O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse que o governo
do presidente Michel Temer (PMDB) é parcialmente responsável pela cassação de seu mandato, aprovada
nesta segunda-feira (12). "O governo é culpado quando fez o patrocínio
[da candidatura de Rodrigo Maia], porque quem elegeu o presidente [da
Câmara] foi o governo. Quem derrotou o candidato Rogério Rosso foi o
governo", disse Cunha em entrevista logo após a sessão em que ele teve o
mandato cassado.
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Cunha mencionou Maia ao lembrar que ele foi eleito, em julho, para o mandato-tampão da Câmara com o apoio do governo -- a Câmara havia ficado sem presidente fixo após a renúncia de Cunha ao cargo.
O deputado cassado nesta noite apoiava o candidato do chamado "centrão"
Rogério Rosso (PSD-DF). Cunha disse que a vitória de Maia na eleição
para a presidência da Câmara foi decisiva para a sua cassação e que ele
foi vítima de uma vingança política. "É o conjunto político do processo
de vingança da conjuntura [...] quando o governo patrocinou a
candidatura do presidente que se elegeu em acordo com o PT, o governo,
de uma certa forma, aderiu à agenda de cassação", afirmou o deputado
cassado.
O peemedebista não chegou a culpar o presidente Temer
diretamente por sua cassação, mas disse que quem de fato "comanda o
governo" é o secretário-executivo do PPI (Programa de Parcerias de
Investimentos), Moreira Franco, que sogro é de Rodrigo Maia.
"Todo mundo sabe que na verdade, há uma articulação porque no governo
hoje tem uma eminência parda. Quem comanda o governo é o Moreira Franco,
que é sogro do presidente da Casa. Então o sogro do presidente da Casa
fez uma articulação que fez com que fosse feita uma aliança com o PT e,
consequentemente, a minha cassação estava na cara", disse Cunha.
Ex-deputado promete escrever livro
Cunha disse que irá se dedicar a escrever um livro contando os
bastidores do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff
(PT). Foi Cunha que, quando era presidente da Câmara, aceitou o pedido
de impeachment que resultou no afastamento definitivo da petista.
"Eu vou escrever um livro do impeachment. Eu vou contar, obviamente,
tudo o que aconteceu no impeachment. Diálogos com todos os personagens
que participaram de diálogos comigo em relação ao impeachment. Esses
serão tornados públicos em toda a sua integralidade. Todos, todos,
todos. Todo mundo que conversou comigo", disse Eduardo Cunha.
Questionado sobre se ele tinha gravado as conversas mantidas com
políticos sobre o impeachment, ele negou. "Tenho boa memória. Eu não
gravo conversas e não compactuo com quem grava conversas", disse o
ex-deputado, em referência implícita ao delator Sérgio Machado, que
gravou conversas com políticos para fechar acordo na Lava Jato.
O
agora ex-deputado disse que, mesmo depois de cassado, não irá aderir às
delações premiadas da Operação Lava Jato. Ele é réu em dois processos
que apuram sua participação no esquema de cobrança de propina em obras
de empresas estatais. "Só faz delação quem é criminoso. Eu não sou
criminoso, não tenho que fazer delação", afirmou.
Eduardo Cunha teve o mandato cassado por 450 votos a favor, 10 contra e nove abstenções.
Xingamentos e segurança
Cunha precisou ser cercado por seguranças da Câmara ao sair do plenário
da Casa em direção ao púlpito onde concederia sua primeira entrevista
coletiva como deputado cassado. No Salão Verde da Câmara, ele foi
recebido por um grupo de manifestantes que o hostilizou e gritou
palavras de ordem como "fora, Cunha", "tchau, querido" e "fora, ladrão".
Os seguranças também impediram que o grupo de manifestantes se
aproximasse do político no momento da entrevista coletiva. Enquanto
Cunha falava, o grupo continuava a gritar. Aparentando calma, Cunha não
respondeu às ofensas.
Leandro Prazeres
Do UOL, em Brasília
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