Entusiastas importam Kombis do Brasil e as restauram em Florença. Italiano que viveu no Brasil idealizou 'hospital' para antigas Kombis.
Em Florença, entusiastas importam Kombis do Brasil para restaurar (Foto: Alberto Pizzoli/AFP)
Em um escondido depósito no centro de Florença, dois entusiastas se empenham em deixar como novas antigas Kombis, míticos utilitários da Volkswagen, a maioria delas vinda do Brasil.
Alguns desses veículos têm mais de 50 anos, porém, depois de serem
desmontados, reparados e, às vezes, adaptados para as tendências atuais,
podem resistir a outro meio século, assegura Giacomo Nucci, mecânico e
especialista em renovar esses veículos, dando-lhes um toque "vintage".
"Com uma boa manutenção, as Kombis são indestrutíveis, ainda que
tenhamos que refazer uma boa parte da mecânica, mantendo os motores de
origem", explica Nucci, perto de um "pulmino" (micro-ônibus em
italiano), que parece recém-saído da fábrica, apesar de já ter uns bons
anos.
Nucci se dedica a operar essas máquinas há 7 anos, eternos símbolos de
liberdade, para colecionadores e também para empresas de publicidade.
Empresas de moda "nos pedem Kombis sob medida" para fotos de catálogos,
explica o mecânico, assegurando que há poucas empresas que ofereçam
esse tipo de serviço.
Foi Mauro Altamore, um italiano que viveu por muito tempo no Brasil,
que idealizou este "hospital" para antigas Kombis, cujos clientes vêm de
toda a Itália, e também da Europa.
Confessa que se interessou quando pequeno por essas caminhonetes com
motor traseiro, quando colecionava miniaturas do também famoso Fusca da Volkswagen. Esse carro lendário dá uma parte de seus elementos mecânicos (motor e eixo) para as Kombis.
Depois da reforma, veículos chegam a custar 50 mil euros (Foto: Alberto Pizzoli/AFP)
Geração hippie
"Jurei a mim mesmo que compraria uma aos 18 anos, mas meu pai me proibiu, dizendo que consumiam (gasolina) demais", relembra. Desde então, perdi as contas de quantas dessas comprei antes de renová-las.
Tudo começou há 10 anos: "Fui para o Brasil por causa do meu trabalho
de importação e exportação", explica Mauro Altamore. Ele se deu conta da
quantidade de Kombis que circulavam no país. "Pensei, então, que seria
legal importar algumas" para a Itália.
"Entre meus clientes, a primeira empresa foi uma famosa companhia de biscoitos", conta.
Mais tarde, continuou durante um tempo importando roupas do Brasil, mas
acabou especializando-se nas Kombis, restaurando-as com a ajuda de
Giacomo, "para garantir a qualidade para meus clientes".
Esses automóveis, alguns totalmente transformados segundo os gostos dos
clientes, têm entre 40 e 50 anos. Depois de renovados, podem ser
vendidos entre 10 mil e 50 mil euros (cerca de R$ 180 mil), segundo
Altamore.
Modelos são reformados ao gosto dos compradores (Foto: Alberto Pizzoli/AFP)
As Kombis Volkswagen, que foram fabricadas aos milhões, continuam sendo
muito procuradas, especialmente as que foram transformadas em trailer.
Um luxuoso modelo dos anos 1950, chamado "23 janelas", alcançou os 200
mil euros em um leilão no final de 2014.
As de modelo T2 foram fabricadas na Alemanha até 1979 e no Brasil até 2013.
A geração hippie fez da Kombi seu veículo preferido e, depois de tantos
anos, continua gostando. Simboliza a liberdade para viajar e seduz
tanto os jovens quanto os adultos, de todas as classes sociais, assegura
Altamore.
Dezenas de páginas na internet são dedicadas às Kombis e contam com
milhares de seguidores por todo o mundo, que se organizam em festivais
em sua homenagem e, inclusive, realizam grandes encontros onde
participam centenas desses automóveis.
"Na Kombi você vira a chave, dá a partida e não sabe realmente para
onde vai, mas pouco importa, porque você sabe que pode dormir lá
dentro...", explica.
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