Diante da falta de insumos e medicamentos, médicos intensivistas pedem bloqueio de novas internações na UTI. Transplantes renais também foram afetados, com queda no número de procedimentos
Profissionais de saúde denunciam que carências de materiais no Hospital Geral de Fortaleza prejudicam os atendimentos EVILÁZIO BEZERRA
A falta de insumos básicos na rede de saúde estadual tem se tornando denúncia contínua dos profissionais da área. No Hospital Geral de Fortaleza (HGF), o corpo médico da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) já pediu que a direção da unidade bloqueie novas internações. Conforme O POVO apurou, familiares estão comprando medicamentos para os parentes. A denúncia cita ainda que, com 38 leitos, a UTI do HGF chegou a ter disponibilidade de apenas um antibiótico. Os transplantes renais também foram afetados, e órgãos captados estavam sendo disponibilizados para fora do Estado.
Sobre o assunto
“A crise é contínua, mas, nos últimos cinco meses se aprofundou. Não estamos tratando, mas enganando. O doente corre menos risco fora da UTI. E não há rotatividade — um paciente que era para ficar sete dias, acaba ficando 30, 40, depois de ter várias infecções”, descreve um dos médicos intensivistas, que preferiu não se identificar. Conforme ele, alguns profissionais foram reposicionados e prejudicados após denunciar a precariedade do local.
No dia 11/11/2017, O POVO noticiou denúncia de diretores de unidades terciárias do Estado sobre falta de insumos e remédios
Mortes, de acordo com o médico, podem ter acontecido por causa da situação. “Começa um antibiótico e no dia seguinte precisa dar outro. Se você precisa adaptar muito o tratamento, acaba selecionando bactérias mais resistentes. Nesse circuito de infecção, (o paciente) pode acabar falecendo”, exemplifica.
O médico critica ainda a falta de atenção dada às demandas do atendimento. Mesmo após o envio de ofícios comunicando a falta de insumos e as péssimas condições, não há nenhuma resposta da gestão, de acordo com o especialista. “Somos referência em transplantes e não temos o básico”, frisa.
Transplantes
O chefe do setor de transplantes do HGF, Ronaldo Esmeraldo, confirma a redução do número de transplantes de rim, principalmente por falta de anestésico e materiais básicos para a cirurgia. Desde 1993, quando ele ingressou no segmento de transplantes, afirma que nunca viu uma crise como a atual. De acordo com Esmeraldo, no último dia 1º, não houve nenhuma cirurgia no HGF por falta de agulha e fio cirúrgico.
Conforme o médico, em 2016 foram realizados 148 transplantes. Neste ano, foram 124. “Não vamos passar dos 130 procedimentos, o que é inferior a 2011”, lamenta. O período com menos transplantes foi entre outubro e novembro, quando, de acordo com ele, cerca de 20 órgãos foram captados e direcionados a outros estados.
Os problemas ainda se estendem para além dos pacientes que aguardam um novo órgão, atingindo também aqueles que já realizaram o procedimento. “Se não tiver imunossupressor não adianta fazer transplante. E se não tiver o kit de dosagem, também é um risco. Em termos de custo-benefício, é mais barato fazer o transplante do que hemodiálise. Sem falar em qualidade de vida”, pondera Esmeraldo. São mais de dois mil pacientes transplantados de rim no Estado.
SARA OLIVEIRA
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