PCC
usa dinheiro dos mega-assaltos para comprar armas e drogas na Bolívia e
no Paraguai, segundo investigações (Foto: Fernando
Calzzani/Photopress/Estadão Conteúdo)
O Primeiro Comando da Capital (PCC) é o responsável pelos três
grandes roubos a empresas de transportes de valores ocorridos nos
últimos quatro meses e que renderam pelo menos R$ 138 milhões aos
criminosos, segundo as investigações do Departamento de Investigações
Criminais (Deic), da Polícia Civil de São Paulo.
Os policiais têm uma lista de indícios que ligam as três ações,
ocorridas em março, na sede da Protege, em Campinas; em abril, na
Prosegur, em Santos; e a última, na semana passada, também na Prosegur,
em Ribeirão Preto. Para os investigadores, os crimes foram planejados
pelo mesmo grupo, que reuniria três bandos em uma espécie de consórcio
criminoso.
Uma agenda apreendida com ladrões que roubaram a Protege, em
Campinas, revelou que o chefe do bando recebeu R$ 2 milhões e uma
pequena parte foi dividida entre os demais bandidos que participaram da
ação – cada um recebeu até R$ 100 mil. Dos R$ 48 milhões levados, cerca
de R$ 30 milhões foram direto para o PCC, segundo estimativa dos
policiais.
A suspeita é que o mesmo aconteceu nos demais roubos. Segundo o
delegado Fabiano Barbeiro, dentro do PCC existem grupos especializados
em praticar crimes específicos. “Existe o bandido chamado ‘dono do
trampo’, que tem a informação privilegiada de como conseguir roubar a
empresa de transporte. Ele, junto com outros criminosos da chamada
cúpula, contratam outras quadrilhas para executar cada etapa da ação.
Uma cuida do aluguel das armas, outra dos carros blindados, outra do
local para guardar os veículos, outra contrata quem sabe detonar
explosivos, e assim por diante.”
Quando o roubo é bem-sucedido, o “dono do trampo” recebe uma boa
parte do dinheiro, enquanto os demais ganham uma porcentagem menor. O
delegado Barbeiro diz que o dinheiro do PCC é investido na compra de
drogas e armas na Bolívia e no Paraguai. As armas são mantidas em paióis
e alugadas para quadrilhas.
Combate. Para enfrentar as quadrilhas do PCC, o Deic obteve do
Comando Militar do Sudeste (CMSE) autorização para usar as armas
apreendidas com os criminosos. Os policiais ficam como fiéis
depositários de fuzis e metralhadoras.
Para o delegado, os policiais estão se adaptando para enfrentar as
estratégias do consórcio de quadrilhas. Elas usam aplicativos (WhatsApp,
por exemplo) para evitar interceptações telefônicas. Assim, os agentes
retomaram costumes antigos, como o uso de informantes que se infiltram
nos bandos. “Não há nada que impeça o policial de investigar um crime.”
Barbeiro traça um perfil das ações dos ladrões: eles alugam casas nas
cidades onde preparam os roubos e usam armas das Forças Armadas, como
metralhadoras calibre .50, capazes de perfurar blindagens de
carros-fortes e derrubar helicópteros, além de fuzis AR-15 e AK-47. Os
bandidos explodem cofres e portões das transportadoras e cercam as
entradas principais das rodovias das cidades com homens armados, que
incendeiam caminhões para barrar a chegada da polícia. Em todos os
casos, houve longos tiroteios com policiais, e carros blindados foram
usados na fuga. Três PMs e dois moradores de rua morreram nas ações.
Até agora, foram recuperados R$ 8,9 milhões, dinheiro que estava em
um malote que os bandidos deixaram cair na fuga da Prosegur, em Santos, e
quatro criminosos do roubo em Campinas foram presos.
Com André Roberto da Silva, o Dequinha, os policiais acharam maços de
dinheiro com perfurações de tiro. Um técnico da Protege disse que as
notas eram da sede da empresa. Samuel Santos e Airton Francisco de
Almeida, o Ranfeim, foram presos em um dos carros usados na ação. Com
eles foram apreendidos fuzis, um balde com cartuchos, inclusive de .50,
radiocomunicadores, coletes à prova de bala e toucas ninja. Eles eram
encarregados de garantir a segurança do bando.
Por fim, com Fábio de Souza, os policiais localizaram mais fuzis e
munições. Em outra ação, em maio, o Deic apreendeu, na Cidade
Tiradentes, zona leste, sete fuzis, metralhadora .50 e munições. Ninguém
foi preso.
O Departamento de Investigações Criminais tem convicção de que
Luciano Castro de Almeida, o Zequinha (foto), é um dos organizadores dos
roubos às empresas de transporte de valores. Em 13 de agosto de 2001,
ele participou de um assalto a um banco, no Guarujá, no litoral sul. Os
bandidos foram presos na casa de um político da cidade, também detido.
Zequinha, que seria do PCC, foi condenado e fugiu da antiga Casa de
Detenção, em 2002, e nunca mais foi preso. Ele, segundo a polícia,
participou de um assalto ao Magazine Luiza, em maio de 2015, em
Campinas. Os bandidos usaram dois caminhões para roubar eletrodomésticos
e eletroeletrônicos. (AE)
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