Relatório da Polícia Federal sobre as mensagens de celular do
ex-presidente da Andrade Gutierrez e delator da Lava Jato Otávio Azevedo
sugere que o ex-ministro da Secretaria de Comunicação da
Presidência Thomas Traumann vazou informações de uma reunião interna do
governo para o empreiteiro.
Traumann foi assessor especial da
secretaria em 2011 e porta-voz da presidente afastada Dilma Rousseff a
partir de 2012, no primeiro mandato da petista. Em janeiro de 2014, ele
assumiu o comando da pasta, substituindo a jornalista Helena Chagas.
As mensagens do celular de Otávio Azevedo foram apreendidas pela Polícia Federal e embasam investigações da Lava Jato.
Num torpedo de 14 de outubro de 2011, Traumann avisa o empreiteiro
sobre um projeto relacionado à infraestrutura aeroportuária em São
Paulo: "No café da manhã, chefa disse q o entroncamento de rotas c/ GRU e
VRC inviabiliza Caieiras".
O governo estudava a implantação de
um novo aeroporto internacional em São Paulo, a ser construído em
Caieiras, como alternativa aos terminais de Guarulhos (cuja sigla é GRU)
e Viracopos, em Campinas.
O projeto era de interesse da Andrade
Gutierrez, que elaborou junto com a Camargo Corrêa uma proposta de
construção de um terminal chamado Nasp (Novo Aeroporto de São Paulo). O
empreendimento teria financiamento de cerca de R$ 5 bilhões do BNDES e
teria a capacidade para atender 30 milhões de passageiros por ano.
Avisado pelo assessor, o empreiteiro retrucou: "Isto foi público?" Ao que Traumann respondeu: "Não. Só ministros".
Questionado pela reportagem, o ex-ministro disse que não possui mais o
número de Brasília e que, pelo que se lembra, a conversa dizia respeito a
uma decisão anunciada pelo então ministro da Aviação Civil, Wagner
Bittencourt, na qual descartava autorização para as obras do Nasp. A
entrevista, contudo, foi publicada no dia 31 de outubro, 17 dias após o
diálogo com Otávio, pelo jornal Valor Econômico.
O relatório da
PF sobre as mensagens mostra várias outras comunicações de Traumann com o
executivo entre 2011 e 2014, nas quais discutem questões de governo,
marcam encontros e tratam de favores.
Antes de assumir funções
na Presidência, Traumann era um dos responsáveis pela comunicação
corporativa da empreiteira. Em janeiro de 2012, antes de ser anunciado
oficialmente como porta-voz da presidente, Traumann avisa a Otávio
Azevedo: "Para você não saber pela imprensa: fui indicado porta-voz da
presidenta. Deseje me sorte!"
No dia 24 de outubro de 2011,
Traumann avisa o empreiteiro: "Caro, o paper q vc me pediu está
estruturado. Como está a sua agenda?"
Em 11 de julho daquele
ano, Traumann fazia referência a possíveis sugestões do executivo a um
anúncio que seria feito pelo governo. "Muitas de suas opiniões serão
aproveitadas nas regras a serem anunciadas ainda hoje". Naquele dia,
Dilma teve uma reunião de coordenação com sua equipe no Planalto.
Em outra ocasião, em junho de 2011, Traumann avisa o empreiteiro que
pretendia sair do governo. "Estou pensando em ir embora." E recebe uma
oferta de emprego do executivo: "Volta para a AG. Estamos de braços
abertos".
Dias depois, Traumann declina do convite e informa que
ficaria no Planalto para novas atividades. "Propuseram que eu cuidasse
dos discursos e de algumas operações de imprensa da PR (Presidência)",
explicou, acrescentando: "E seguimos amigos".
Defesa
Traumann diz que não tem mais este número de celular de Brasília e
portanto não podia checar o contexto dessas trocas de mensagens de cinco
anos atrás. "Pelo que recordo, se tratava da decisão anunciada em
entrevista pelo então ministro da Aviação Civil, Wagner Bittencourt,
descartando a autorização para a construção do aeroporto de Caeiras. A
informação havia sido publicada pelo jornal Valor Econômico, e,
portanto, não era sigilosa."
Em São Paulo
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