Divulgação/Parlapatões
O autor Renato Modesto, dispensado da Record após finalizar A Terra Prometida
O autor Renato Modesto, 49 anos, ficou frustrado ao ser demitido
repentinamente da Record após uma promessa da cúpula da emissora de que
seu contrato seria renovado. Ele foi dispensado após entregar os últimos
capítulos de A Terra Prometida, sua segunda produção bíblica. Modesto,
que esperava um aumento salarial para trocar de carro, ainda está se
adaptando à nova realidade de freelancer, mas já pensa em novos
projetos, como uma trama espírita.
"Se puder escolher, prefiro fazer agora um trabalho não bíblico. Foi
muito rico para mim, gosto do resultado, mas também chega uma hora em
que cansa. Gostaria de abordar outros temas. Eu tenho guardadas algumas
ideias [de produções] que não cabiam na Record. Por exemplo, gosto muito
da temática espírita, e na Record não cabe, mas numa outra emissora
pode", revela.
Em recentes conversas informais com Marcelo Silva e Anderson Souza,
respectivamente vice-presidente artístico e diretor de teledramaturgia,
Modesto foi elogiado por seu trabalho em A Terra Prometida e recebeu
verbalmente a informação de que seu contrato, que vence em 30 de
novembro, seria renovado.
No entanto, o autor foi chamado na semana passada para uma nova
conversa. Ficou sabendo que vai ficar desempregado mesmo com uma trama
de sucesso (para os padrões da Record) em plena exibição.
Divulgação/Record
Sidney Sampaio, protagonista de A Terra Prometida, novela de autoria de Renato Modesto
"Legalmente está tudo certo, mas o que me deixou chateado foi que me
disseram que renovariam o contrato, estavam muito satisfeitos, que eu
podia ficar tranquilo. E não foi o que aconteceu. Quando terminei de
entregar os capítulos, me chamaram para conversar. Eu fui esperando uma
renovação, talvez até um aumento. Pensei 'Oba, vou trocar de carro'
(risos). Mas cheguei lá e disseram que não iriam renovar. Estava
contando com isso, de ficar mais tempo, fazer outros trabalhos para
eles", confessa.
A justificativa que Modesto recebeu foi de que a Record já tem duas
novelas bíblicas e duas não bíblicas planejadas para os próximos anos, e
isso faria com que ele ficasse na "geladeira", sem espaço para emplacar
novas produções. Para o autor, que está encerrando um contrato de cinco
anos, esse argumento é questionável.
"Eu tenho a impressão de que não é tanto tempo [que ficaria parado],
eu voltaria a escrever daqui a um ano. Vale a pena manter um roteirista
que já deu bom resultado. Se a decisão fosse minha, acharia mais sensato
me manter, poderia escrever uma série, um humorístico. Achei que essa
justificativa não justifica. Mas não dá para eu entender as
justificativas internas, eles devem ter seus motivos", lamenta.
Modesto foi o autor de duas tramas religiosas na Record: a série
Milagres de Jesus (2012) e a novela A Terra Prometida (2016), que
estreou no dia 5 de julho e deve permanecer no ar até meados de
fevereiro. Para isso, a emissora usa a tática de alongar os capítulos na
edição, deixando a estrutura das cenas diferente do que foi escrito no
roteiro.
Divulgação/Record
Os atores Rodrigo Phavanello, Chay Suede e Paulo Nigro em cena da série Milagres de Jesus
Essa prática já era conhecida do autor quando ele assinou o contrato,
assim como já estavam previstas interferências da diretoria artística
da Record no conteúdo dos capítulos _principalmente em relação às
histórias bíblicas.
"Desde o início deixaram claro que, como era uma novela bíblica
importante, teria influência. É normal que tenha um ponto de vista do
produtor, e compreendo que eles têm também objetivos ideológicos. Mas é
claro que, como autor, prefiro mil vezes trabalhar livremente. Se
estivessem colocando no ar os roteiros do jeito que estão escritos,
ficaria melhor ainda, com bastante ação. [Nesse sentido] A Globo
respeita mais. Pelo menos no tempo em que eu trabalhava lá, [a trama] ia
ao ar como está no papel", afirma.
Antes de ser contratado pela Record, Modesto foi roteirista na Globo
durante 13 anos e também chegou a trabalhar como ator no SBT, nas
novelas Fascinação e Pérola Negra, ambas de 1998. Após 18 anos com
contratos fixos em grandes emissoras, é a primeira vez que o
profissional se vê sem compromisso com empresa alguma.
"É esquisito. É uma coisa nova para mim, não estou acostumado a
trabalhar como freelancer. Nunca fiz isso, assusta um pouco. Como é
muito recente, estou começando a falar com as pessoas, daqui a pouco
talvez comece a oferecer meu trabalho. Por enquanto, estou assimilando",
diz.
Na Globo, ele tem Walther Negrão, autor de Sol Nascente, como seu
mestre, mas ainda não entrou em contato com a emissora para propor suas
ideias. Para o ano que vem, Modesto já foi convidado para escrever o
roteiro de um longa-metragem, ainda em fase de captação de recursos, e
está otimista para encontrar novos trabalhos, seja na TV, no cinema ou
em produtoras independentes.
"Como [a demissão] me pegou de surpresa, não tinha nada programado,
não tinha procurado coisa nenhuma. Agora ainda não sei direito o que vai
acontecer. Mas estou otimista, acho que o mercado de audiovisual está
bem, está efervescente apesar da crise. Dentro de um mercado assim, um
roteirista experiente é importante, existe uma demanda. Como me enquadro
nessa categoria, acho que naturalmente devem aparecer novas propostas",
ele conclui, esperançoso.
FERNANDA LOPES - Publicado em 08/11/2016, às 06h00
FERNANDA LOPES - Publicado em 08/11/2016, às 06h00
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