Nos círculos diplomáticos do mundo, as dificuldades
orçamentárias enfrentadas pelo Brasil são bem conhecidas: calotes em
organismos multilaterais, atrasos nos benefícios de funcionários e
diminuição drástica na participação em negociações internacionais. A
imagem do Brasil hoje é de país desgovernado —ladeira abaixo—, que, só
no ano passado, perdeu 3,8% do PIB.
Nesse quadro, pergunto-me o que pensarão os delegados à próxima
sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher da ONU, quando virem que o
Brasil vai mandar 13 pessoas para participarem da reunião, que acontece
em Nova York entre 14 e 24 de março.
Se não for a maior, a delegação do Brasil será das maiores. Em
linguagem diplomática, uma delegação numerosa denotaria a importância
política que nosso governo dedica ao tema. No entanto, a Ministra das
Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Gomes, que
chefiaria e, justamente, daria peso político à super delegação, cancelou
sua participação no evento.
Para representá-la, designou a Secretária de Políticas do Trabalho e
Autonomia Econômica, Maria do Carmo Delgado. A delegação inclui também a
ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire,
as senadoras Angela Portela (PT/RR) e Lidice da Matta (PSB/BA), a
Deputada Federal Laura Carneiro (PMDB/RJ), as secretárias de políticas
para as mulheres do Estado da Bahia e do município do Rio de Janeiro,
além de assessores e representante de ONG.
Poucos temas são tão importantes e merecem tanta atenção quanto a
situação das mulheres no mundo, e é ótimo que o Brasil dê importância e
demonstre comprometimento diplomático com a questão. Nós, brasileir@s,
agradecemos. No entanto, uma delegação de 13 pessoas —além dos
diplomatas do Brasil que já acompanham o tema na ONU— é gente em excesso
para tempos de penúria.
É importante que os quadros do governo brasileiro adquiram
experiência internacional, mas, nesse processo, dever haver coordenação
entre os diferentes órgãos governamentais. Enquanto 13 pessoas são
designadas para participar de uma mesma reunião em Nova York, deixamos
de acompanhar reuniões do Mercosul em Assunção ou Montevidéu por falta
de recursos para mandar representantes.
Delegação de 13 pessoas para a mesma reunião em Manhattan cheira a
trem da alegria. Não pega bem para um país em crise. É a mesma coisa
quando a presidente Dilma vai para NY e se hospeda no Hotel Saint Regis,
onde uma suite média —não a presidencial onde a presidente fica— sai
pela bagatela de 17 mil reais a noite.. Não tem nada mais cafona que
caloteiro ostentação.
Para o que importa de verdade neste caso, que é o avanço da situação
da mulher no mundo, o mais importante e efetivo seria que o Brasil
demonstrasse para todos os membros das Nações Unidas seu comprometimento
no mais alto nível, e que sua mais alta autoridade sobre o tema, a
ministra Nilma Gomes, se fizesse presente na reunião e emprestasse seu
peso político às decisões do grupo. Era o que o Brasil deveria fazer.
Mas a ocupadíssima agenda da ministra não permitiu. Para a reunião em
Nova York, mandaremos 13 pessoas —menos a que importava. Não seria hora
de extravagâncias, mas os fatos são os fatos —e Nova York é muito bom,
né, presidente?
Alexandre Vital Porto é escritor e diplomata. Mestre em Direito por Harvard.
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