É essencial que a mulher conheça os benefícios deste tipo de parto, tanto no que diz respeito à sua recuperação como em relação à saúde do bebê
Foto: Getty Images
Nos
dias de hoje, parece essencial resgatar a importância do parto normal,
visto que, no Brasil, mais de 50% dos partos realizados são por cesárea, e ainda existem muitas dúvidas e até mitos sobre o tema.
Existem
casos e casos, mas o que toda mulher deveria pensar, em primeiro lugar,
é que o parto normal é a melhor opção para ela e para o bebê; ou seja,
pelo menos cogitar esta possibilidade e se informar sobre o assunto.
Alberto Guimarães, ginecologista e obstetra, defensor dos conceitos de parto humanizado e criador do Programa Parto Sem Medo,
destaca que esse tipo de parto é muito importante no que diz respeito à
maturidade do bebê. “É a melhor opção porque ‘não se tira o bebê fora
de hora’, evitando causar uma prematuridade”, diz.
Além disso,
conforme destaca o ginecologista e obstetra, a mulher tende a ter menos
sangramento neste tipo de parto, tem menos infecção, tem mais facilidade
em cuidar deste bebê porque não foi submetida a nenhum procedimento
cirúrgico, entre outras vantagens.
Mas, então, por que atualmente
existe tanto “receio” em relação ao parto normal? Por que o Brasil é o
líder em cesáreas? Quais são os principais mitos e verdades que envolvem
o assunto? Em quais casos a cesárea é realmente necessária?
Abaixo você entende melhor como ocorre o parto normal e esclarece suas dúvidas sobre o assunto.
Parto normal: do pré-natal ao pós-parto
Para
evitar medos e até para “fugir” dos principais mitos que envolvem o
assunto, é essencial a gestante entender como o parto normal acontece,
conhecendo cada uma de “suas etapas” e se sentindo mais segura em
relação à sua escolha.
O pré-natal
Foto: Getty Images
O
pré-natal, de acordo com Guimarães, é fundamental, porque é ali que
está a informação, o conhecimento, o compartilhamento de experiências
com outras pessoas que já passaram ou que pretendem passar por este
caminho. “É o momento que o pessoal da área de saúde pode informar, é
ali que se pode pensar na fisiologia do parto, dizer como ele acontece”,
diz.
“No pré-natal também se discute sobre planos de parto, para
dar uma ideia do que a mulher está buscando, o que ela deseja e o que
ela considera limite, então, é o momento oportuno para se aprofundar uma
discussão e aprender como superar algumas dificuldades”, acrescenta o
ginecologista e obstetra.
Uma das coisas mostradas no pré-natal,
destaca Guimarães, são os sinais que mostram que “está chegando a hora”:
a perda do tampão mucoso (secreção gelatinosa que ocorre conforme a
proximidade do parto) e as contrações uterinas regulares, que
caracterizam o trabalho de parto.
Élvio Floresti, ginecologista e
obstetra do Centro Médico Floresti, ressalta que o pré-natal é
fundamental independentemente do tipo de parto que a gestante terá.
“Nele avaliamos se existem doenças pré-existentes ou atuais, tais como
viroses tipo rubéola, citomegalovírus, toxoplasmose, HIV e hepatites”,
diz.
“Com os exames ultrassonográficos cada vez mais sensíveis,
conseguimos praticamente afastar ou confirmar a ocorrência de
cromossomopatias, como Síndrome de Down, e verificar se o bebê está se
desenvolvendo perfeitamente. Não há surpresas no nascimento se um
pré-natal foi bem feito”, acrescenta Floresti.
O parto normal em si
Guimarães
aponta que existem algumas etapas: a fase inicial do trabalho de parto
demora muito mais tempo; a dilatação do colo (que é por onde o bebê vai
sair) é mais lenta. “Então, apesar de ter cólica e ser desconfortável,
isso não significa que a criança já esteja saindo”, diz.
A fase
ativa do trabalho de parto, quando as contrações ficam mais
desconfortáveis, significa que, dali a pouco tempo, a mulher já vai
entrar em outro período, o expulsivo, que é quando o bebê vai sair.
“Então, o parto não é só focado em quando o bebê já está saindo, ele
começa quando os sinais aparecem, quando as contrações começam a ficar
mais próximas, e aí as pessoas vão perceber que é preciso ir até a
maternidade (se o parto for pensado neste ambiente)”, explica Guimarães.
O
tempo é muito relativo, já que o trabalho de parto pode levar de 12h
até 18h. “Não vamos pensar que na primeira contração podemos acionar o
relógio e achar que já começou o trabalho de parto. Porque isso pode ter
o espaçamento de até 3 dias e, assim, a mulher não vai dormir achando
que o neném vai nascer, e quando ela precisar de força, vai estar
cansada, com sono”, comenta Guimarães.
O pós-parto
Foto: Getty Images
Logo
após o nascimento do bebê, de acordo com Guimarães, a mulher,
teoricamente, já pode levantar, tomar banho sozinha… “E a recuperação é
incomparavelmente melhor do que em um parto cirúrgico. É importante
lembrar que essa mulher precisa cuidar do bebê, e no parto normal, sem
dúvida, ela vai estar em melhores condições físicas e mentais para fazer
isso”, diz.
Floresti destaca que o pós-parto dependerá também do
fato de ter sido feita ou não a episiotomia (corte na área entre a
vagina e o ânus chamada de períneo). “Em casos em que não foi feito este
procedimento, em poucas horas a mulher já estará bem, andando
tranquilamente e com poucas dores”, diz.
“No caso da realização da
episiotomia, fica um pouco mais doloroso. Por isso, recomendamos
aguardar um pouco mais para caminhar; geralmente no dia seguinte. Mas,
também é bem tranquilo se compararmos com o pós-operatório da cesárea”,
acrescenta Floresti.
Nada
melhor do que ouvir a história de quem já passou por essa experiência.
Confira nos vídeos a seguir alguns relatos interessantes de partos
normais reais:
1. Tiago e Gabi
O casal Tiago e Gabi contam tudo sobre o nascimento da primeira filha deles, Manuh.
2. Flavia Calina
Neste
vídeo, é possível acompanhar todo o parto de Flavia Calina, enquanto
ela vai também relatando suas sensações e expectativas.
3. Raka Minelli
Raka
Minelli relata como foi seu parto, os momentos de dor, as expectativas,
o momento do nascimento em si e toda a emoção envolvida.
4. Iris Gabrielle
No vídeo, você confere como foi o nascimento do Pedro Arthur, e os primeiros momentos dele com a mamãe.
5. Rê Dourado
Rê Dourado conta como foi seu parto, que foi prematuro de 35 semanas e natural.
6. Nascimento da Luiza
O vídeo mostra a chegada da Luiza, que nasceu de um parto domiciliar humanizado.
Os principais benefícios do parto normal
Foto: Getty Images
É
importante que a mulher esteja atenta às vantagens que o parto normal
oferece, não só no que diz respeito à recuperação pós-parto, mas também
em relação à saúde do bebê e ao vínculo entre mãe e filho.
Em
relação aos benefícios para o bebê, Guimarães destaca: o bebê tem a
chance muito maior de nascer maduro, de o pulmão estar funcionando bem e
de ser amamentado.
“No parto normal, se deixarmos para cortar o
cordão tardiamente, vai uma quantidade de sangue da placenta para o
bebê, isso faz com que ele tenha menos chance de ter anemia na fase
inicial”, explica Guimarães.
Para o bebê, o parto normal é também a
possibilidade de ter contato pele a pele mais rapidamente com a mãe.
“Porque o lugar dele é exatamente no colo dela, não em um berço”, diz o
obstetra.
Para a mãe, fora a “sensação de vitória” que tem pelo
fato de conseguir completar esse ciclo, que é parir, ela tem geralmente
menor possibilidade de sangramento e infecção. “No parto normal não se
compromete o útero, então, aumenta-se muito mais a chance de outro parto
normal; e também se evita as complicações de quando se faz uma cesárea
sem necessidade. Ou seja, a mulher tem muito a ganhar também no parto
normal”, diz.
Vale lembrar que a recuperação é muito mais rápida e
tranquila após o parto normal, e a mulher costuma recuperar seu peso
mais facilmente.
11 dúvidas sobre parto normal esclarecidas
Foto: Getty Images
Abaixo,
os médicos respondem às principais questões que envolvem este tipo de
parto, ajudando a desconstruir mitos, e propiciando às mulheres uma
visão realista do que o parto normal realmente significa.
1. Quanto tempo pode durar o parto?
Pode
durar algumas horas, de 12 a 18h, de acordo com Alberto Guimarães.
“Quando essa demora acontece, temos que estimular a pessoa, lembrar que
no trabalho de parto a gente tem contração, a contração é como uma onda,
ela vem, incomoda e passa, não é algo que se estende durante as 12h. No
trabalho de parto, se a mulher embarca nas sensações, ela entra na
‘partolândia’, que é quando ela fica em um estágio especial de
consciência, fica ‘meio fora do ar’, e tira esse referencial de dor que
muita gente imagina que vai ser uma dor insuportável, e entra em uma
experiência mais focada para o nascimento”, diz.
2. É correto dizer que o parto normal dói muito?
Para
Guimarães, a dor do trabalho de parto não pode ser entendida e
traduzida como um sofrimento ou uma situação em que a pessoa “não vai
dar conta”.
“A dor pode ser desafiadora, sim, mas eu tenho visto
na nossa experiência do ‘Parto sem Medo’ que muitas mulheres não pedem
analgesia apesar da anestesista estar à disposição. Isso mostra que a
dor e o desconforto existem, mas que, se eles chegarem a um ponto em que
sejam intoleráveis, tem a analgesia e, assim, não se precisa fugir do
parto normal”, diz Guimarães.
“Essa questão de que dói muito é
extremamente relativa, inclusive temos experiências em que não relatam
essa dor toda, e tem gente que no começo já pediu ajuda, e nós temos que
respeitar isso”, acrescenta o ginecologista e obstetra.
3. Para evitar dores, o parto normal pode ser feito com anestesia?
Sim.
De acordo com Élvio Floresti, durante o trabalho de parto, o médico,
após avaliar a dilatação e insinuação do polo cefálico, já pode indicar o
uso da anestesia. “Sendo assim, a anestesia pode ser feita com uma
peridural contínua, ainda na fase de dilatação do colo, fazendo com que
as dores praticamente cessem, mas que as contrações uterinas continuem
em atividade, conduzindo ao parto normal”, diz.
“A anestesia de um
parto pode ser feita já com a dilatação completa, e nesses casos, é
escolhido entre a peridural ou raquianestesia, dependendo da posição do
bebê, dilatação, insinuação, etc. Muitas vezes, principalmente quando é
feito por plantonistas, a anestesia é feita apenas local, no momento da
retirada do bebê”, acrescenta Floresti.
4. Existem medidas que ajudam a mulher a sentir menos dor na hora do parto normal?
Para
Floresti, em um pré-natal bem feito, será explicado como será o momento
do parto, e a mulher já chegará mais tranquila e com conhecimento de
como será o andamento de tudo.
“Podem ser feitos ainda o uso de
massagens, banheiras quentes, bolas, contratação de doulas, enfim…
várias coisas com o intuito de trazer mais tranquilidade para a mãe
nesse momento tão desejado. E sem falar que a dor definitiva pode ser
eliminada com anestesia, se necessário”, destaca Floresti.
5. É possível se preparar e estimular o parto normal durante a gravidez?
Sim
e isso deve ser feito, de acordo com Floresti. “A mulher sempre deve
ser estimulada para poder vir a ter um parto normal. No início do
pré-natal, já vamos orientando quais exercícios estimulam a região da
bacia, vagina, qual o movimento da respiração, etc.”, diz.
“Existem
cursos de pré-natais ministrados pelos principais hospitais de São
Paulo, por exemplo. Assim, o desejo da mulher de ter um parto normal e
um bom acompanhamento são fórmulas bem simples, que geralmente culminam
na ocorrência do parto normal”, destaca Floresti.
6. É verdade que o parto normal alarga o canal vaginal?
“Para
a passagem do bebê, se distende a musculatura, e eu diria que pode
alargar, sim, e o canal tem que alargar senão o neném não vai passar”,
responde Guimarães.
“Entretanto, é importante saber que existem
uma série de cuidados, exercícios e providências a tomar para que essa
musculatura distenda e alargue para a passagem do bebê… Mas, depois que
passar o bebê, e com os hormônios diminuindo, com essa nova consciência
corporal, e com os exercícios que existem, essa mulher continue tendo
uma vagina e uma vulva com musculatura, que poderá atuar e ser utilizada
na questão sexual, sem prejuízo. Não existe isso de querer operar para
não alargar o canal vaginal, até porque o peso do útero no assoalho
pélvico já pode dar uma distendida no músculo, e assim a incontinência
urinária também pode ocorrer em quem fez cesárea”, destaca Guimarães.
7. Grávida de gêmeos pode ter parto normal?
Pode,
mas existem algumas situações: “a grávida gemelar tende a dar a luz
antes das 40 semanas, então essa questão da prematuridade é algo a se
considerar, além disso, a posição dos bebês também é importante para
pensar na via de parto”, explica Guimarães.
“Geralmente, para se
pensar no parto normal, o primeiro precisa estar de cabeça para baixo, o
cefálico. A diferença do peso entre eles também é importante, é
interessante observar se o primeiro tem o peso igual ou maior que o
segundo, essa diferença não pode ser muito grande. Mesmo que o bebê
esteja sentado e se pense em uma cesariana, dá para esperar que a mãe
entre em trabalho de parto. Não é apenas porque é gemelar que se deve
tentar ‘simplificar as coisas’”, destaca Guimarães.
8. É verdade que “mulheres muito pequenas” ou com quadris estreitos não poderão ter parto normal?
Não.
“Novamente entramos na questão da prova do trabalho de parto. Muitas
vezes imaginamos ‘ah, que mulher pequena’ ou ‘que mulher magrinha’, e na
verdade quando ela entra em trabalho de parto, contrai bem, dilata bem a
bacia, e essa mulher que, aparentemente era magrinha e fraquinha, tem
um parto normal”, comenta Guimarães.
9. Em quais casos o parto normal é indicado e em quais casos não é indicado?
Toda
mulher que está grávida devia pensar que ela é uma candidata ao parto
normal, de acordo com Guimarães. “Vivenciar a gestação de maneira
saudável, pensando em uma experiência extraordinariamente boa, pensar em
tudo de bom que aconteceu nesta gravidez para aumentar o nosso cabedal
de experiências e vivências, ajuda para que essa mãe esteja mais
preparada com esse bebê e pela questão da própria família que está
nascendo ali”, comenta.
“É muito raro que não seja indicado este
tipo de parto, a não ser que o bebê esteja em uma posição transversa,
porque quando entra em trabalho nesta posição, o bebê não consegue
nascer e ele vai precisar de uma cesárea”, explica Guimarães.
“Outro
caso é quando existe a placenta prévia, centro ou total, muitas vezes
resultado de uma mulher que já teve cesárea. Essa placenta fica embaixo,
ali na entrada do colo do útero e tampa o colo, se formos querer
dilatar esse colo, a placenta vai descolar e só vamos ter sangue e será
necessário operar, essa é uma situação que é necessária pensar em uma
cesárea”, destaca Guimarães.
“Eu sempre acho importante o trabalho
de parto, porque ele é como uma prova, que aponta quem é apta para o
parto normal e quem precisa de uma cesárea”, acrescenta o ginecologista e
obstetra.
10. Como costuma ser a recuperação após o parto normal?
Após
o parto, a recuperação costuma ser, de maneira geral, boa. “A mãe tem
um levantar mais precoce, consegue lidar mais facilmente com seus
cuidados pessoais e higiene. É importante lembrar que essa questão do
pós-parto traz outra situação que é a questão do amamentar, e para isso
ela tem que estar bem, segura, confiante, porque ela vai atender a uma
outra demanda enorme, e que vai exigir que ela ‘esteja inteira’. Essa
recuperação então é uma possibilidade a mais de a amamentação ser bem
sucedida”, destaca Guimarães.
11. A mulher que tem parto normal recupera mais rapidamente seu peso após a gravidez?
Para
Floresti, a recuperação do peso após o parto não depende tanto do tipo
de parto, e sim da mulher. “Se ela amamenta, é mais rápido. E, como o
parto cesárea é mais doloroso, principalmente nos primeiros dias onde a
mulher fica mais de repouso e perdendo menos calorias, a recuperação do
peso é um pouco mais acelerada no parto normal, mas não é tão
significativo”, diz.
Por fim, vale lembrar: o mais importante de
tudo é a mulher considerar todas as possibilidades, se informar sobre os
diferentes tipos de parto, para, assim, tomar sua própria decisão. E,
segura sobre suas escolhas, naturalmente se sentirá mais tranquila
durante toda a gestação e no momento do parto em si.
Tais Romanelli em 16/09/2016
0 comentários:
Postar um comentário