Com chuvas da pré-estação, monturos que proliferam na Capital se tornam mais propícios à propagação de doenças
Entre amontoados de lixo e mosquitos. É assim que vive atualmente quem mora na avenida Duque de Caxias, nas proximidades da comunidade do Buraco da Gia e do Mercado Velho. Lá, a coleta de lixo não passa há cerca de 20 dias, segundo moradores ouvidos pelo O POVO. O problema ocorre em meio à onda de ataques no Ceará, iniciada no último dia 2.
Os prejuízos vão de casos de doença a queda no movimento de comércios locais. Jardênia Galdino, 33, trabalha em um mercadinho na avenida e mora no local com o marido e as duas filhas. Ela relata que toda a família já ficou doente após o acúmulo de lixo em frente à residência. "Tem muito mosquito. A gente fica com dor de barriga, já tive febre, todo mundo aqui ficou doente. Ainda mais agora com chuva. Água e lixo não combinam, né?".

NA AVENIDA BERNARDO Manuel, monturo atrapalha acesso ao canteiro central Evilázio Bezerra
Luciano Pamplona, epidemiologista e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) afirma que é preciso ter muita atenção nesta época. "O lixo que é descartado e recolhido um dia depois não tem problema. Agora, se você passa cinco, sete dias, tem muitos riscos à saúde. Arboviroses são muito comuns de ocorrer nestes casos. Um alerta é para as verminoses e a leptospirose".
NA RUA Saudade, próximo à estação Vila União do VLT, homem descarrega lixo diante da placa de proibição Evilázio Bezerra

Ele alerta para a incidência do Aedes aegypti, transmissor de doenças que podem facilmente se espalhar caso não se combata o acúmulo de água, como o que resulta das chuvas da pré-estação. "Cuidado redobrado é fundamental.
A população precisa entender que qualquer acúmulo de água em depósitos pode facilitar a transmissão", pontua, reforçando importância da atuação do Poder Público na conscientização e na coleta.
Jardênia conta que um gari chegou a ir ao local na segunda-feira. "Ele disse que os caminhões viriam se não colocassem fogo", comentando ainda que um veículo de coleta chegou a ser incendiado nas redondezas.
Em casa próxima, ainda na Duque de Caxias, o carpinteiro Fábio Fernandes descarregava material quando desabafou: "É uma calamidade pública. A nossa casa fica tomada por moscas, é cheio de barata e rato". João Moreira, irmão de Fábio, disse ainda que a família tinha de sair de casa para comer. "Não tem condição de cozinhar aqui. A gente tem medo de pegar doença".
Albert Gradvohl, coordenador especial de Limpeza Urbana e Resíduos Sólidos da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), ponderou que o problema que a Cidade vive é de "terrorismo e não de limpeza pública". Ele diz que as coletas de lixo "nunca pararam" e que operam todos dias com escolta policial em localidades mais críticas. Sobre a Duque de Caxias, responde: "Vai chegar lá? Vai. Agora, precisa que o terrorismo diminua. Quanto mais a violência diminuir, mais o serviço voltará à sua eficiência".
"Não colocamos ninguém (funcionários) para ir em alguns locais e morrer. O crime influenciou na coleta de lixo como influenciou no transporte coletivo e outros serviços públicos e até privados", completa. Normalmente, a coleta é feita três vezes por semana em cada rua, mas não é o que está acontecendo, conforme tanto os moradores quanto Gradvohl.
O POVO percorreu ainda os bairros Centro, Montese, Vila União, Parangaba e Itaperi, constatando monturos espalhados pelas vias. Na Barão de Canindé, parte do binário que leva do Montese à Parangaba, o fim da rua era tomado por lixo. Na rua Saudade, na calçada da Estação Vila União do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), um homem despejava resíduos de uma caçamba diante da placa "proibido jogar lixo". (Matheus Facundo/ Especial para O POVO)
"As empresas se aproveitam da situação, vendo que já tem muito lixo na rua e vão lá e descartam também. Quem flagrar essas situações pode denunciar", diz Alberto Gradvohl. A Central é 156.
Doenças
O Aedes aegypti, transmite doenças como dengue, zika e chikungunya. Já a leptospirose, também favorecida por lixo e chuva, é transmitida pela urina de rato.
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