Ian Joughin/Science/Divulgação | ||
Canal formado por derretimento de gelo na Groenlândia |
Cientistas que estudam padrões de mudanças naturais no clima da Terra
disseram nesta quinta-feira (19) que descobriram um sinal "preocupante"
de que o aumento do nível do mar pode estar a caminho.
Publicadas na revista "Science", as descobertas mostram que as
temperaturas da superfície do oceano durante o último período quente da
Terra, há 125 mil anos, eram notavelmente semelhantes às de hoje.
Mas o que preocupa os cientistas é que o nível do mar naquela época era de seis a nove metros acima do que é hoje.
"A tendência é preocupante", disse o estudo, liderado por pesquisadores
da Universidade do Estado de Oregon, da Universidade College Dublin, da
Universidade de Wisconsin e do Museu de Ciência da Virgínia.
"Esses resultados podem ajudar os cientistas a entender melhor como os oceanos responderão ao aquecimento moderno", acrescentou.
A Terra passa por períodos de calor e de frio que duram milhares de
anos, e estes são influenciados por mudanças na exposição solar causadas
por variações naturais na órbita do planeta, combinadas com a
influência de gases causadores de efeito estufa na atmosfera.
Esses deslocamentos naturais diferem, porém, do ritmo atual de
aquecimento da Terra, muito mais rápido, que é impulsado pela queima de
combustíveis fósseis e pela emissão de gases que causam o aquecimento
global, levando ao derretimento das geleiras e à subida do nível do mar.
A última vez que o clima foi excepcionalmente quente –na ausência de
influência humana– foi há entre 116 mil e 129 mil anos, durante o que é
conhecido como o último período interglacial.
Esse foi um dos períodos mais quentes nos últimos 800 mil anos, de acordo com o estudo.
IMPACTO DA HUMANIDADE
O estudo se baseou na análise de 83 núcleos de sedimentos marinhos, que
podem dar pistas sobre o quão quente a Terra e os oceanos foram no
passado.
Cada núcleo foi comparado com conjuntos de dados de 1870-1889 e de 1995-2014.
A análise mostrou que, 129 mil anos atrás, a temperatura global da
superfície do oceano "já era semelhante à média de 1870-1889".
A temperatura subiu ao longo dos 4.000 anos seguintes, "atingindo uma temperatura indistinguível da média de 1995-2014".
A descoberta significa que alguns modelos científicos que foram usados
para estimar os níveis do mar em várias temperaturas podem ter sido
subestimados.
Os cientistas já previram que o nível do mar subirá vários metros nos
próximos anos, o que irá submergir muitas das comunidades costeiras do
planeta, onde vivem um bilhão de pessoas.
Ninguém sabe quão rápido os mares podem subir nas próximas décadas, mas
alguns especialistas dizem que esse estudo recente é motivo de alarme.
"A descoberta de que as atuais temperaturas globais da superfície do mar
são indistinguíveis daquelas do último período interglaciar, há 125 mil
anos, é extremamente preocupante, já que o nível do mar era de seis a
nove metros mais alto do que o atual", disse o professor de Ciência do
Clima Richard Allan, da Universidade de Reading, que não participou do
estudo.
Allan disse que ainda pode levar milhares de anos para o mar atingir tal
nível e que cortes no uso de combustíveis fósseis ainda poderiam ajudar
a evitar esse processo.
"Devido ao tempo que leva para as profundezas dos nossos vastos oceanos
aquecerem e para as gigantescas placas de gelo derreterem, levaria
milhares de anos até que o nível do mar pudesse atingir tais níveis.
Então, cortes contínuos e substâncias das emissões de gases de efeito
estufa das atividades intensivas de energia continuam sendo vitais e
benéficos para as sociedades", afirmou.
Cientista do Clima Oceânico na Universidade de Southampton, Meric
Srokosz disse que o estudo é significativo, porque mostra que as
mudanças nas temperaturas que ocorreram ao longo de milhares de anos
estão agora ocorrendo no espaço de um século.
"Isso demonstra o rápido impacto da humanidade no planeta e aumenta a
possibilidade de subidas significativas no nível do mar em longo prazo",
acrescentou Srokosz.
DA AFP
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