
Sou do tipo
de pessoas que acreditam que homenagens tem que ser feitas enquanto vida, pois,
para mim, o espírito quando se desencarna da matéria, quer paz e tranquilidade.
Como fiz por duas vezes através do Blog Jaguaruana Verdade, não poderia me
furtar ao silêncio de expressar o meu sentimento, que acredito que deve ser de todos
que conheceram a figura de SARDANHA, o homem que comia cobras, e que nos deixou
tristes com sua partida repentina e inesperada. Nestes 18 de Julho de 2018, mês
em que se celebram os festejos da Padroeira de nossa cidade, Jaguaruana
amanheceu de luto ao saber da sua partida.
Nascido aos
17 de Setembro de 1963, Francisco Xavier de Lima, popularmente conhecido como
SARDANHA, iniciava a sua saga em um Plano Terrestre que nunca o fez difundir o
jeito de ser criança e a responsabilidade de um homem. Nascido no Bairro do
Tabuleiro, em meio a uma família humilde e de pouco poder aquisitivo, a criança
se tornara menino e junto com seu outro irmão, únicos sobreviventes de uma
grande família e que ainda reside no mesmo Bairro, sentiu na pele a dor da
fome, o sentimento de não ter o que comer e talvez, como forma de
sobrevivência, teve que recorrer a Natureza e aos insetos, para não sucumbir
como muitos de seus irmãos.

Até aos 10
anos de idade, Xavier parecia ser uma criança normal. Relatos contam que suas
brincadeiras não diferenciavam das demais crianças de sua idade. Vivia em uma
casa humilde com seus pais e seus irmãos, mas com uma tragédia em que cercava a
muitos naquela época, a fome, diz à história que diante a tanto sofrimento e
sem perspectivas de melhorias de vida, o mesmo decidiu provar que gosto tinha
os insetos, pois por menos apetitoso que parecesse, a falta do que comer, o
obrigava a tomar essa, difícil, decisão. Começava aí a saga de SARDANHA, o
homem comedor de insetos que se transformou em comedor de cobras.
O tempo foi
passando e seu organismo foi se adaptando e ganhando resistência. Dos insetos
inofensivos já não o satisfazia e o gosto por animais peçonhentos começava a
adentrar em seu cardápio diário. A princípio foram escorpiões, aranhas, até
chegar às temidas serpentes. Com sua juventude e com uma saúde, como se costuma
dizer, de animal, SARDANHA, começou a pegar e a comer cobras existentes em
nossa região. Cobras Tabuleiro, Boi Peva, Cobra de Caçotes, Jiboias e as
temidas Jararacas e Cascavel, as que ele dizia que eram as mais saborosas, foram
adaptadas ao cardápios de insetos já conhecidos por todos de nossa cidade.

Já sem pai e
sem mãe e com apenas um irmão, SARDANHA, não atendia a comandos e fazia do seu
jeito andarilho uma forma de conhecer as cidades do Vale do Jaguaribe e do Rio
Grande do Norte, sempre andando a pé e enfrentando os desafios que a vida lhe
impusera. Nasceu em Jaguaruana, passou por Russas, Itaiçaba, Aracati, Limoeiro,
Tabuleiro, Quixeré. Chegou a Fortaleza, entre outras e visitou o Estado do Rio
Grande do Norte, mas no final das contas, voltava para Jaguaruana, sua Terra Natal
e onde tudo começou.
Querido,
amado e principalmente, respeitado por todos, esse Jaguaruanense que pouco falava, pouco
pedia e tão pouco fazia medo a alguém, andava com seus insetos como se fosse um
troféu e tinha neles seus verdadeiros amigos até que o organismo urgisse de
fome, sinal em que o mesmo esperava para traçar o que tivesse na mão, não
importando que fosse. Desde sua amiga Chica, COBRA, nome ao qual chamava
carinhosamente as serpentes, ou qualquer inserto de outra espécie, seu cardápio
era o que tivesse no momento.
Sua história
sempre foi bem maior do que seus passos e, com certeza, se eu passasse o dia e
a note digitando o pouco do que eu sei de sua vida e que tive o prazer de
presenciar, as mais de seis mil matérias já publicadas no Blog Jaguaruana
Verdade, seriam poucas para contar, apenas, 10% de sua história de vida. Como
Jaguaruanense que sou não poderia e não iria deixar passar a oportunidade de
escrever, pela última vez, neste Blog ao qual eu administro meus sentimentos e meu
muito obrigado, por tudo que esse cidadão fez por nossa Jaguaruana.

A lenda viva
morreu e levou com ela a certeza de que nossa cidade, nunca mais, será a mesma,
pois aquele andarilho que levou o nome da Terra de Santana, aos quatros cantos
do nosso Estado do Ceará e do Nordeste, já não existe mais em nosso meio.
Aquele homem que chamava suas presas de "CHICA" e a todos que se
aproximavam dele os tratava de "é meu amigo" agora descansa no mundo
dos imortais. A todos da família os meus sinceros sentimentos e a certeza de
que, para mim, vocês fizeram o que puderam.
A VOCÊ MEU
AMIGO, QUE ME DEU O DIREITO DE TIRAR VÁRIAS FOTOS SUAS, MEU MUITO OBRIGADO. VÁ
COM DEUS QUE UM DIA NOS ENCONTRAREMOS POR LÁ, É ISSO QUE EU ESPERO.
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