Brasil vence Paraguai e não vê a hora de a Copa chegar. Com um ídolo no banco e outro no campo, hexa começa a virar uma (perigosa) obsessão
Por Luiz Felipe Castro
Coutinho abriu a festa com um golaço na primeira etapa (Ivan Pacheco/VEJA.com)
Restam 443 dias para a bola começar a rolar em Moscou, mas o sonho do hexa começa a (perigosamente) ganhar forma. Nem mesmo o histórico recente – a seleção brasileira fracassou nas últimas três Copas, nas quais chegou como favorita – é capaz de diminuir o entusiasmo do torcedor depois da vitória por 3 a 0 desta quarta-feira, com gols de Philippe Coutinho, Neymar e Marcelo, na gelada noite na zona leste de São Paulo. Com o técnico Tite, o dono da festa no Itaquerão, já são oito vitórias seguidas nas Eliminatórias, 23 gols marcados e apenas dois sofridos, classificação garantida para o Mundial, além da liderança do ranking da Fifa. O 7 x 1 ainda dói, mas com o capitão Neymar na fase mais madura da carreira, um treinador-ídolo, e uma equipe organizada, a empolgação é inevitável.
O público paulista, tantas vezes apontado como exigente e até amargo em relação à seleção, não foi caloroso como o nordestino ou barulhento como o mineiro, mas demonstrou afeto do aquecimento ao apito final. Neymar, assim como em suas outras passagens por Itaquera, na Copa de 2014 e na Rio-2016, foi celebrado pelos fãs a cada toque na bola. Até mesmo depois que desperdiçou um pênalti duvidoso, teve seu nome gritado em coro. Depois, fez explodir a arena, com uma bela arrancada que terminou nas redes. Só não foi mais ovacionado do que o técnico Tite, ídolo do Corinthians e agora de todo o país. O grito de “Olê Olê Olê, Tite, Tite” tem sido ouvido em todos os estádios por onde a equipe passa e ecoou ainda mais forte na arena alvinegra desde o anúncio da escalação no telão.
O Paraguai, que não perdia para o Brasil desde 2009, conseguiu a proeza de errar o primeiro toque do jogo, logo na saída de bola, mas fez uma primeira etapa bastante decente. O time dirigido por Francisco Arce, ídolo de Palmeiras e Grêmio nos tempos de lateral-direito, marcou forte – às vezes até demais, que o diga Neymar. De penteado discreto e braçadeira de capitão no braço, o camisa 10 confirmou em campo o que disse na coletiva: está mais maduro e em plena forma. Arrancando da esquerda para o centro, levou três pancadas em menos de dez minutos, mas manteve o foco. Paulinho, outro ex-corintiano aclamado em Itaquera, levantou a torcida ao pedir pênalti, ignorado pela arbitragem, e em sequência de arrancadas pela direita.
Quem novamente destoava era Marcelo, que abriu a Copa de 2014 com um gol contra no mesmo estádio, e mais uma vez desagradou os paulistas com erros bobos na primeira etapa – ele, porém, se redimiria em grande estilo. Quando a torcida começava a desanimar, Philippe Coutinho entrou em cena. O meia do Liverpool, que já arrancava suspiros da torcida com toques de classe e dribles curtos, encarou a defesa, tabelou com Paulinho, que deu belo toque de calcanhar, e bateu de primeira, de esquerda, sem chances para Anthony Silva, aos 33 minutos.
O time voltou para o segundo tempo com Thiago Silva no lugar de Marquinhos. O zagueiro marcado pelo fracasso em 2014 provocou reações: um misto de vaias e aplausos, quando teve o nome anunciado. O Brasil voltou com mais apetite, e teve a chance de ampliar logo aos cinco minutos, quando Neymar entrou driblando em velocidade até cair na área após dividida com a zaga. A torcida pediu pênalti e o árbitro concordou. Neymar, porém, deu uma paradinha e bateu mal, nas mãos de Anthony Silva. Como nas eliminações para o Paraguai nas Copas América de 2011 e 2015, a marca da cal foi inimiga do Brasil.
Neymar, porém, não desanimou e, aos 18 minutos, se redimiu. Com impressionante velocidade, arrancou pela esquerda, enfileirou marcadores e esperou o momento exato para finalizar. A bola ainda desviou na zaga e entrou, para delírio do público. O craque do Barcelona ainda voltou a marcar e celebrar efusivamente com a torcida dez minutos depois, mas, corretamente apesar do atraso, o gol foi anulado por impedimento. Ele seguiu driblando – e apanhando -, mas, conforme comentou Tite na prévia, com objetividade e sem menosprezo aos adversários. O terceiro gol, um golaço, coroou a festa. A linda trama entre Coutinho e Paulinho terminou com um toque de classe de Marcelo. O jogo terminou com gritos de “olé”, “o campeão voltou” e “Olê, olê, olê, Tite, Tite”. O técnico gaúcho proporcionou uma verdadeira metamorfose na seleção em oito jogos. Seu próximo desafio agora será conter a empolgação exagerada.
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