As manifestações em defesa do governo Dilma e do ministro Lula
foram o último suspiro da era PT; manchada com a avalanche de escândalos
e ferida de morte com o envolvimento de sua principal liderança, o
ex-presidente Lula.
Desde a última quinta-feira, quando foi eleita e instalada a comissão
de impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados, o clima em Brasília é
de enterro. Muito diferente daquele nas redes sociais e no noticiário;
que mostra um “embate”, como se existissem de fato dois lados na briga.
Infelizmente para aqueles que acham que Justiça, Ministério Público,
oposição, imprensa, OAB, Ajufe, Amab etc etc, estão equivocados, a
discussão vai se restringir ao Facebook. No mundo real, a batalha
acabou.
Pelas próximas três semanas os deputados da comissão que deve aprovar
o impeachment de Dilma serão os mais poderosos da República, acéfala
desde o agravamento das acusações de corrupção e a entrada não-oficial
de Lula no governo. O poder então seguirá para o Senado, que também deve
aprovar o processo antes do fim de abril. PMDB e PSDB já realizam
reuniões com frequência, dividindo espólios do futuro governo Michel
Temer. É uma questão de tempo para partidos menores se alinharem à nova
ordem política. E novidade é simples: há ordem.
O “problema” dos poderosos, pra variar, é a Lava Jato. E o medo do
próximo governo, vida curta. Uma possibilidade discutida em Brasília é o
impeachment de Dilma e a queda do vice-presidente Michel Temer também
por eventual impeachment ou pela cassação do registro de candidatura
pela Justiça Eleitoral. A firmeza no novo governo é, na melhor das
hipóteses, frágil.
Já a operação Lava Jato, mesmo em um novo governo, sob um novo
ministro da Justiça, será a “instituição” mais bem avaliada da estrutura
federal. A única com a confiança e o respaldo popular. Será impossível
sufoca-la. Por isso os poderosos de sempre buscam garantias uns com os
outros para se safar das garras da operação mais famosa do Brasil. Sem
utilidade. Não há influência ou jogo de sombras que impeça o trabalho da
PF, MPF e Justiça Federal, especialmente após o fim do governo DIlma.
Acusar a Justiça e a PF de abusos é a estratégia da vez, num intuito
parecido com aquele aplicado pela máfia e seus apaniguados na Itália
pós-operação Mãos Limpas. Lá, nos anos 90, essa estratégia resultou num
esforço institucional do parlamento e do executivo para restringir
investigações e garantir sigilos “inquebráveis” às autoridades altas do
país europeu. E funcionou. Apesar das centenas de processos e
indiciamentos, a “Mani Pulite” teve fim quase melancólico; juízes
responsáveis como Antonio di Pietro responderam a mais de 500 ações na
Justiça, tiveram poderes de investigação cassados ou reduzidos.
Os membros da Lava Jato sabem disso e estão preparados.
Mas isso é assunto para o novo governo.
Tiago de Vasconcelos é jornalista, Diretor de Redação do Diário do Poder e professor no Ibmec Brasília.
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