Reuniões constantes de avaliação são realizadas para não deixar as populações do Interior desassistidas
Quixeramobim. Os moradores deste Município do Sertão
Central do Estado do Ceará, distante cerca de 200 quilômetros da
Capital, Fortaleza, têm a dimensão real da seca que já castiga o sertão
por cinco anos seguidos quando olham para o açude que leva o nome da
cidade. Desde outubro de 2015, não há uma gota d'água sequer no
Quixeramobim. O chão rachado e plantações de forragem para o gado tomam o
espaço onde no passado havia água em abundância.
O açude integra a Bacia do Banabuiú, que comporta outros 18
reservatórios. Juntos e completamente cheios, eles garantem o terceiro
melhor aporte ao Ceará. Mas a Bacia está com apenas 2,11% de sua
capacidade total, a terceira pior média entre as 12 bacias estaduais. De
acordo com a Companhia Cearense de Gestão e Recursos Hídricos (Cogerh)
38 açudes do Estado estão secos. Outros 42 estão em volume morto.
Desde fevereiro deste ano a água que chega às casas dos habitantes de
Quixeramobim vem do açude Pedra Branca, que também abastece Quixadá. A
situação do reservatório começa a gerar preocupação na população. "O
açude já reduziu bastante a sua capacidade e ainda abastece outra
cidade. Essa é a grande preocupação", afirma a estudante Natália Leal,
23.
Receio
Segundo dados do Portal Hidrológico do Ceará, que realiza a medição
diária de todos os 153 açudes monitorados pela Cogerh no Estado, o Pedra
Branca está com pouco mais de 36 milhões metros cúbicos acumulados, o
que dá 7,97% de seu total. "A população está contando mesmo é com as
rezas. Pedi a São José que mande chuva porque as cidades vizinhas todas
estão sem água", completa a estudante. O medo de quem mora em
Quixeramobim não é diferente de nenhum outro que mora no sertão: ficar
sem água. "Não tem mais de onde tirar. Eu mesmo não sei o que vou fazer,
o que vai ser da gente se não chover para o ano e esse açude secar",
desabafa a dona de casa Francisca Lúcia Pinheiro, 77.
Sob controle
Para o gerente da Bacia do Banabuiú da Cogerh, Paulo José Ferreira, não
há razões para se preocupar. Estudos da Cogerh têm mostrado um cenário
de estabilidade hídrica, mesmo no caso de mais um ano de seca.
"Permanecendo a retirada de água do Pedra Branca, e mesmo que não chova
nada no ano que vem, ele suportará até o fim do primeiro semestre de
2018", afirma.
Apesar do medo, o abastecimento na cidade segue com normalidade. O
gerente explica que o açude dá conta de uma demanda de 100 mil
litros/hora. "70% do abastecimento do Município é com a água da adutora e
os outros 30% são garantidos com água de poços profundos. Temos 23
perfurados na cidade", diz. Ele explica que a adutora, orçada em R$ 32
milhões, trouxe a tranquilidade para a cidade. "É essa água que garante o
funcionamento de empresas, indústrias, faculdades e que vai garantir
também o funcionamento do Hospital Regional do Sertão Central",
completou Paulo.
Ações de convivência
Iniciativas como perfurações de poços fazem parte de uma série de ações
alternativas para vencer os problemas que a seca impõem. Segundo o
presidente da Cogerh, João Lúcio Farias, neste ano já foram perfurados
1.430 poços e instalados 517 chafarizes e 69 dessalinizadores. "Para
2016 estamos com a meta de mais de 2 mil intervenções de aproveitamento
de água subterrâneas. Muitas cidades não entraram em colapso porque
tomamos essas medidas", frisou.
João Lúcio revelou que a situação de escassez de água nos municípios do
Interior é avaliada semanalmente por meio de encontros no gabinete do
governador Camilo Santana, com representantes da Cogerh, Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Superintendência
de Obras Hidráulicas (Sohidra), Companhia de Água e Esgoto do Ceará
(Cagece), Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) e Defesa Civil.
"Fazemos a avaliação dos municípios e traçamos cenários e onde temos um
quadro de falta d'água e vamos trabalhando alternativas. Nós estamos
desenvolvendo todo esse trabalho para garantir o abastecimento de todas
as cidades", disse o presidente da Cogerh.
Por melhores que sejam os estudos, no entanto, é necessário que a
população faça a sua parte. Sem um uso consciente da água, eles não
funcionam, diz Paulo Ferreira.
"Mesmo tendo essa garantia até 2018, isso não quer dizer que seja
implementada política de racionamento, de uso consciente, e que a
população não veja nisso um alento para usar água de forma irracional.
Para que a gente alcance esse objetivo, é necessário que a população use
a água e forma consciente", finalizou João Lúcio.
Por
José Avelino Neto - Colaborador
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