Maior análise genética do animal revela que as diferenças são como as existentes entre um urso-polar e um pardo. Duas espécies nascem ameaçadas de extinção

Girafas no zoológico de Hanover, Alemanha (Holger Hollemann/EFE/VEJA)
A ciência reconhecia até hoje a existência de uma única
espécie de girafa, dividida em diversas subespécies mais ou menos
iguais. Mas um grupo de cientistas da Alemanha realizou a maior análise
genética feita até hoje sobre o animal e concluiu que existe não uma,
mas quatro espécies de girafa no mundo. Assim, o cruzamento entre as
quatro não gera descendentes férteis, o que pode estar contribuindo para
o declínio da população desses animais na natureza. Duas das espécies
já nascem ameaçadas de extinção.
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Segundo os autores do estudo, publicado nesta quinta-feira na revista científica Current Biology
, embora as quatro espécies de girafa tenham aparência muito
semelhante, suas diferenças genéticas são tão grandes quanto as
existentes entre os ursos-pardos e os ursos-polares. De acordo com eles,
a descoberta tem implicações importantes para a conservação do mais
alto dos mamíferos: algumas das novas espécies estão mais ameaçadas de
extinção do que se poderia imaginar.
“Ficamos extremamente surpresos, porque há poucas diferenças da
morfologia e dos padrões da pelagem entre as girafas. Por causa dessa
semelhança, partimos do pressuposto de que todas as girafas têm os
mesmos requisitos ecológicos. Mas ninguém sabe de fato, por que esse
animal tem sido bastante negligenciado pela ciência”, disse um dos
autores do estudo, Axel Janke, geneticista do Centro de Pesquisa em
Clima e Biodiversidade da Universidade Goethe (Alemanha).
Declínio
As girafas passam por um dramático declínio na África, segundo o
pesquisador. O número de indivíduos caiu de 150.000 para menos de
100.000 nos últimos trinta anos. Apesar disso, segundo Janke, pouca
pesquisa foi feita sobre as girafas, em comparação a outros grandes
mamíferos como elefantes, rinocerontes, gorilas e leões.
O cientista explica que, há cinco anos, ele foi procurado por Julian
Fennessy, da Fundação de Conservação de Girafas da Namíbia, que lhe
pediu ajuda para testes genéticos com esses animais. Fennessy queria
saber até que ponto havia semelhanças entre as girafas que viviam em
diferentes partes da África, se o deslocamento das girafas ao longo do
tempo havia “misturado” diversas espécies e subespécies e quais seriam
as consequências de novos deslocamentos de girafas nas áreas protegidas.
No novo estudo, Janke e sua equipe examinaram o DNA extraído de
biópsias da pele de 190 girafas coletadas por Fennessy e seu grupo na
África, incluindo regiões onde há guerras civis. A ampla quantidade de
amostras inclui populações de todas as nove subespécies de girafa
previamente reconhecidas pela ciência.
A análise genética mostrou que há quatro grupos distintos de girafa
que, aparentemente, não se reproduzem entre si na natureza.
Consequentemente, segundo Janke, as girafas devem ser reconhecidas como
quatro espécies.
Os cientistas classificaram as quatro espécies como a girafa-do-sul (Giraffa giraffa), a girafa-masai (Giraffa tippelskirchi), a girafa-reticulada (Giraffa reticulata) e a girafa-do-norte (Giraffa camelopardalis) – que inclui a girafa-da-núbia (Giraffa camelopardalis camelopardalis) como subespécie.
Segundo Fennessy, o estudo revela que a girafa-da-núbia – que vive na
Etiópia e na região sul do Sudão e foi a primeira a ser descrita pela
ciência, há cerca de 300 anos – faz parte da espécie das
girafas-do-norte.
Ameaça de extinção
A descoberta tem impacto importante para a conservação da
biodiversidade, segundo os autores. A Comissão de Sobrevivência de
Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos
Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês) publicou recentemente uma
reavaliação da situação das girafas na Lista Vermelha das espécies, por causa de seu rápido declínio nas últimas três décadas.
“Agora que sabemos que são quatro espécies, o estado de conservação
de cada uma delas precisa ser redefinido e revisto na Lista Vermelha da
IUCN. Trabalhando em colaboração com os governos africanos, o apoio
continuado da Fundação pela Conservação das Girafas e seus parceiros
podem destacar a importância de cada uma dessas espécies e iniciar um
esforço de conservação, além de levantar recursos para melhorar a
proteção desses animais”, afirmou Fennessy.
“Estimamos, por exemplo, que só tenham restado 4.750 indivíduos da
girafa-do-norte na natureza. O número de indivíduos da girafa reticulada
não passa de 8.700. Como são espécies distintas, elas passam a figurar
entre os grandes mamíferos mais ameaçados do mundo”, explicou.
(Com Estadão Conteúdo)
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