Ministro da Secretaria de Governo deixa posto no Palácio do Planalto atingido por escândalo envolvendo um apartamento em Salvador.

Brasília - O Ministro da Secretaria de
Governo, Geddel Vieira Lima, durante reunião com líderes partidários da
Câmara dos Deputados. (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O ministro Geddel Vieira Lima não comanda mais
a Secretaria de Governo. Ele confirmou a VEJA, por telefone, que já
conversou com o presidente Michel Temer nesta manhã e entregou a carta
de demissão. Geddel deixa o cargo seis meses depois de o governo Temer
assumir o Palácio do Planalto. A demissão ocorre depois de Geddel ser acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de tentar usar o cargo para pressionar pela liberação de uma obra de seu interesse na Bahia.
“Já preparei a carta de demissão e já entreguei ao presidente”, disse Geddel.
Na carta de demissão, Geddel afirma que o sofrimento de seus
familiares foi determinante para a decisão. “Avolumaram-se as críticas
sobre mim. Em salvador, vejo o sofrimento de meus familiares. Quem me
conhece sabe ser esse o limite da dor que suporto. É hora de sair”,
escreveu o agora ex-ministro da Secretaria de Governo.
Nesta quinta-feira, o ex-ministro da Cultura prestou depoimento à Polícia Federal
em que revelou ter sido pressionado por Geddel e pelo próprio
presidente Michel Temer, além do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha,
a liberar a construção de um edifício residencial em uma área tombada
pelo patrimônio histórico em Salvador. Geddel é dono de um apartamento
no empreendimento e seria prejudicado pelo embargo da obra. O Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que proibiu a obra, estava
subordinado a Calero.
Ainda em sua carta de demissão, Geddel pede desculpas “aos
que estão sendo alcançados” pelos desdobramentos do escândalo, afirma
que “o Brasil é maior do que tudo isso” e avisa que irá retornar ao seu
estado natal: “Fiz minha mais profunda reflexão e fruto dela apresento
aqui este meu pedido de exoneração do honroso cargo que com dedicação
venho exercendo. retorno a Bahia, sigo como ardoroso torcedor do nosso
governo, capitaneado por um presidente sério, ético e afável no trato
com todos, rogando que, sob seus contínuos esforços, tenhamos a cada dia
um país melhor”.
Depois de acusar a cúpula do governo de tentar pressioná-lo a
liberar uma obra de interesse pessoal de Geddel, Marcelo Calero
entregou à Polícia Federal gravações das conversas que teve com Temer, Geddel e Padilha, além de dois auxiliares próximos do presidente.
O próprio Palácio do Planalto obteve a confirmação da
existência dos áudios. “As gravações não são de boa qualidade, porque
foram feitas com um aparelho que aparentemente estava no bolso do
Calero”, disse um ministro palaciano.
Depois de receber a informação de que o ex-ministro havia
gravado as conversas, o governo confirmou as reuniões com Calero. Por
meio do porta-voz da presidência, Michel Temer admitiu que conversou com
Marcelo Calero para “arbitrar o conflito” entre o então ministro da
Cultura e o titular da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, mas
negou qualquer pressão no caso.
“O presidente trata todos seus ministros como iguais. E
jamais induziu algum deles a tomar decisão que ferisse normas internas
ou suas convicções. Assim procedeu em relação ao ex-ministro da Cultura,
que corretamente relatou estes fatos em entrevistas concedidas”, disse o
porta-voz Alexandre Parola.
Até o começo da madrugada desta sexta-feira, Geddel
manifestava o desejo de continuar no cargo. As revelações de Calero
comprometendo diretamente o próprio presidente Michel Temer, no entanto,
foram determinantes para a saída.
Confira a íntegra da carta de demissão abaixo:
“Meu fraterno amigo presidente Michel Temer,
Avolumaram-se as críticas sobre mim. Em Salvador, vejo o
sofrimento dos meus familiares. Quem me conhece sabe ser esse o limite
da dor que suporto. É hora de sair.
Diante da dimensão das interpretações dadas, peço desculpas
aos que estão sendo por elas alcançados, mas o Brasil é maior do que
tudo isso.
Fiz minha mais profunda reflexão e fruto dela apresento aqui
este meu pedido de exoneração do honroso cargo que com dedicação venho
exercendo.
Retornado a Bahia, sigo como ardoroso torcedor do nosso
governo, capitaneado por um Presidente sério, ético e afável no trato
com todos, rogando que, sob seus contínuos esforços, tenhamos a cada dia
um país.
Aos congressistas, o meu sincero agradecimento pelo apoio e
colaboração que deram na aprovação de importantes medidas para o Brasil.
Um forte abraço, meu querido amigo.
Geddel Vieira Lima”
Geddel Vieira Lima”
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