“Quando contei ao meu noivo sobre a minha condição, ele terminou comigo.”
Joanna
Giannouli hoje tem 27 anos e nunca vai precisar se preocupar com
absorventes na vida. Tampouco precisará lidar com cólicas, TPM e todos
esses inconvenientes do universo feminino. Parece ótimo, não? Pois é.
Parece. Mas considerando os outros itens que vieram juntos no pacote,
você perceberá que muito provavelmente Joanna, de bom grado, dispensaria
todas essas “vantagens”.
Aos 14 anos, Joanna vivia em Atenas e
foi levada pelos pais ao médico justamente porque a despeito de todo o
seu corpo se desenvolver normalmente, a menarca (primeira menstruação
que marca a maturação sexual em meninas) nunca chegava. Levaria dois
anos para que Joanna descobrisse que essa menstruação nunca viria. E o
motivo para este atraso se tornaria o pesadelo de Joanna nos anos
seguintes. Ela ainda não sabia, mas fazia parte daquele minúsculo grupo
de mulheres que não menstrua simplesmente porque não tem vagina. Pelo
menos, não uma vagina funcional.
A Síndrome de Rokitansky
acomete uma em cada 5 mil mulheres no mundo inteiro. A mulher nesta
rara condição apresenta, exteriormente, todas as características
“normais” de uma mulher comum. O problema é que além da menstruação não
vir, ela sente dores fortíssimas à menor tentativa de relação sexual. O
motivo para isso é um canal vaginal ausente, ou muito pequeno. O mesmo
se dá com o útero e colo de útero, o que torna impossível uma gravidez.
Nestes casos, a única solução para que a mulher possa ter uma vida
sexual minimamente normal é a cirurgia. Mas engana-se quem pensa que
essa história acaba no pós-operatório. O exemplo de Joanna nos mostra
claramente que a ignorância humana, infelizmente, ainda é imune a
qualquer correção cirúrgica.
Após
duas semanas no hospital e mais três meses de recuperação em casa,
Joanna ainda sentia dores. A vagina construída pelos médicos ainda era
pequena e estreita demais. Foram mais alguns meses fazendo exercícios
constantes para aprofundar o canal vaginal. Mas quando esse período
acabou e ela pensou que finalmente levaria uma vida normal, percebeu que
havia atravessado apenas uma etapa. E que convencer o resto do mundo
que ela não era nenhuma “aberração” ou digna de pena, seria muito mais
difícil do que foi a correção de sua particularidade física. “Minha
condição é estigmatizada. Estava ‘OK’ fisicamente, mas não
emocionalmente. É um fardo de que você não pode se livrar. Tive
namorados que abusaram de mim emocionalmente. Por muitos anos não pude
ter um relacionamento estável. Sentia raiva, culpa e vergonha. Lutei
contra depressão, ansiedade e ataques de pânico.”
Durante
muito tempo, Joanna ainda teve de lidar com os olhares de pena de
parentes e conhecidos, o que denuncia a falta de conhecimento popular
sobre a síndrome. “Não estou morrendo. Não estou em perigo. Às vezes, me sentia vivendo na Idade Média.”
Hoje,
mais de dez anos após a descoberta e uma longa e difícil trajetória,
Joanna vive bem com seu namorado e seus planos para o futuro, inclusive
de ser mãe. “Adoraria ser mãe, biológica ou adotiva. Mãe não é quem dá a luz, mas quem cria”.
Usando sua própria experiência, ela agora dedica parte de seu tempo a
ajudar outras mulheres que, assim como ela no passado, tem vergonha de
falar sobre sua condição. “Não encontrei grupos de apoio na Grécia
ou qualquer pessoa com quem pudesse conversar. É muito libertador poder
falar sobre essas coisas. Muitas mulheres cometem suicídio por causa
disso. Quero ajudar todas as mulheres que sofram da síndrome, porque fui
ao inferno e voltei.”
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