Organização do esquema instalado na empreiteira impressiona: havia até mesmo um sistema de intranet dedicado a operações criminosas, segundo a PF
As
investigações da 26ª fase da Lava Jato, batizada de Operação Xepa,
escancaram o organizado sistema de pagamento de propina instalado na
Odebrecht: a empreiteira contava com um departamento exclusivo para
pagamentos ilícitos, o Setor de Operações Estruturadas. Em depoimento
prestado em acordo de delação premiada, a secretária Maria Lúcia Tavares
revelou, inclusive, que todos os pagamentos paralelos deviam constar no
sistema MyWebDay, uma espécie de 'intranet da propina' da Odebrecht. O
sistema era de tal maneira organizado que altos executivos da empresa
eram os responsáveis por liberar os pagamentos ilícitos.
Diz relatório da Polícia Federal: "No contexto do processo de
solicitação e deferimento de disponibilização de valores para pagamento
de vantagens indevidas, chama a atenção que as requisições planilhadas e
aquelas constantes do sistema informatizado são sempre caracterizadas
por três dados importantes: a obra, o responsável/DS (Diretor
Superintendente) e o beneficiário/codinome". Segundo as investigações, o
processo se dava da seguinte forma: os diretores superintendentes
recebiam as demandas de seus subordinados (os diretores de contrato) e
as encaminhavam aos executivos da empreiteira. "Como se vê, o pagamento
de vantagem indevida no âmbito do grupo Odebrecht se encontra
devidamente 'normatizado' e observa, em última análise, ao sistema de
gestão implementado no conglomerado empresarial", descreve a PF.
"Era uma estrutura profissional de pagamento de propina dentro da
Odebrecht e que não se limita a casos esporádicos. Eram pagamentos
sistemáticos", resumiu a procuradora Laura Gonçalves Tessler. Além de
propinas em empreendimentos ligados à Petrobras, há indícios de
pagamento de propina pela Odebrecht também nas áreas de óleo e gás,
ambiental, infraestrutura e em estádios de futebol, por exemplo.
O departamento da propina era composto, além de Maria Lúcia, de
Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, superior hierárquico da
secretária, e também de Ângela Palmeira Ferreira, Alyne Nascimento
Borazo e Audenira Jesus Bezerra. As duas últimas davam apoio a Fernando
Migliaccio da Silva, Luiz Eduardo da Rocha Soares e Hilberto Silva.
Outros executivos de alto escalão também integravam o sistema -
incluindo o herdeiro Marcelo Odebrecht, ele próprio responsável por
liberar diretamente a propina ao marqueteiro do PT João Santana.
Os investigadores apreenderam inúmeras planilhas e telas que indicam
um sistema informatizado de propina no qual os pagamentos e seus
destinatários são ocultados por codinomes e senhas, sempre relacionado a
altos valores, tanto em reais quanto em dólares e euros. "A menção a
'lançamentos', 'saldos', 'liquidação' e 'obras' não deixa qualquer
margem para interpretação diversa: trata-se de contabilidade paralela,
destinada a embasar pagamentos de vantagens indevidas pelo grupo", diz
relatório da PF. O sistema eletrônico contava até mesmo com um balanço
de todas as contas paralelas geridas pelo Setor de Operações
Estruturadas.
Apenas uma dessas contas registrava o saldo de 65 milhões de reais em
novembro de 2015. Tais contas eram também abastecidas com dinheiro de
contas da Odebrecht no exterior. " O conjunto do material permite
inferir que se tratam, em sua maioria, de valores empregados para
entregas de dinheiro em espécie em locais predeterminados, a mando de
executivos da Odebrecht com o apoio da equipe do Setor de Operações
Estruturadas", diz a PF.
Além do MyWebDay, a Odebrecht contava com o sistema Drousys, que
tornava mais segura a comunicação do departamento. Todos os pedidos de
entrega de dinheiro trafegavam por esse sistema. Todos os usuários
possuíam um login próprio, que escondia sua identidade. Migliaccio, por
exemplo, era Waterloo, e Maria Lúcia, Túlia. Os operadores financeiros
também possuíam logins próprios. Também salienta a PF: "Em algum momento
em 2015, o sistema foi terminado, em clara tentativa de destruir
evidências relativas aos ilícitos perpetrados pelo Setor de Operações
Estruturadas".
Fonte: Veja
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