O ex-diretor, Dimas Toledo, afirmou que versão seria mentirosa
Inquérito apura o suposto envolvimento do senador tucano no esquema de corrupção na estatal de energia Foto: Antônio Cruz
Quase
12 anos após as primeiras denúncias de corrupção em Furnas, o
ex-diretor de Engenharia da empresa Dimas Fabiano Toledo ficou frente a
frente com o lobista e delator Fernando Horneaux de Moura condenado a 16
anos e dois meses de prisão na Lava Jato.
Na acareação, Fernando Moura manteve sua versão de que, em 2003, o
então dirigente de Furnas teria garantido que um terço da propina
arrecadada na estatal iria para o PT nacional, um terço para o PT de São
Paulo e um terço para o atual presidente do PSDB, senador Aécio Neves
(MG).
A acareação foi realizada pelos investigadores da Lava Jato perante o
Supremo Tribunal Federal (STF), no inquérito que apura o suposto
envolvimento do senador tucano em um esquema de corrupção na estatal de
energia. A investigação é um dos desdobramentos da Lava Jato e foi
aberta a partir da delação do ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT/MS).
Amigo do petista José Dirceu, condenado a 20 anos de prisão na Lava
Jato, Fernando Moura auxiliou o então ministro da Casa Civil do governo
Lula na definição de cargos do governo, inclusive nas estatais, logo
após a posse, em 2003. Em seu relato, o lobista disse que foi informado
pelo próprio Dirceu que Aécio Neves havia solicitado ao presidente na
época a permanência de Dimas Toledo na estatal de energia. Coube, então,
a Moura, informar o dirigente sobre sua permanência no cargo mesmo com a
mudança de governo.
Frente a frente com Dimas Toledo, Fernando Moura manteve a versão de
que o acerto teria sido uma forma de retribuir o apoio do
recém-empossado governo do PT à permanência do então diretor de Furnas,
segundo ele uma indicação de Aécio na estatal.
Por sua vez, Dimas Toledo não negou o encontro com Fernando Moura
após ser reconduzido ao cargo. Mas afirmou que "não teria discutido
nenhum assunto acerca de redistribuição de valores de Furnas para o PT
nacional, para o PT paulista e para Aécio Neves".
O ex-diretor, que deixou a estatal em 2005, reafirmou que a versão do
lobista seria "mentirosa". Diante do confronto de versões, o
procurador-geral da República Rodrigo Janot pediu ao ministro do Supremo
Gilmar Mendes a prorrogação do inquérito por mais 60 dias.
"Na presente hipótese, os elementos informativos já reunidos nos
autos apontam para a verossimilhança dos fatos trazidos pelos
colaboradores e denotam a necessidade de aprofundamento das
investigações, notadamente quanto o envolvimento de Dimas Fabiano Toledo
no evento criminoso e a sua relação com o senador Aécio Neves", segue
Janot no pedido encaminhado na sexta-feira, 24. "Conquanto o diretor
tenha negado participação em qualquer esquema, as declarações de
Fernando Antônio Guimarães Horneaux de Moura se coadunam com os
elementos trazidos pelos colaborador", crava Janot.
Para o procurador-geral da República, o novo depoimento de Fernando
Moura confirma as versões de outros delatores sobre suposto esquema de
corrupção em Furnas "comandado" por Dimas Toledo.
Denúncia
Funcionário de carreira na estatal, Dimas Toledo atuou como diretor
de Engenharia entre 1995 e 2005 e já chegou a ser investigado em
primeira instância a partir de 2005, quando a Polícia Federal no Rio
instaurou um inquérito para apurar as denúncias feitas pelo ex-deputado
Roberto Jefferson na CPI Mista dos Correios de que haveria um esquema de
caixa 2 na estatal de energia que abasteceria partidos políticos.
Ao longo da investigação, o lobista Nilton Monteiro, um dos acusados
de atuar no esquema, chegou a apresentar uma lista com nome de 156
políticos que seriam beneficiários do esquema, que ficou conhecida como
"lista de Furnas".
Como as perícias da Polícia Federal concluíram que não dava para
saber se o documento era falso, as investigações dos nomes citados
acabaram não avançando. Em 2012, contudo, o Ministério Público Federal
no Rio de Janeiro apresentou denúncia contra 11 acusados de corrupção em
dois contratos de termelétricas (em Campos dos Goytacazes e São
Gonçalo, no Rio), incluindo Jefferson e Dimas Toledo.
Em março daquele ano, porém, a Justiça Federal entendeu que o caso
deveria ser remetido para a Justiça Estadual do Rio. Lá, o caso voltou
para a fase de inquérito e foi remetido para a Polícia Civil concluir a
investigação.
Na Delegacia Fazendária da polícia, o caso ficou mais quatro anos e,
somente em março de 2016, a delegada Renata Araújo concluiu a
investigação indiciando Roberto Jefferson e outros seis investigados por
lavagem de dinheiro. Em setembro do ano passado, acolhendo um pedido do
Ministério Público do Rio, a Justiça Estadual arquivou o caso em
primeira instância.
Em dezembro do ano passado, o Ministério Público do Rio encaminhou a
"lista de Furnas" para Janot. O documento não é citado no pedido de
prorrogação do inquérito contra Aécio, mas o procurador-geral da
República pediu ao STF que sejam juntadas cópias da quebra de sigilo de
Dimas Toledo, que tramitou em primeira instância na Justiça do Rio, além
das investigações que foram realizadas pela Controladoria-Geral da
União e pelo Tribunal de Contas da União sobre Furnas na época.
Os advogados de José Dirceu e Delcídio Amaral não foram localizados na terça-feira, 27, para comentar o caso.
Segundo a assessoria de Aécio Neves, pedidos de prorrogação de prazo
em procedimentos investigatórios são rotina e a oitiva do senador, como é
praxe, está prevista desde o inicio do procedimento. "As diligências
requeridas não guardam relação com o senador, uma vez que se referem
apenas à solicitação de cópias de documentos da empresa e oitivas de
membros do PT", destacou a assessoria. "O senador Aécio Neves é o maior
interessado na realização das investigações porque o aprofundamento
delas provará a absoluta correção de seus atos."
O advogado Rogério Marcolini, que defende o ex-diretor, divulgou nota
afirmando que, "nos últimos dez anos, Dimas Toledo já foi inquirido
pela Polícia Federal pelo menos meia dezena de vezes e sempre foi
absolutamente coerente ao narrar os fatos como aconteceram. "O senhor
Fernando Moura, nas poucas vezes em que foi ouvido, já emendou sua
versão diversas vezes, o que levou o próprio Juiz Federal condutor da
Lava Jato a por em dúvida a sinceridade de sua delação. A acareação
realizada de surpresa foi a oportunidade para Dimas Toledo mais uma vez
reiterar a veracidade do seu testemunho."
O criminalista Luis Alexandre Rassi, que defende o
ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, diz que ainda não conversou
com seu cliente sobre o caso, mas que a defesa vê com ressalva os
depoimentos de Fernando Moura, "devido a impropriedades no depoimento
prestado por ele na ação penal em que Silvio responde na Lava Jato em
Curitiba".(AE)
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