O legado do antigo líder popular será testado, diz o jornal
Segundo
o Financial Times, veredicto de culpa contra ex-presidente poderia
desencadear protestos políticos em um momento em que o governo Temer
tenta restaurar a confiança no País (Foto: Sérgio Castro/Estadão
Conteúdo)
Em reportagem publicada na edição desta terça-feira, 22, o
diz que o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no
âmbito da Operação Lava Jato vai ampliar as divisões no Brasil. Segundo a
publicação, o legado do antigo líder popular será testado em tribunal.
"Em um ano já tumultuado e marcado pelo processo de impeachment da
ex-presidente Dilma Rousseff, os brasileiros estão se preparando para o
que promete ser o julgamento do século da América Latina - o início das
audiências de corrupção contra seu antecessor e mentor, Lula da Silva",
escreveu o correspondente, em São Paulo, Joe Leahy.
Segundo o jornal, um veredicto de culpa contra o líder do PT poderia
desencadear protestos políticos em um momento em que o novo governo do
ex-vice-presidente de Rousseff, Michel Temer, tenta restaurar a
confiança no País com reformas fiscais sensíveis por meio do Congresso. O
jornal cita um trecho da entrevista que Temer concedeu ao programa Roda
Viva, da TV Cultura, na segunda-feira, 14: "Imagine a mera ideia de que
Lula poderia ir para a prisão? Ele é um ex-presidente, ele foi
presidente duas vezes. Que isso pode causar problemas, não tenho dúvidas
", disse o presidente.
A publicação diz ainda que o julgamento - que se iniciou na
segunda-feira, 21, com os depoimentos de testemunhas de acusação - será o
ápice de mais de dois anos de investigações sobre o maior esquema de
corrupção do Brasil, um escândalo de suborno na estatal Petrobrás. "O
julgamento vai questionar o legado de um homem cujos apoiadores o
consideram um herói por reduzir a pobreza durante seus oito anos no
poder entre 2003 e 2010, mas que, de acordo com os críticos, se trata de
um populista que usou dinheiro público e ajudou a inaugurar a pior
recessão do Brasil em um século", afirma a reportagem.
O FT lembra que Lula já sobreviveu a escândalos de corrupção e diz
que integrantes do antigo círculo íntimo de seu Partido dos
Trabalhadores foram presos em 2013 por um esquema de compra de votos - o
mensalão. "Desta vez, no entanto, os promotores acreditam que têm
provas suficientes para condená-lo.", diz o texto. Os promotores,
continua a reportagem, "o acusam de aceitar favores de empresas de
construção civil em troca de contratos na Petrobrás. Estes incluem um
apartamento à beira-mar e um sítio, que estaria no nome de outra pessoa.
Eles também alegam que Lula ajudou a maior construtora brasileira, a
Odebrecht, a conquistar contratos em Angola com recursos do BNDES, banco
estatal de desenvolvimento do País."
Ouvidos pelo jornal britânico, os advogados de defesa de
Lula alegaram que o juiz responsável pela lava Jato na 1ª instância,
Sérgio Moro - tratado na reportagem como "o duro juiz anti-corrupção"
- e os promotores da força-tarefa violaram o direito de Lula à
privacidade e à presunção de inocência em sua perseguição do caso. O FT
lembra que, em março, Moro publicou gravações de Lula falando em
particular com Dilma e outros interlocutores, incluindo o seu advogado.
Dias depois, o STF proibiu o uso das gravações como prova. (AE)
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