Ex-deputado narra um encontro de Dilma com Paulo Roberto Costa e a cúpula do PP, os pedidos de dinheiro e apoio político da petista na campanha de 2010 e esquemas de propina no período em que era a 'mãe do PAC'
Afastada
do cargo desde que o Senado determinou a abertura do processo de
impeachment, a presidente Dilma Rousseff é uma das grandes estrelas da
delação premiada do ex-deputado Pedro Corrêa. Ex-presidente do Partido
Progressista, Corrêa narra uma profusão de episódios de corrupção
envolvendo a petista que, analisados em conjunto e se confirmadas,
implodem de vez a imagem da presidente imaculada e incorruptível.
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As narrativas de Corrêa que envolvem Dilma Rousseff nas falcatruas
dos caciques do PP começam no anexo 9 da delação. A presidente é
personagem de um jantar que marca a origem das articulações do PP para
entrar no petrolão. Segundo Corrêa, em 2003, os caciques progressistas,
liderados pelo ex-deputado José Janene, já morto, organizaram o evento
numa mansão que o ex-tesoureiro do PP João Claudio Genu, atualmente
preso pela Lava-Jato em Curitiba, mantinha em um bairro nobre de
Brasília. A convidada especial da noite era ninguém menos que a ministra
de Minas e Energia, Dilma Rousseff. O governo Lula, então nos seus
primeiros meses, já discutia uma ampla reforma no setor elétrico.
Como presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara, José Janene
enxergava na reforma uma oportunidade de extorquir empresários do
setor. O jantar para Dilma serviria para que o PP conseguisse a
relatoria da proposta. Mas teria um papel histórico importante na
organização do petrolão. Foi naquela noite de confraternização que Dilma
Rousseff ouviria o primeiro apelo dos corruptos do PP pela nomeação de
um certo Paulo Roberto Costa para a Diretoria de Abastecimento da
Petrobras. Paulinho, que viria a se tornar um dos principais operadores
da corrupção na Petrobras, conquistou naquela noite, segundo Corrêa, o
apoio da petista. "Dilma ficou comprometida em ajudar na nomeação de
Paulo Roberto", diz Corrêa.
DILMA PEDIU DINHEIRO AO PP
O anexo 10 da delação de Pedro Corrêa também é dedicado à presidente
Dilma Rousseff. A exemplo de 2003, novamente, os corruptos do partido
confraternizam com a petista em um jantar. O ano é 2010. O grande
homenageado da noite é ninguém menos do que o diretor de Abastecimento
da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Entre comes e bebes com Paulinho e os
corruptos do PP, Dilma Rousseff, então candidata do PT à Presidência da
República, pede apoio político do partido e até apoio financeiro.
O jantar acontece no apartamento do ex-deputado João Pizzolatti,
outra figurinha carimbada nas investigações da Operação Lava-Jato.
"Dilma se comprometeu, caso fosse eleita, a manter Paulo Roberto Costa
na Diretoria de Abastecimento, bem como a manter o Ministério das
Cidades com o PP, o que efetivamente fez. Dilma aproveitou a
oportunidade para pedir apoio, financeiro inclusive, a sua campanha",
diz Corrêa.
A MÃE DO PAC E AS PROPINAS DO PAC
Entre o segundo governo Lula e o primeiro mandato da presidente Dilma
Rousseff, o PP dividiu com o PT um lucrativo esquema de cobrança de
propinas em contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Dilma, a chefe da Casa Civil e "mãe do PAC", tinha como braço-direito no
gerenciamento do programa a ex-ministra petista Miriam Belchior.
Segundo Pedro Corrêa, no período em que Miriam ajudava Dilma a comandar o
PAC, a Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades foi
entregue a uma amiga de Miriam, Inês Magalhães.
O esquema de corrupção operava com Inês liberando contratos para
prefeituras e outro petista, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal
Jorge Hereda, fiscalizando os recursos que eram liberados pelo banco
para tocar as obras. "Era como se fosse a raposa cuidando do
galinheiro", diz Pedro Corrêa. "O PP, durante todo o tempo que comandou o
Ministério das Cidades, quis substituir Inês Magalhães, mas nunca
conseguiu, por se tratar de pessoa ligada a Miriam Belchior. O PT fez
muito caixa através desse esquema", complementa Corrêa.
Enquanto os petistas de confiança de Dilma Rousseff faturavam
propinas nas verbas de habitação do Ministério das Cidades, o PP roubava
em contratos das secretarias nacional de Saneamento e de Mobilidade.
"Com o início do PAC e a fartura de dinheiro, houve uma procura muito
intensa das grandes e médias cidades para conseguir obter recursos.
Dependendo do tamanho do projeto, o secretário (indicado do PP) cobrava
propina para selecionar a cidade", diz Corrêa.
Ainda segundo o delator, os empresários corruptos e políticos do PP
discutiam dentro do próprio ministério, em Brasília, os pagamentos de
propina. "Basta fazer um levantamento de "check in" em cadastros de
entradas na portaria do ministério e será possível verificar entradas de
empreiteiros e executivos de empreiteiras para as reuniões que eram
avençadas as propinas".
DILMA, GLEISI E AS PROPINAS DO PETROLÃO
Investigada no Supremo Tribunal Federal (STF) por ter recebido 1
milhão de reais oriundos da engrenagem criminosa que se apoderou da
Petrobras, a senadora petista e ex-ministra da Casa Civil Gleisi
Hoffmann é personagem do anexo 62 da delação de Pedro Corrêa. Segundo o
delator, na eleição de 2010, o caixa da propina do PP na Petrobras foi
usado para abastecer a campanha de Gleisi ao Senado sem a anuência dos
caciques progressistas. Como o doleiro Alberto Youssef e outros
delatores já confessaram, o dinheiro foi repassado por um entregador do
doleiro a um operador da senadora petista em um shopping de Curitiba.
O ex-deputado, que está preso em Curitiba, conta que o dinheiro sujo
injetado na campanha de Gleisi saiu da Diretoria de Abastecimento da
Petrobras, comandada pelo engenheiro Paulo Roberto Costa, o operador do
partido no petrolão. Quando soube que parte da propina do PP havia sido
desviada para uma campanha do PT, Pedro Corrêa foi pessoalmente cobrar
explicações de Paulo Roberto Costa e ouviu dele uma revelação explosiva:
"Ele (Costa) disse que esse gesto (o pagamento de 1 milhão em propina para Gleisi)
era para atender à candidata à Presidência Dilma Rousseff, a qual tinha
interesse na eleição de Gleisi para o Senado", diz Corrêa.
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Condenado a 20 anos e sete meses de cadeia, Pedro Corrêa negocia há
um ano um acordo de delação premiada com a Justiça. Todos os citados por
Pedro Corrêa já negaram envolvimento nos esquemas criminosos. Para
obter os benefícios da delação e reduzir sua pena, ele não pode mentir
sobre suas revelações. Para respaldar as explicações que recebeu de
Costa, Corrêa lembra que Dilma, depois de eleita presidente, escolheu
justamente Gleisi Hoffmann para comandar o mais importante ministério do
governo, a Casa Civil. A delação de Corrêa aguarda homologação do STF.
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