Quem não lembra disso? Para as
crianças era apavorante.
Se os amigos me perguntarem quem foi sua mãe ou seu pai e
qual seu nome de origem, acredite, não saberei responder. Da sua família
conheço apenas um irmão e alguns sobrinhos, mas a grande verdade é que Sardanha
tem o carinho e o respeito de todo o povo de Jaguaruana. Uma pessoa querida e
admirada que mesmo vivendo em um mundo não humano, soube até hoje, viver de uma
forma digna sem fazer nenhum mal a ninguém. Pra mim ele representa uma
verdadeira lenda, ainda, viva de Jaguaruana.
Os relatos feitos aqui, nada mais é que a pura verdade.
Sardanha hoje já está debilitado, notamos isso nas últimas aparições como essa
de hoje, mesmo assim, ele não perde o encanto e a simpatia do povo. Ao convidar
hoje pela manhã para tirar uma foto, o mesmo logo pergunta: "Quando é que
eu recebo minha foto?". Uma verdadeira criança, querido por todos onde
passa, mas que assim como todos nós, caminha passo a passo, dia após dia, para
o encontro do Pai.
Pra quem quiser conhecer a história desse homem, ainda há
tempo. Venha a Jaguaruana, no bairro Tabuleiro, é lá que ele fica. Lembremos
que homenagem boa é aquela que podemos fazer ainda em vida, mesmo sabendo que
ele não vai diferenciar, mas o povo vai ver. Obrigado amigo Sardanha por me dá
o prazer de registrar mais esse momento com: "É MEU AMIGO NÉ?" como
você costuma dizer.
Linda a matéria! E parabenizo o autor, em especial nosso presente e eterno Sardanha! Sou de Aracati e jamais um aracatiense que teve a oportunidade de vivenciar os passos dessa figura popular será capaz de apagar da memória, seu jeito, sua fisionomia, suas frases e a contribuição no enriquecimento de nossa historia/memória. A história dessa eterna criança é mas do que merecido esta em uma... linda obra literária, é história de vida, um filme real. Que Deus e a natureza na sua profunda sabedoria sempre o proteja, e que o Vale Jaguaribano seja infinitamente SARDANHA!
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