A sociedade brasileira celebra hoje o Dia Nacional da Consciência Negra, instituído há 13 anos, tomando como referência a data da morte do herói da resistência negra, Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro de 1695. É a ocasião propícia para realçar a contribuição dada pelos negros à formação social e cultural brasileira - junto com o índio e o europeu - e os passos dados em prol desse reconhecimento e pela afirmação de sua identidade e seus direitos.
Embora
a data oficial da abolição da escravatura – 13 de maio de 1888 - seja
importante como um marco civilizatório –, ela veio acompanhada de várias
deformações reducionistas, a primeira das quais foi considerá-la apenas
uma dádiva do poder reinante, na qual o papel dos negros assume um
caráter passivo, como beneficiários da magnanimidade de uma princesa
real. Nela, se desconhecem os antecedentes de resistência heroica de uma
raça que se recusava a dobrar-se à opressão e a anular-se como sujeito
da História, sendo portadora de uma riqueza cultural tão poderosa que
moldou a própria identidade da nação de seus opressores de então, que
certamente seria bem diferente sem sua participação.
Embora
não tenham sofrido um apartheid oficial, tal como nos Estados Unidos, os
afrodescendentes brasileiros foram – e continuam sendo – vítimas de
discriminações (veladas ou abertas) de toda ordem. Demorou para a
sociedade perceber essa situação. E isso ocorreu, sobretudo, após a
Constituição de 1988, centrada nos direitos fundamentais da pessoa
humana, que abriu espaço para a percepção da reduzida inserção dos
afrodescendentes na estrutura social, política e econômica do País,
dando ensejo à mobilização política desse segmento. O seu protagonismo
começou no governo Fernando Henrique Cardoso e ganhou desenvoltura nos
governos Lula e Dilma. Basta ver o Estatuto da Igualdade Social, em
2010, e as políticas afirmativas desenvolvidas nestes. Uma das medidas
mais eficazes para a superação do fosso entre segmentos raciais e
sociais é o sistema de cotas raciais e sociais. Ele equilibra a balança
da igualdade de oportunidade em favor dos que ficaram à margem,
historicamente, do desenvolvimento da sociedade, como é o caso dos
negros.
A cada ano, a celebração do Dia Nacional da
Consciência Negra enseja a oportunidade de verificar a quantos anda esse
processo de afirmação. É o que certamente se verificará hoje.
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