O
candidato ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estuda como trabalha
um garimpeiro. Das ciências, das linguagens, dos códigos e da
matemática, extrai o que sabe que pode dar a ele mais vantagens sobre os
concorrentes. Mas, para além do conteúdo aprendido nos livros, é do
cotidiano, das relações interpessoais e do acompanhamento de notícias
que se tira o verdadeiro diferencial para a prova: atualidades são “a
cara” do Enem.
Engana-se, porém, quem acredita que esse
conteúdo vem a calhar somente na prova de Redação. É costume o exame
trazer entre suas 180 questões objetivas assuntos da atualidade que
dialogam com as áreas do conhecimento exigidas, principalmente as que se
referem às Ciências Humanas e suas Tecnologias.
No ano
passado, o tema feminismo foi abordado a partir do fragmento de um texto
da filósofa francesa Simone de Beauvoir. O item se iniciou com a frase
“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher” e surpreendeu a militância da
causa, que comemorou e reproduziu amplamente a pergunta nas redes
sociais.
Por outro lado, é de praxe encontrar entre as
questões referências a acontecimentos internacionais. Em 2011, época em
que fervia a chamada Primavera Árabe — onda de protestos e revoltas em
países como Tunísia e Egito —, o Enem apresentou aos candidatos texto
sobre como o acesso de jovens árabes à Internet ajudou na mobilização
dos manifestantes que foram às ruas derrubar governos ditadores.
Sem polêmicas
Na
contramão da última edição, que trouxe à tona o feminismo, é possível
que, este ano, o Enem não discorra sobre grandes polêmicas. Professores
ouvidos pelo O POVO consideram que, devido ao atual “alinhamento
político” brasileiro, desenvolvido durante e após o processo de
impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a prova tende a ser
mais branda.
O professor Maurício Manoel, do Colégio José
de Alencar, explica a tendência: “A prova vai ser um pouco mais
tradicional, intimista, sem temáticas tão progressistas”.
Coordenador
e professor do Academia Enem — cursinho preparatório oferecido
gratuitamente pela Prefeitura de Fortaleza —, Fábio Frota corrobora o
entendimento: “Impeachment é algo que não deve cair, nem temas que
tenham a ver com o Governo ou que coloquem em pauta a Presidência”,
afirma.
Apostas
O que pode, então,
ser abordado no Enem 2016? Nas próximas páginas deste caderno especial,
você confere apostas tanto dos professores Maurício Manoel e Fábio Frota
como do diretor de ensino e tecnologia educacional do Ari de Sá, Ademar
Celedônio, e do professor de Redação do Farias Brito, Sousa Nunes.
Para cada tema, O POVO preparou breve contextualização de forma a ajudar os que estão se preparando para a prova. Boa leitura!
1) Situação dos refugiados
A chamada Primavera Árabe
foi
uma onda de revoltas populares contra ditaduras no norte da África e
no Oriente Médio. Na tentativa de tirar o presidente Bashar al-Assad do
poder, os sírios iniciaram protestos pacíficos, que tiveram repressão
violenta e se tornaram uma guerra. O conflito que começou na Síria, e
prossegue até hoje, espalhou-se por vários países vizinhos, derrubando
governos diversos. A turbulência começou em 2011 e ainda não acabou.
Até o momento, mais de 4 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas
casas para sobreviver aos ataques. De um lado, rebeldes e grupos
extremistas sequestram e recrutam jovens para matar na guerrilha. De
outro, o governo confisca bens, realiza torturas e prisões arbitrárias.
Enquanto órgãos internacionais falham em mediar uma solução, o número
de mortos e refugiados aumenta.
A guerra na Síria agrava a
crise humanitária que já havia no mundo, com grandes deslocamentos de
pessoas vindas de países como Afeganistão, Sudão do Sul e Somália.
Desde 2014, o número de refugiados superou o da Segunda Guerra Mundial,
ultrapassando 50 milhões de pessoas. (Isabel Filgueiras)
O POVO noticiou: http://bit.ly/atraducaodacrise
2) Zika e a microcefalia
O
zika vírus chegou ao Brasil em meados de 2014, mas, naquela época,
não causava pânico nem era o centro dos estudos em saúde. Afinal,
provocava doença benigna e não progressiva. Preocupava menos que a
dengue, igualmente transmitida pelo Aedes aegypti.
O
cenário mudou quando, em 2015, configurou-se o quadro de epidemia da
doença no Brasil e pesquisadores locais confirmaram a relação do zika
com o crescente número de bebês nascidos com microcefalia. A partir
desse fato, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a epidemia
como emergência de saúde pública de preocupação internacional.
Era
temido que o zika proliferasse mundialmente durante as Olimpíadas do
Rio de Janeiro em agosto deste ano, já que estariam no País atletas e
turistas de várias nacionalidades, mas a OMS informou que não foram
relatados casos confirmados da doença entre os participantes do evento.
O POVO noticiou: http://bit.ly/zikaemicrocefaliaprevencao
3) Centenário do samba
No
dia 27 de novembro de 1916 foi registrada a música Pelo telefone, de
autoria de Donga e Mauro de Almeida e considerada o primeiro samba
gravado no Brasil. Em 2016, a canção completa 100 anos de existência e
provoca onda de comemorações em todo o País.
Embora tenha origem
afro-baiana, o samba se desenvolveu na zona portuária do Rio de
Janeiro. Naquela época, tão grande era a quantidade de personalidades
reunidas em sambas de roda que até hoje se questiona a autoria de Pelo
telefone. Vale ficar de olho. O Enem gosta de abordar centenários.
O POVO noticiou: http://bit.ly/centenariodosamba
4) Gestão dos resíduos sólidos
Diariamente,
só o Ceará produz cerca de nove mil toneladas de lixo. Do total, 5,8
mil toneladas têm destinação final adequada, enquanto que o restante é
descartado irregularmente em lixões que existem no Estado — mesmo que
a Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010 tenha estabelecido
que esses locais fossem eliminados até 2014.
Mais do
que investir no processo de coleta e destinação final dos resíduos
sólidos, discute-se atualmente o papel da população no tratamento
desses resíduos a partir do reúso e do uso sustentável deles. Em
Fortaleza, a Prefeitura começou a multar aqueles que produzem mais de
100 litros diários e que não possuem um plano de gerenciamento desse
material.
O POVO noticiou: http://bit.ly/lixoesnoceara
5) Interferência da tecnologia nas relações humanas
Não
é novidade que boa parte da sociedade atual usa excessivamente a
tecnologia para sustentar suas relações interpessoais. O que se discute
é: em que momento essa dependência deixa de ser aceitável e se torna
vício?
Exemplo de como a tecnologia afeta as relações
humanas pode ser ilustrado pelo jogo de realidade aumentada Pokémon
GO. O aplicativo foi lançado no Brasil em agosto de 2016 e, em pouco
mais de uma semana, tornou-se o maior em número de usuários da
história do mercado americano, superando outros aplicativos como
Netflix, Twitter e Spotify.
O Pokémon GO imerge o usuário no
universo dos pokémons, exibindo os monstrinhos na tela do celular
para que eles sejam capturados. Entretanto, para usar todas as funções
do game, exige-se que o jogador caminhe pela cidade.
Na
época em que o aplicativo foi lançado, O POVO foi às ruas de Fortaleza
apurar as reações dos usuários e viu situações parecidas em vários
lugares: pessoas andando de cabeça baixa, olhar atento ao celular,
vibrando, às vezes, por capturar um bichinho que, no mundo real, não
existe, mas que na tela do celular estava lá.
O POVO noticiou: http://bit.ly/pokemongoemfortaleza
6) Violência urbana
O Mapa da Violência diz que a principal vítima da violência urbana no Brasil é a juventude. A pesquisa mostra que, entre os anos 1980 e 2014, 1,3 milhão de crianças e adolescentes foram assassinados no País, o que representa 53% do total de homicídios no período.
O Mapa da Violência diz que a principal vítima da violência urbana no Brasil é a juventude. A pesquisa mostra que, entre os anos 1980 e 2014, 1,3 milhão de crianças e adolescentes foram assassinados no País, o que representa 53% do total de homicídios no período.
Entre
os fatores apontados por especialistas como catalisadores desse
processo estão a disseminação da cultura da violência, os índices de
desigualdade socioeconômica e a regressão nas políticas públicas de
desarmamento.
Em outubro de 2015, comissão especial da Câmara
dos Deputados aprovou texto que flexibiliza o Estatuto do
Desarmamento (lei 10.826/03). O projeto reduz de 25 para 21 anos a
idade mínima para a compra de armas no País, estende o porte para
autoridades como deputados e senadores e assegura a todos que
cumprirem os requisitos mínimos exigidos em lei o direito de possuir e
portar armas de fogo para legítima defesa ou proteção do próprio
patrimônio. O texto segue ainda para aprovação no Plenário.
O POVO noticiou: http://bit.ly/futuroperdidoparaviolencia
7) Economia compartilhada
Vinda
do termo inglês (sharing economy), a economia compartilhada é vista
como tendência de consumo. No Brasil e no mundo, apostam nesse modelo
de negócio empresas como Netflix, Spotify, AirBnB e Uber, por exemplo.
Para além do universo corporativo, há experiências de mobilidade
urbana conduzidas pelo poder público, como, no caso de Fortaleza, as
bicicletas compartilhadas e os carros compartilhados.
Todos
esses modelos oferecem ao cliente facilidade de adesão e de
experimentação, sempre na busca pela democratização do acesso. As
empresas que lideram este mercado entendem que, atualmente, é melhor e
mais rentável adquirir um serviço do que um bem. Ou seja, sob essa
perspectiva, melhor seria ser usuário do que proprietário.
O
problema é que esse novo modelo desestabiliza o mercado tradicional.
Tomemos o (aplicativo) Uber como exemplo. Assim que chegou ao Brasil, a
categoria de taxistas repudiou o serviço por considerá-lo
concorrência desleal.
O POVO noticiou: http://bit.ly/economiacompartilhadaganhaforca
8) Analfabetismo político
Nos
últimos dois anos, O Brasil teve sua conjuntura política modificada
rapidamente e diversas vezes. Houve impeachment, posse de
vice-presidente, prisões de homens públicos. Nas redes sociais, debates
sobre o assunto polarizam a população. Mas quem faz mais do que ler os
títulos das notícias que informam sobre esses acontecimentos?
Política pode ser tratada pela ótica da participação e esclarecimento.
O POVO noticiou: http://bit.ly/porqueaeleicaonaoempolgou
9) Morar na rua
O
Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDS) estimava, em
2015, que, no Brasil, 50 mil adultos e 24 mil crianças e adolescentes
moravam nas ruas.
O Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) é claro sobre o assunto. No artigo 4º, discorre que “é dever da
família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
O que
ocorre, entretanto, é que ainda não há um acompanhamento eficiente do
problema. Tanto que crianças e adolescentes são facilmente vistos
vivendo ou trabalhando nas ruas hoje. O Centro de Defesa da Criança e
do Adolescente (Cedeca-CE) entende que esse contexto “coloca a criança
ou adolescente em situação de grande vulnerabilidade à violência e a
outras violações, como ao direito à moradia, à educação, ao lazer
etc.”.
O POVO noticiou: http://bit.ly/jovensmoradoresderua
10) Esporte para inclusão social
Cada
medalha conquistada por atletas brasileiros durante as Olimpíadas de
2016 significou o ápice de uma história de superação. Isso porque, no
País, investimentos na área são ainda insuficientes se comparados aos
de nações que compreendem o desporto como ferramenta eficaz de
inclusão social. Em Fortaleza, a principal iniciativa que busca essa
associação são as areninhas — projeto que requalifica campinhos de
futebol. Na esfera federal, a União trabalha com a Lei de Incentivo ao
Esporte, que possibilita a empresas e pessoas físicas investir parte
do que pagariam de Imposto de Renda em projetos esportivos.
O POVO noticiou: http://bit.ly/porqueosresultadosnaovem
11) Mobilidade urbana
Em
junho de 2016, de acordo com estatísticas do Departamento Nacional de
Trânsito (Denatran), o Brasil tinha 50,5 milhões de automóveis
concentrados, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste do País.
Somado
aos efeitos colaterais da emissão de gases causadores do efeito
estufa, o inchaço de automóveis no País têm feito a sociedade repensar a
dependência do carro particular como principal meio de deslocamento.
Por
isso, têm ganhado cada vez mais a atenção do poder público
iniciativas como o estímulo ao uso da bicicleta e do transporte
coletivo para viagens pendulares (de casa para o trabalho e
vice-versa).
Além disso, busca-se diminuir a quantidade de
acidentados no trânsito com a redução da velocidade em determinados
trechos de ruas e avenidas.
O POVO noticiou: http://bit.ly/ofuturodamobilidadeurbana
12) Pessoas com deficiência
Em
vigor desde janeiro de 2016, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (13.146/2015) busca garantir condições de acesso à
educação, saúde e moradia aos que possuírem qualquer deficiência física,
mental, sensorial ou intelectual.
A lei estabelece,
também, punição a quem, em razão da deficiência da pessoa: recusar ou
cobrar dela valores adicionais em estabelecimento de ensino; impedir
sua inscrição em concurso público ou acesso a qualquer cargo ou emprego
público; negar a ela emprego, trabalho ou promoção; recusar, retardar
ou dificultar internação ou deixar de prestar assistência
médico-hospitalar e ambulatorial.
No que diz respeito a
questões de mobilidade, a lei também modifica o Estatuto da Cidade
quando estabelece que os municípios devem promover melhorias das
calçadas, dos passeios públicos, do mobiliário urbano e dos demais
espaços de uso público.
OPOV noticiou: http://bit.ly/acessibilidadedepessoascomdeficiencia
13) Economia de água
Entre
2014 e 2015, São Paulo passou por uma das mais graves crises hídricas
da história. Por falta d’água, o Distrito Federal, em 2016, também
começou a sofrer racionamento. O Ceará, você já deve saber: enfrenta o
quinto ano consecutivo de estiagem. O Brasil sente, dessa forma, cada
vez mais a urgência de economizar água.
Em Fortaleza, há
muito tempo se discute a possibilidade de racionamento, mas o Governo
tem preferido aguardar que a população se conscientize e busque formas
de economizar. Enquanto isso, há taxa extra para quem não reduziu
consumo.
O POVO noticiou: http://bit.ly/acoesdeeconomiadeagua
14) Legado das Olimpíadas
Em
2016, o Brasil sediou dois dos maiores eventos esportivos do mundo:
as Olimpíadas e os Jogos Paralímpicos. Os eventos ocorreram na cidade
do Rio de Janeiro, mas não por isso deixaram de provocar polêmicas em
todo o País.
Antes de os jogos serem realizados, eram
foco das preocupações obras de mobilidade e de infraestrutura
projetadas para que a cidade pudesse receber o evento. Na época em que
o Brasil sediou a Copa do Mundo, por exemplo, algumas intervenções
que não conseguiram ser concluídas a tempo dos jogos permanecem até
hoje inacabadas.
O POVO noticiou: http://bit.ly/legadodasolimpiadas2016
15) O adeus do Reino Unido
Num
processo de ruptura conhecido mundialmente como Brexit, britânicos
foram às urnas em junho de 2016 e votaram pela saída do Reino Unido da
União Europeia.
A decisão foi pautada, principalmente, pela incompatibilidade de posicionamentos, especialmente no que diz respeito a relações comerciais e políticas de migração.
O POVO noticiou: http://bit.ly/entendaobrexit
Luana Severo
luanasevero@opovo.com.br
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