Na delação que a empreiteira está negociando, um anexo diz que Temer participou de reunião em 2014 que resultou na doação de R$ 10 milhões em dinheiro vivo

TUDO DECLARADO - O presidente interino Michel
Temer: ele confirma o jantar com Odebrecht no Palácio do Jaburu, mas
garante que pediu apoio financeiro dentro da lei e que tudo foi
declarado (Jorge William/Agência o Globo)
VEJA teve acesso a um anexo da delação premiada mais esperada
do escândalo do petrolão. A Odebrecht mobilizou mais de uma centena de
advogados para assessorar a delação de seu presidente, Marcelo
Odebrecht, e de cerca de cinquenta executivos da empresa. No trecho a
que VEJA teve acesso consta a informação de que em maio de 2014 houve um
jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da
República. Nele, estavam o próprio vice Michel Temer e o então deputado
Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da Casa Civil. Do lado da
empreiteira, Marcelo Odebrecht. Segundo os termos do anexo, Temer pediu
“apoio financeiro” ao empresário. Marcelo Odebrecht, um campeão em
contratos com o governo federal e um financiador generoso de políticos e
campanhas eleitorais, prometeu colaborar. Afinal, estava diante do
vice-presidente da República e comandante em chefe do PMDB, o maior
partido do país, que controlou desde a redemocratização cargos
estratégicos da máquina pública, como diretorias da Petrobras e de
estatais do setor elétrico.
A Lava-Jato já sabe que empreiteiras repassaram propinas a partidos
na forma de doações eleitorais. Ou seja: que usaram a Justiça Eleitoral
para lavar dinheiro sujo. No caso da negociação no Jaburu, o anexo da
empreiteira promete provar, caso a delação seja homologada, que se deu
uma operação distinta: o pagamento do “apoio financeiro” aconteceu em
dinheiro vivo, entre agosto e setembro de 2014. A Odebrecht repassou 10
milhões de reais ao PMDB. Do total, 4 milhões tiveram como destinatário
final o próprio Eliseu Padilha. Já os 6 milhões de reais restantes foram
endereçados a Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (Fiesp). Skaf tem boa relação com Marcelo Odebrecht e
é apontado como o mentor do jantar entre o empreiteiro e os
peemedebistas, do qual não participou. Em 2014, ele disputou o governo
de São Paulo pelo PMDB graças ao apoio de Temer. O repasse dos 10
milhões de reais em dinheiro vivo está, segundo o anexo, registrado na
contabilidade do setor de operações estruturadas da Odebrecht, também
conhecido como “departamento da propina”.
Em nota, o presidente interino confirmou o jantar e afirmou que ele e
o empresário conversaram “sobre auxílio financeiro da construtora
Odebrecht a campanhas eleitorais do PMDB, em absoluto acordo com a
legislação eleitoral em vigor e conforme foi depois declarado ao
Tribunal Superior Eleitoral”. Segundo dados do TSE, a Odebrecht repassou
11,3 milhões de reais à direção nacional peemedebista em 2014. Seria a
mesma doação? Para evitar fraudes, a Justiça Eleitoral exigia que os
recursos doados legalmente pelas empresas fossem depositados na conta do
partido. Na delação da empreiteira, os 10 milhões saíram em dinheiro
vivo e foram contabilizados em seu “caixa paralelo”.
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Temer não esclareceu se foi ele quem pediu a ajuda financeira,
conforme relatado à força-tarefa da Lava-Jato, ou se a iniciativa partiu
de Marcelo Odebrecht. Consultado por VEJA, Eliseu Padilha enviou uma
nota. Diz: “Lembro que Marcelo Odebrecht ficou de analisar a
possibilidade de aportar contribuições de campanha para a conta do PMDB,
então presidido pelo presidente Michel Temer”. Padilha negou que tenha
recebido os recursos da Odebrecht. Sua assessoria escreveu: “Como Eliseu
Padilha não foi candidato, não pediu nem recebeu ajuda financeira de
quem quer que seja para sua eleição”. Paulo Skaf também declarou que a
empreiteira não doou para a sua campanha e que recebeu apenas 200 000
reais da Braskem, petroquímica controlada pela Odebrecht. A empreiteira
não comenta o assunto sob a alegação de que está negociando uma delação
premiada e tem o compromisso de manter a confidencialidade.
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