Dois Ovos Quebrados Num Prazo De Trinta Anos. Duas Faces De Lula

Por: Paulo Ghiraldelli Jr., 60, filósofo.

Eu estava lá. Sim, Lula recebeu uma ovada de um operário. O autor era um militante pago do Collor. Depois, na TV, Collor fez questão de lembrar que o atirador do ovo era um “operário”. Falou isso como se estivesse dizendo: veja como ele, Lula, não é líder de todos os operários. Collor se dizia “caçador de marajás” e candidato dos “descamisados”, ou seja, dos mais pobres que os “pobres de Lula”, os operários sindicalizados.

Isso ocorreu em 1989. O ovo acertou Lula. O candidato à presidência parou de falar, limpou o ovo, sorriu e continuou falando. Lembro bem o que disse: “vamos construir um Brasil generoso, um Brasil para todos”. Lula era de bem com a vida. Claro, Lula era gastão. Lula já não pagava muita gente. Mas ainda não mandava no PT. Muito menos na Frente que via nele, após a derrota de Brizola, a chance de não deixar Collor chegar à presidência. Lula era um herói. E falava sem erros de português.

Quando perdeu a eleição, saiu vencedor moral. Havia sido atacado na campanha com golpe baixo e não revidou. E depois, com a gestão Collor e o Impeachment – que teve à frente não só Lula, mas Covas e Quércia -, Lula emergiu como aquele que podia dar entrevistas sem mágoas. Perguntado se estava bem, ele dizia, uma vez derrotado: “claro, saí do nordeste para não morrer de fome e cheguei a ser candidato à presidência, isso é uma vitória e tanto”. O PRN de Collor desapareceu. Na verdade, nunca existiu, era apenas um aglomerado de oportunistas da ralé, aquele tipo de gente magoada que serve à direita para pegar cargos – coisa que hoje migrou para o bolsonarismo. Por sua vez, o PT cresceu e, por decisão de Lula, começou a se abrir para alianças, a fim de ganhar alguma eleição.

Por esses dias, Lula levou outra ovada. Eu não estava lá. Vi por vídeo. A reação de Lula, aos 72 anos, foi outra, bem diferente da de 1989. Aos berros, raivoso, pediu que a Polícia Militar tivesse a responsabilidade de ir até o apartamento do cara que atirou os ovos, invadisse o lugar, e desse “um corretivo” no indivíduo. Nada a ver com o Lula de 1989. Nada a ver com o político que queria fazer bem ao país. Sobrou disso apenas uma pessoa que segue uma caravana com dinheiro inexplicado, defendido por advogado pagos com dinheiro inexplicado, e que ainda se mantém na política para não ser preso, sem qualquer ideal sincero. Um fantasma desmoralizado que precisa de um Gilmar Mendes para ser gente – já imaginaram a degradação moral?

Dois ovos quebrados num prazo de trinta anos. Duas faces de Lula. O primeiro ovo tinha colesterol. O segundo, já não mais. Até os ovos mudaram, por que não as pessoas, né?

O que não mudou foi uma coisa: continuamos com governantes que são próprios só para aqueles que dizem que é nossa culpa termos os governos que temos. É sim nossa responsabilidade, mas não é nossa culpa. Os partidos perderam o pouco de democracia interna que tiveram, mostram para nós um menu só de caciques. A corrupção se generalizou e ao mesmo tempo foi mostrada à luz por um novo judiciário, mas ainda capengamos diante da própria ameaça que os políticos fazem contra os juízes. Lula, por sua vez, foi aquele que sustentou a esquerda durante muito tempo, e ao mesmo tempo aquele que a enterrou. Não contente em enterrar o PT, fez questão de levar junto até seus dissidentes, como Ciro Gomes e o PSOL, que estranhamente começaram a falar que o Impeachment de 2016 foi golpe! Gente trouxa!

Agora, Lula nos fez todos de reféns. Ele é condenado, mas não sabemos se será preso ou será presidente. Todos aguardam. Não há nenhuma diretriz, nenhuma plataforma na sua mensagem na caravana tresloucada que faz pelo país. A única bandeira de Lula é dizer que não é dono do “Triplex”. Que coisa!

Lula arrastou toda a esquerda para o lamaçal, de um lado, e fez emergir uma direita que é a mais energúmena que já tivemos desde os tempos do Plínio Salgado. Em 2018 passaremos um ano todo vendo ovos sobre Lula, e alguns babacas de bombacha gritando contra ele, e mulheres-mortadelas gritando a favor. Vai ser um ano politicamente ruim. E Temer também é candidato, com seu refrão “tem que manter isso, viu?” Não podemos manter isso.

Paulo Ghiraldelli Jr., 60, filósofo.
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Sobre jaguarverdade

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