"Basta
ler o noticiário para concluir o contrário: que nossas instituições
fortes e democráticas estão conduzindo um forte combate contra a
corrupção em nosso país", disse a embaixadora do Brasil na ONU (Foto:
Pedro França/Ag. Senado)
O governo brasileiro criticou abertamente a ONU por produzir um
informe que questiona a capacidade do País em lidar com a corrupção do
setor privado e sua influência em campanhas eleitorais. O documento foi
apresentado nesta quinta-feira, 16, em Genebra numa reunião do Conselho
de Direitos Humanos das Nações.
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Nele, os peritos da ONU apontam que empresas no Brasil usaram o
financiamento de campanha para influenciar autoridades e impedir que uma
maior regulação sobre suas atividades fosse realizada. "O grupo de
trabalho notou preocupações sobre a influência indevida do setor
corporativo nos processos regulatórios e políticos", indicou a entidade.
Segundo a ONU, "a capacidade do governo de monitorar operações
empresariais pode, em alguns casos, ser afetada por processos de
financiamento político e pelo lobby corporativo".
A entidade não cita exemplos, mas alerta que os "recentes escândalos
de corrupção envolvendo as maiores empresas e políticos
eleitos" exacerbam essa percepção. Com instruções de Brasília, a
embaixadora do País na ONU, Regina Dunlop, tomou a palavra na reunião
para criticar o documento. "A referência da a ideia equivocada que o
Brasil não quer ou não consegue lidar com os escândalos de corrupção, o
que é longe da verdade", disse.
"Basta ler o noticiário para concluir o contrário: que nossas
instituições fortes e democráticas estão conduzindo um forte combate
contra a corrupção em nosso país", disse a embaixadora.
Dante Pesce, chefe dos peritos da ONU e principal autor do informe,
garantiu ao Estado que a crítica brasileira não vai afetar sua versão no
documento. "O Brasil tem o direito de criticar o documento. Mas ele não
será modificado. Essa é a nossa avaliação sobre o que ocorra no País",
insistiu.
Em dezembro, um grupo de peritos da ONU esteve no Brasil para uma
missão de dez dias para avaliar o comportamento das empresas. Um dos
pontos mais preocupantes para a ONU é a relação do setor privado com
organismos de regulação. Para a entidade, existe uma "influência
indevida" de empresários no governo, o que tem impedido punições mais
duras por eventuais crimes e violações de regras ambientais ou de
direitos humanos.
"O governo brasileiro aponta que as instituições democráticas
competentes – incluindo procuradores e juízes – estão desempenhando suas
atividades de forma nomral, investigando e eventualmente punindo,
levando em consideração a lei anti-corrupção que faz empresas serem
responsáveis por atos de corrupção", alertou a diplomata brasileira em
resposta.
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No informe, os peritos pedem que o governo tome medidas para lidar
com tais preocupações. A ONU reconhece que, em setembro de 2015, o
Supremo Tribunal Federal estabeleceu que doações de empresas para
partidos políticos são "inconstitucionais" e que, para futuras eleições
apenas indivíduos podem fazer a doação. (AE)
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