O senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS) entregou à Procuradoria-Geral
da República uma série de documentos que, segundo ele, comprovam seu
encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tramar
contra a Operação Lava Jato. Lula foi denunciado pelo procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF) por
obstrução à Justiça.
O procurador também pediu a inclusão do petista no inquérito que
investiga dezenas de políticos por suspeita de envolvimento com o
esquema de corrupção na Petrobras.
Delcídio relatou ao Ministério Público Federal que foi chamado por
Lula em meados de maio de 2015, em São Paulo, para "tratar da
necessidade de se evitar que Nestor Cerveró fizesse acordo de
colaboração premiada". Segundo o senador, Lula o teria incumbido de
"viabilizar a compra do silêncio de Nestor" para proteger o pecuarista
José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente. Janot anotou em manifestação
ao STF.
"A respeito desse fato, há diversos outros elementos, tais como
e-mail com comprovante de agendamento da reunião entre Lula e Delcídio
no Instituto Lula, no dia 8 de maio de 2015; comprovantes de
deslocamento efetivo do senador para São Paulo compatível com esta data;
outros documentos que atestam diversas outras reuniões entre Lula e
Delcídio no período coincidente às negociatas envolvendo o silêncio de
Nestor Cerveró, além de registros de diversas conversas telefônicas
mantidas entre Lula e (o pecuarista) José Carlos Bumlai e entre este e
Delcídio", afirma o procurador-geral da República.
"Todos esses elementos estão encartados no aditamento de denúncia dos
autos 4170."Leia mais notícias em PolíticaDelcídio afirmou que o filho
de Bumlai, Mauricio Bumlai, pagou R$ 250 mil à família de Cerveró, "por
interferência de Lula". De acordo com o senador, Lula "pediu
expressamente" a Delcídio que ajudasse Bumlai, amigo do petista.
O ex-líder do governo contou em delação premiada que o ex-presidente
tinha "especial preocupação" com a situação de José Carlos Bumlai porque
eles ficaram muito próximos durante a primeira campanha de Lula à
Presidência da República. Segundo o senador, "Bumlai se tornou o grande
conselheiro de Lula, com forte influência em diversos negócios do
governo, além de ter sido avalista de um empréstimo milionário obtido
pelo PT junto ao Banco Schahin e de ter ajudado a construir, estruturar e
organizar o Instituto Lula, entre outros".
O procurador-geral da República ainda levou em consideração, no
pedido de aditamento à denúncia contra Delcídio, as gravações captadas
por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró. Em novembro de 2015, foi
entregue por Bernardo Cerveró à Procuradoria-Geral da Republica um áudio
"revelador da grande trama criminosa envolvendo a obstrução da presente
investigação, por meio da compra do silêncio de Nestor Cerveró".
"A partir daí as investigações ganharam novos contornos e se
constatou que Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai e Mauricio
Bumlai atuaram na compra do silêncio de Nestor Cerveró para proteger
outros interesses, além daqueles inerentes a Delcídio e a André Esteves,
dando ensejo ao aditamento da denúncia anteriormente oferecida nos
Autos 4170/STF", afirma Janot.
"Os depoimentos de Nestor Cerveró deixam evidente que a intenção dos
articuladores do silêncio de Nestor era esconder fatos ilícitos
envolvendo Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai, André Esteves,
Delcídio Amaral, além de outras pessoas que possivelmente também
integram a organização criminosa objeto deste inquérito.
"A assessoria de Lula diz que a peça apresentada por Janor "indica
apenas suposições e hipóteses sem qualquer valor de prova". "Trata-se de
uma antecipação de juízo, ofensiva e inaceitável, com base unicamente
na palavra de um criminoso."
Segundo a defesa, o ex-presidente não participou "nem direta nem
indiretamente" de qualquer dos fatos investigados na Operação Lava Jato.
"Nos últimos anos, Lula é alvo de verdadeira devassa. Suas atividades,
palestras, viagens, contas bancárias, absolutamente tudo foi
investigado, e nada foi encontrado de ilegal ou irregular", afirma em
nota. "O ex-presidente Lula não deve e não teme investigações."
A defesa de André Esteves reiterou que ele não cometeu nenhuma
irregularidade. Já a assessoria do senador Delcídio informou que ele não
irá comentar o assunto no momento.
Fonte: Diário do Poder
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