A velocidade
com que o vírus da doença se alastra no Estado do Ceará preocupa médicos
infectologistas
Os casos
confirmados de chikungunya no Ceará aumentaram 1.200% no período compreendido
entre o mês de janeiro e as primeiras semanas de fevereiro de 2016, e igual
período deste ano. Nesse intervalo de tempo, a Secretaria da Saúde do Estado
(Sesa) comprovou 28 ocorrências da doença ano passado e 365 registros positivos
em 2017. Somente Fortaleza contabiliza 215, seguido por Pentecoste, com 88, e
Baturité, com 42 pessoas, e Caucaia, com nove infectadas pelo mosquito
transmissor também da dengue (com 405 casos em janeiro e fevereiro de 2017) e
zika. Até agora, não houve morte.
A velocidade
com que o vírus chikungunya (chikv) se prolifera no Estado chama atenção não só
de infectologistas e gestores de saúde, como também de especialistas de outras
áreas, como a reumatologia. De acordo com coordenadora de Promoção e Proteção à
Saúde da Sesa, Daniele Queiroz, a questão é a relativa frequência com que se
torna crônica. Como a dengue, explica, a infecção pelo chikv causa febre alta
de início agudo, dores fortes em músculos e articulações e na cabeça. No
entanto, o chikv provoca, além da dor, inflamação nas articulações, o que não
acontece com a dengue; as dores podem ser tão intensas a ponto de impedir o
doente de realizar atividades rotineiras, como vestir-se ou pentear os cabelos.
Médicos como Ivo Castelo Branco, relatam casos de pacientes que ainda sentem
problemas nas articulações há mais de um ano. "É preciso atenção com a
doença e as ações começam em casa", afirma o especialista.
Capacitação
A apreensão
não só com a doença, mas com a dengue e zika, motivou a Sesa a promover a
Capacitação no Manejo Clínico das Arboviroses, realizada ontem, no auditório da
Unichristus, para médicos da rede estadual da saúde pública e privada e
ministrada pelo médico, professor da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fiocruz, Rivaldo Venâncio
Cunha.
Mudanças
ambientais e nas práticas agrícolas, aumento de viagens e do comércio
internacional e uma urbanização não planejada estão causando aumento no número,
na disseminação de muitos vetores no mundo e tornando novos grupos de pessoas
vulneráveis. "No Ceará, outros fatores como a seca, mudanças nas gestões
municipais e descontinuidade de ações de controle vetorial potencializaram o
aumento de casos" diz Daniele Queiroz. O Dia D de combate ao vetor será no
próximo dia 23.
Entrevista
com Rivaldo Venâncio Cunha*
O senhor
afirma que a chikungunya será a grande preocupação dos infectologistas neste
ano. O que aconteceu para o vírus se alastrar com tanta facilidade?
Enquanto as
atenções se voltavam para o vírus zika, outro agente infeccioso, causador de
uma enfermidade bem mais dolorosa e debilitante, alastrava-se pelo País de
maneira discreta, a febre chikungunya. Agora, é preciso correr para combatê-la.
Os pacientes
apresentam sequelas? Quais as principais queixas?
Diferente da
dengue ou zika, a chikungunya incapacita o doente. Ele tem dificuldades de
assinar o nome, dirigir, tomar banho. As dores são frequentes e atingem as
articulações, mãos e tornozelos.
O que não
aprendemos no combate ao Aedes nesses 30 anos e como combater a dengue?
Não existem
soluções mágicas. Acredito que pulverizar as áreas com focos e os governos
deveriam investir e garantir água encanada regular, saneamento básico, recolher
e tratar o lixo e fazer campanhas que realmente esclareçam de fato a população.
Extraído do Diário do Nordeste
Por Lêda Gonçalves - Repórter
*Pesquisador
da Fiocruz e professor da UFMS
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