Primeiro foi a febre amarela, que matou milhares de brasileiros em
epidemias no passado. Depois foi a dengue, que só em 2015 afetou mais de
1,5 milhão de pessoas no país. Recentemente, duas outras doenças se
uniram à lista: chikungunya e zika.
Todas são transmitidas pelo mesmo vetor: o Aedes aegypti. Mas por que esse mosquito se tornou uma ameaça tão grande? Por que ele é tão eficiente como transmissor de doenças?
Segundo especialistas, parte disso tem a ver com o próprio processo
evolutivo, no qual os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela
se adaptaram bem ao organismo do Aedes aegypti e vice-versa.
Essa espécie de mosquito se tornou muito suscetível a eles, ou seja, seu
organismo oferece as condições adequadas para que eles se instalem.
“É o que chamamos de coevolução de vírus e mosquito. Eles vão se
adaptando um ao outro. O inseto infectado tem que ter condições as
apropriadas. Depende do número de partículas virais, se ele tem o
receptor certo, se se multiplica bem, se o sistema imune dele combate um
vírus, mas não outro etc.”, enumera Margareth Capurro, professora do
Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo (USP).
Mas há outros fatores que tornam o Aedes aegypti mais perigoso, disseminado e difícil de ser erradicado. Veja sete deles.
1- Convivência com o homem
O Aedes aegypti se acostumou a viver perto do homem. Ele se prolifera em áreas urbanas, especialmente naquelas com grande densidade populacional, ou seja, muita gente vivendo em pouco espaço.
O Aedes aegypti se acostumou a viver perto do homem. Ele se prolifera em áreas urbanas, especialmente naquelas com grande densidade populacional, ou seja, muita gente vivendo em pouco espaço.
Também são insetos domiciliados, que preferem viver em ambientes
internos, como o interior de casas e outras construções. Com isso,
convivem ainda mais de perto com os seres humanos, ao mesmo tempo em que
ficam protegidos das condições climáticas, o que favorece sua
sobrevivência.
O Aedes aegypti tem preferência pelo sangue de mamíferos,
especialmente o de seres humanos. Mesmo na presença de outros animais, é
o homem que ele vai preferir picar.
“É a chamada antropofilia. Pode ter um monte de gatos e um ser humano
em um ambiente, por exemplo. Ele vai picar o ser humano”, diz Marcos
Takashi Obara, epidemiologista da Universidade de Brasília (UnB).
Somente a fêmea do mosquito se alimenta de sangue, porque precisa dele
para amadurecer seus ovos. Uma vez infectada, ela carrega o vírus para o
resto da vida e pode transmiti-lo para várias pessoas.
Aliás, é o que ela costuma fazer, inclusive em um curto espaço de
tempo: após sugar o sangue de uma pessoa, ela pode picar outras pessoas
no mesmo ambiente até ficar satisfeita. É por isso que é comum que
várias pessoas da mesma família contraiam dengue, por exemplo, explica
Margareth Capurro, da USP.
“O Aedes é um mosquito que se assusta facilmente. Se alguém
mexe, ele pode sair fora, mas se ele não estiver satisfeito, ele vai
voltar e picar outras pessoas até encher o trato digestivo. Se estiver
contaminado, vai infectar mais gente”, explica.
3- Picada indolor
O Aedes aegypti tem um anestésico na saliva, o que dificulta que a pessoa perceba quando está sendo picada. “No início, geralmente, você não percebe. Depois, quando você mata o inseto e ele explode, cheio de sangue, você vê que ele já picou”, afirma Margareth Capurro, da USP.
4- Alimentação de dia e à noite
Diferentemente de outros mosquitos, que só picam durante o dia ou durante a noite, o Aedes aegypti
pode se alimentar nos dois períodos. Na verdade, ele tem hábitos
diurnos, mas com a presença de luz artificial, pode picar à noite
também.
5- Variabilidade genética
Uma pesquisa recente do Instituto Butantan mostrou que o Aedes aegypti possui patrimônio genético muito rico e variável. Isso significa que eles têm um grande potencial para evoluir rapidamente e adaptar-se às adversidades.
Uma pesquisa recente do Instituto Butantan mostrou que o Aedes aegypti possui patrimônio genético muito rico e variável. Isso significa que eles têm um grande potencial para evoluir rapidamente e adaptar-se às adversidades.
6- Múltiplos ovos
Cada fêmea de Aedes é capaz de botar até 100 ovos de uma vez, e ela faz isso a cada cinco dias – o tempo de vida médio de um mosquito é em torno de 40 dias em laboratório e 20 na natureza.
Cada fêmea de Aedes é capaz de botar até 100 ovos de uma vez, e ela faz isso a cada cinco dias – o tempo de vida médio de um mosquito é em torno de 40 dias em laboratório e 20 na natureza.
Outro agravante é que os ovos são distribuídos por diversos criadouros,
o que aumenta a chance de sobrevivência e ajuda na dispersão da
espécie.
Além disso, a fêmea contaminada tem a capacidade de transmitir os vírus
aos ovos, ou seja, os mosquitos já nascem infectados. Isso multiplica
as chances de propagação.
7- Múltiplos criadouros
A grande quantidade de criadouros é outro fator que favorece a propagação do Aedes.
De caixas d’água a vasos de plantas, de pneus a tampinhas de garrafa,
qualquer lugar com água parada pode servir para a fêmea botar os ovos.
Por isso, é tão importante eliminar ou fechar o acesso a esses
recipientes.
Marcos Takashi Obara, da UnB, lembra que a industrialização des centros
urbanos aumentou ao longo dos últimos anos. “Hoje tem muito mais
objetos de plástico, garrafas PET. Muitos desses materiais têm como
destino as ruas, rodovias, terrenos baldios.”
Mas nem a falta de água consegue barrar a reprodução do mosquito. Os ovos do Aedes têm
a capacidade de sobreviver em recipientes secos por até um ano. Eles
ficam adormecidos e basta terem contato com um pouco de água para
eclodir. Então, não basta evitar de deixar água parada dos recipientes.
Recomenda-se também limpar bem suas paredes.
De acordo com o Centro para a Prevenção de Doenças dos Estados Unidos,
se forem eliminadas todas as larvas, pupas e adultos de um lugar, a
população do mosquito pode se recuperar em apenas duas semanas, graças
aos ovos. Assim que eles têm contato com água, continuam a se
desenvolver.
Fonte: http://g1.globo.com/bemestar
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