O acerto de propina de R$ 18 milhões para que a empresa WTorre
desistisse da obra de ampliação do Centro de Pesquisas da Petrobras
(Cenpes), no Rio, foi feito pelo presidente da OAS, José Aldemário
Pinheiro, o Léo Pinheiro, e um dos donos da empresa, Walter Torre. É o
que revela em detalhes o empresário Ricardo Pernambuco Júnior, da
Carioca Christiani-Nielsen Engenharia, em sua delação premiada anexado
aos autos da Operação Abismo - 31ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta
segunda-feira (4).
"O acerto final foi realizado pelo executivo Léo Pinheiro, da OAS,
junto a Walter Torre, que aceitou a oferta de R$ 18 milhões em um
encontro pessoal realizado num domingo", registra os pedidos de prisão e
busca e apreensão da Operação Abismo, com base na delação de Pernambuco
Júnior e executivos do grupo.
"O mesmo colaborador detalha ainda que, como conhecia Walter Torre em
virtude de obra anterior em que consorciados, foi procurado
pessoalmente pelo dirigente da WTorre e confirmou que o acordo por ele
firmado com Léo Pinheiro seria cumprido, com pleno aval e conhecimento
dos dirigentes das demais empresas consorciadas no Novo Cenpes."
O consórcio era formado pelas empreiteiras OAS, Carioca, Construcap,
Construbase e Schahin. A Operação Abismo aponta propina de pelo menos R$
39 milhões do grupo, para vencer as obras do Cenpes, com parte desse
dinheiro destinado também ao PT, via ex-tesoureiro Paulo Ferreira. A
obra tinha valor de mais de R$ 800 milhões.
Os procuradores afirmam que as empresas cartelizadas foram
"surpreendidas pelo oferecimento de melhor proposta por concorrente que
não havia participado das tratativas". Isso porque a empresa WTorre
Engenharia e Construção S.A apresentou o menor preço para a obra, cerca
de R$ 40 milhões abaixo do ofertado pelo Consórcio Novo Cenpes,
classificando-se como primeira colocada no certame."
Lula
Léo Pinheiro é o empreiteiro alvo da Lava Jato considerado um dos
mais próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde o início
do ano, ele negocia com a Procuradoria-Geral da República (PGR) um
acordo de delação premiada para contar o que sabe do esquema de
corrupção na Petrobras e em outras áreas do governo.
Segundo o MPF, foi ele um dos principais responsáveis pelo acordo que
se firmou para afastar a WTorre das obras da Cenpes. "Em virtude disso,
as empresas integrantes do Consórcio Novo Cenpes resolveram oferecer
aos dirigentes da WTorre uma vantagem econômica para que ela abrisse mão
do certame", explica a Procuradoria, em pedido enviado ao juiz federal
Sérgio Moro.
"Os integrantes do Consórcio Novo Cenpes acordaram o oferecimento de
R$ 18 milhões aos representantes da WTorre, Francisco Geraldo Caçador e
Walter Torre Júnior, para que a empresa classificada em primeiro lugar
não reduzisse o valor de sua proposta."
O executivo da Carioca, que detinha 20% do consórcio Novo Cenpes,
entregou dados da conta Cliver, no banco Delta, na Suíça, por meio da
qual repassou propina para o operador Mário Góes, destinada a repasses
para executivos da Petrobras - ligados ao PT.
"Embora ainda seja preciso especificar a forma como se deu o
pagamento dos R$ 18 milhões, os documentos do procedimento licitatório
já demonstram que, em cumprimento ao acordo espúrio, a WTorre não
ofereceu desconto e, em negociação direta com a Petrobras, o Consórcio
Novo Cenpes ofereceu preço menor ao da primeira colocada, sagrando-se
vencedora da licitação", suspeita a força-tarefa da Lava Jato. "Da mesma
forma, há suficientes indícios do pagamento de valores indevidos à
empresa WTorre ou a seus dirigentes a fim de possibilitar a prática dos
crimes de cartel e fraude à licitação."
O ex-diretor de Internacional da Petrobraás Nestor Cerveró afirmou em
sua delação premiada que Lula chegou a indicar a WTorre para a obra de
um prédio da estatal no Rio.
Endereços da empresa e dos executivos foram alvos de buscas nesta segunda-feira, alvos da Operação Abismo.(AE)
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