Em acordo de delação premiada, o executivo da Engevix José Antunes Sobrinho revela ter pago R$ 239 mil a um intermediário para que o apresentasse a Carlos Araújo, que foi casado com a presidente
Por: DANIEL HAIDAR, ANA CLARA COSTA E DIEGO ESCOSTEGUY
Em janeiro deste ano, ÉPOCA revelou como o empreiteiro José Antunes Sobrinho, da Engevix, articulou encontros com o advogado Carlos Franklin Paixão Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff,
com o objetivo de solucionar problemas em sua empresa entre os anos de
2013 e 2014. ÉPOCA conversara com dois intermediadores que confirmaram
os arranjos para o contato com Araújo: o diretor da Desenvix e
ex-vice-presidente da Engevix, Paulo Roberto Zuch, e um amigo de longa
data do ex-casal, Nilton Belsarena. Ou Nilton ‘Negão’, para os mais
íntimos. A reportagem revelou ainda que, logo após os encontros, Zuch
realizou uma transferência de R$ 200 mil para a Ribas & Ribas,
empresa controlada Nilton Belsarena e sua esposa, Eunice Ribas. Um mês
depois da transação financeira, Zuch recebeu o mesmo valor da Enerbio,
fornecedora da Engevix. À época, ambos negaram que o dinheiro havia sido
uma espécie de bonificação pelos encontros promovidos pela dupla entre
Antunes e Araújo. A delação de Antunes, obtida com exclusividade por
ÉPOCA, e que está com os integrantes da Força Tarefa da Lava Jato, esclarece a origem e o destino dos valores.
Em sua delação, Antunes revela ter, sim, repassado R$ 239 mil a Nilton,
por meio de Zuch. Segundo o documento entregue aos procuradores, o
empreiteiro diz que Araújo jamais cobrou valores diretamente do delator.
Antunes também levantou uma dúvida: disse não saber se Nilton se
utilizava de Araújo para enriquecer ou se trabalhava como um operador do
ex-marido de Dilma.
Os encontros aconteceram, conforme revelou ÉPOCA, em períodos em que a
Engevix enfrentava dificuldades. Na primeira vez, em 2013, o assunto
tratado eram os Aeroportos de Brasília e São Gonçalo do Amarante,
concedidos a um consórcio liderado pela empreiteira, em parceria com a
argentina Corporación América. Antunes confirmou, no documento, que
recebeu recados do Palácio do Planalto que denotavam a insatisfação da
presidente com as obras. Pensou que isso pudesse fazê-lo perder as
concessões e recorreu a Araújo por ajuda. Ainda segundo o delator, os
prazos para a entrega das obras terminaram sendo cumpridos e as tensões
com o Planalto recuaram. Antunes assim descreve: “Sendo que não houve
mais recados do Palácio do Planalto, e o colaborador entende que esta
confiança se deu pelo apoio e interferência de Carlos Araújo”.
Em outro encontro, ocorrido em 2014, Antunes pediu o auxílio de Araújo para destravar a liberação de uma tranche de R$ 62 milhões de um financiamento do Fundo da Marinha Mercante para sua empresa, por meio da Caixa Econômica Federal. Ao ouvi-lo, Araújo se mostrou sensibilizado, disse Antunes. “Dizia que iria tomar providências para ajudar”, afirmou o delator. A mesma disposição de Araújo em ajudar a Engevix foi confirmada por ÉPOCA em janeiro, com base em relatos de Zuch. Contudo, até o momento, não há sinais de resultado sobre o dinheiro. A liberação continua travada e Antunes não pode sequer voltar ao amigo Araújo, pois está preso em Curitiba.
Quando esteve em Brasília para ser ouvido na CPI dos Fundos de Pensão, em fevereiro, Antunes conversou brevemente com ÉPOCA. O discurso, contudo, era diferente do que consta do termo de colaboração. O empreiteiro confirmou os encontros com Antunes, mas negou que tivesse pagado qualquer valor a Zuch ou Belsarena. Quando questionado sobre a razão de ter recorrido a Araújo, o empreiteiro não hesitou. “Eu tinha um estaleiro quebrando e ele conhecia todo mundo. Políticos, sindicatos, além de ser ex-marido da presidente. Tinha muita gente sendo demitida e é lógico que eu ia fazer de tudo para impedir isso”, disse o empreiteiro.
Fonte: globo.com/tempo/
0 comentários:
Postar um comentário