Nem a maior manifestação política da história do Brasil mudou o jogo. O que mais é preciso?
Não há mais dúvida: a presidente Dilma Rousseff prefere derrubar a República a deixar o poder. A nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil, três dias depois de milhões de brasileiros irem às ruas protestar contra ele, e, se fosse pouco, logo após as revelações gravíssimas da delação de Delcídio do Amaral,
é uma demonstração inequívoca de autismo político e esquizofrenia
moral. Dilma opta por entregar seu governo para quem tem tudo para
derrubá-lo de vez – e derrubá-lo de modo trágico. Volta ao Planalto,
buscando o refúgio seguro do foro no Supremo, aquele que é suspeito de
ser um dos chefes do petrolão. Consagra-se, assim, mais um triste
capítulo da história do populismo na América Latina.
No momento em que o país mais precisa de gestos de conciliação e
palavras serenas, a presidente Dilma escolhe, novamente, o
enfrentamento. Lula entrará no Planalto para se salvar da Lava Jato e partir para a briga política, na linguagem belicosa que tanto agrada o petista. Mauro Lopes, do PMDB, que assumirá um ministério ao lado do colega Lula, também é investigado na Lava Jato. O novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, é um procurador próximo ao PT de Lula e de José Dirceu. Supervisionará os trabalhos da PF.
A briga política de Lula se dará numa trincheira de investigados da
Lava Jato. Do outro lado, porém, não estará somente a oposição. Estarão
os milhões que foram às ruas, a vasta maioria dos brasileiros que
desaprovam o governo, os políticos que serão pressionados por seus
eleitores a pegar em armas congressuais – e o aparato do Ministério
Público Federal e da Polícia Federal, que investiga essa turma. Diante
da agonia política do país, e da pior crise econômica das últimas
décadas, Lula terá a briga que deseja – e dificilmente o país deixará de
apanhar junto.
A nomeação de Lula mostra o quão profunda é a limpeza criminal
promovida pela Lava Jato. Expõe o avançado estágio de putrefação do que
chamamos de fisiologismo de coalizão, tocado hoje por PT, PMDB e os
partidos satélites dos dois. Os partícipes desse sistema estão
destruindo nossa democracia. Políticos agora só caem de fora para dentro
– sem mencionar os que, como Lula, conseguem subir mediante acusações
de corrupção. Hoje, só policiais com mandados judiciais podem apear
políticos de seus gabinetes em Brasília. Quanto mais políticos
envolvidos, mais difícil que eles sejam punidos politicamente – se vai
um, podem ir muitos. O resultado é este: dezenas de políticos
entrincheirados em seus cargos, de modo a não perder poder e foro
privilegiado.
Nem a maior manifestação política da história do Brasil mudou o jogo. O que mais é preciso?
Fonte: globo.com
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