O mosquito Aedes aegypti tem sido apontado como o principal vetor do vírus zika,
que, estima-se, infectou até junho, 49 mil pessoas dentre 139 mil casos
notificados no Brasil, e causou o nascimento de 1.600 crianças com
microcefalia em 582 municípios.
De acordo com a pesquisadora, o mosquito Aedes aegypti
começou a ser incriminado como vetor do vírus zika em 1947, quando foi
encontrado em uma floresta com nome homônimo em Uganda, na África, por
pesquisadores financiados pelo Instituto Rockefeller, dos Estados Unidos.
Os pesquisadores estavam tentando isolar o vírus da febre amarela e, para isso, estudaram mosquitos de espécies de Aedes, velhos conhecidos como transmissores da doença.
Ao analisar o material coletado, eles observaram que o vírus que
isolaram era diferente e o batizaram de zika em homenagem à floresta
onde foi descoberto.
Desde então, diversos outros isolamentos do vírus zika foram feitos a partir de diferentes espécies de Aedes, como o Aedes africanus, contou a pesquisadora.
Em 1966, quando houve a primeira emergência do vírus zika, na
Malásia, foram analisados inúmeros pools de mosquito no país asiático e
identificado apenas um como Aedes aegypti.
Já nas epidemias mais recentes do vírus Zika, como em 2007,
na Micronésia, na região do Pacífico, quando cerca de 70% da população
da ilha de Yap, com população de 7,3 mil pessoas, foi infectada, não foi
encontrado nenhum pool de Aedes aegypti, afirmou a pesquisadora.
“Na verdade, há pouquíssimos mosquitos Aedes aegypti na Micronésia. Há outras espécies de Aedes na região, mas o Aedes aegypti
é muito raro na maioria das ilhas e completamente ausente nas ilhas
onde houve uma grande ocorrência de casos de infecção pelo zika vírus”, disse.
Quando ocorreu a epidemia, Lopes entrou em contato com pesquisadores da região a fim de saber qual era a espécie de mosquito mais abundante por lá. A resposta dos pesquisadores foi o Culex quinquefasciatus, que não tinha sido investigado como um vetor do vírus zika.
“A questão é que todo mundo que estudou a circulação do vírus Zika antes só olhou para as espécies de Aedes.
Como esses mosquitos já são conhecidos como vetores de dengue,
chikungunya e febre amarela, por que não seriam também do Zika?”,
explicou Lopes.
No início da emergência do zika no Brasil, a pesquisadora decidiu investigar se o Culex quinquefasciatus também poderia transmitir o vírus. O mosquito é 20% mais abundante do que o Aedes aegypti
no ambiente urbano e é vetor de outros arbovírus (transmitidos
essencialmente por artrópodes), como o do Oeste do Nilo e da encefalite
japonesa, que são próximos do vírus zika.
Além disso, começou a chamar a atenção da comunidade científica e da OMS (Organização Mundial da Saúde), por meio de cartas publicadas em revistas como Lancet, sobre a
urgência e a necessidade de se investigar outras espécies de mosquito
que também podem ser vetores do vírus zika, e não apenas o Aedes aegypti .
Os resultados dos ensaios realizados pelos pesquisadores, em que foram infectados, em laboratório, mosquitos Culex quinquefasciatus e Aedes aegypti com zika para comparar suas capacidades de transmitir o vírus, indicaram que o desempenho das duas espécies é muito semelhante.
“Esse ciclo é menor do que o do vírus da dengue, que leva entre 10 a
15 dias para vencer as barreiras de resistência e chegar à glândula
salivar dos mosquitos. O pico de surgimento do vírus Zika na glândula salivar dos insetos ocorre sete dias após serem infectados”, detalhou Lopes.
A fim de verificar se o vírus zika era capaz de sair da glândula
salivar e ser encontrado na saliva dos mosquitos, os pesquisadores
realizaram um teste em que expuseram os insetos a um papel filtro
coberto com mel e um antibiótico.
Ao se alimentar do mel, os mosquitos depositavam saliva no papel filtro, que era coletada e dela extraído o RNA.
“Como o Culex quinquefasciatus é mais abundante no ambiente urbano do que o Aedes aegypti, queremos saber agora qual tem maior importância no papel de transmissão do vírus zika”, disse Lopes.
Mudança na forma de controle
Na avaliação de Lopes, uma das implicações de ter outras espécies envolvidas na transmissão do vírus zika, caso seja comprovado, é que mudará drasticamente a forma de controle da infecção, que hoje está focada exclusivamente no Aedes aegypti.
Enquanto o Aedes aegypti pica durante o dia, o Culex quinquefasciatus pica durante a noite. Isso deve provocar uma mudança de hábito das pessoas – especialmente as grávidas – que estão tomando medidas de proteção contra a picada, como o uso de repelentes, somente durante o dia.
Além disso, enquanto o Aedes aegypti tem preferência por colocar ovos em água parada, de chuva, o Culex quinquefasciatus gosta de colocar seus ovos em água extremamente poluída, como a de esgoto e de fossa.
“Isso irá requerer um investimento na melhoria das condições de
saneamento no país, que é um problema histórico”, avaliou a
pesquisadora.
O controle do Culex quinquefasciatus, contudo, deve ser mais fácil do que o do Aedes aegypti, estimou Lopes.
Enquanto a fêmea do Aedes aegypti prefere depositar seus
ovos de forma distribuída para garantir que sua prole tenha maiores
chances de sobrevivência, a fêmea do mosquito Culex quinquefasciatus deposita seus ovos em um único lugar.
“Os criadouros do Culex quinquefasciatus são mais concentrados e têm um alto nível de infestação, enquanto os do Aedes aegypti são mais distribuídos”, comparou a pesquisadora.
“Se o vírus zika fosse transmitido exclusivamente por Aedes aegypti
seria uma doença democrática, como a dengue é. Todo mundo pega, e não
somente as pessoas que estão extremamente expostas a picadas e à
transmissão do vírus”, avaliou.
Fonte: Notícias R7
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