Um estudo feito pela Fiocruz e pela Universidade da Califórnia mostrou que a infecção pelo vírus pode ser prejudicial não apenas no primeiro trimestre, como se imaginava
Os filhos de mulheres contaminadas com zika entre a 5ª e a 38ª semanas de gravidez apresentaram más-formações neurológicas, como microcefalia, calcificações cerebrais, restrição de crescimento intrauterino, ausência de hemisférios cerebrais(Jupiterimages/Thinkstock/VEJA)
A infecção por zika pode prejudicar o feto em qualquer fase
da gravidez, e não apenas nas primeiras semanas de gestação. A conclusão
é de uma pesquisa publicada recentemente na revista científica The New England Journal of Medicine.
O estudo, realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) e da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos,
acompanhou a gestação de 42 mulheres infectadas por zika. Destas, 29%
esperavam bebês com alterações no sistema nervoso central. Nenhuma delas
apresentou outro fator de risco para microcefalia, como sífilis,
citomegalovírus e rubéola haviam sido afastadas nos exames.
A pesquisa que teve início em setembro, ou seja, antes de o
Ministério da Saúde decretar a microcefalia uma emergência em saúde
pública, acompanhou 88 mulheres com sintomas de zika: manchas vermelhas
no corpo, conjuntivite, dor de cabeça e dores nas articulações. Destas,
72 (82%) tiveram diagnóstico positivo para a doença e apenas 42
aceitaram ser acompanhadas e realizar ultrassonografia. As 16 que
tiveram teste negativo para zika também passaram por exames de imagem.
Os filhos de mulheres contaminadas entre a 5ª e a 38ª semanas de
gravidez apresentaram malformações, como microcefalia, calcificações
cerebrais, restrição de crescimento intrauterino, ausência de
hemisférios cerebrais. A infecção pelo vírus também afetou a função
placentária e houve casos de grávidas com pouco líquido e até mesmo com
ausência de líquido amniótico. Dois fetos, cujas mães haviam adoecido na
25ª e na 32ª semanas de gestação, morreram.
Das 42 participantes, 12 esperavam bebês com malformações. As
ultrassonografias mostraram que cinco deles tinham restrição de
crescimento intrauterino (com ou sem microcefalia); quatro apresentavam
calcificações cerebrais, dois tinham outras lesões do sistema nervoso
central. Sete gestações apresentaram níveis insuficientes de líquido
amniótico e quatro fetos tinham fluxo anormal nas artérias cerebrais ou
umbilicais.
Seis mulheres deram à luz e os achados na ultrassonografia foram
confirmados: um bebê tinha microcefalia severa e atrofia cerebral; dois
bebês diagnosticados com restrição do crescimento intrauterino foram
considerados pequenos ao nascer e com cabeças proporcionais e um bebê,
cuja mãe apresentou pouco líquido amniótico, nasceu com tamanho adequado
para a idade gestacional. Duas das mulheres que não tiveram zika
tiveram bebês sem nenhuma alteração.
Outro dado chamou a atenção dos pesquisadores foi o de que 88% das
grávidas já haviam tido dengue. As participantes relataram ainda que
outros parentes haviam contraído zika - 21% delas disseram que seus
companheiros adoeceram.
Para os pesquisadores, esses resultados "fornecem apoio adicional"
para mostrar a ligação entre a infecção de grávidas por zika e
"anomalias fetais e placentárias". "Apesar de os sintomas clínicos
leves, a infecção pelo vírus zika durante a gravidez parece estar
associada a resultados graves, como morte fetal, insuficiência
placentária, restrição de crescimento fetal, e lesões do sistema nervoso
central", escreveram os pesquisadores.
Diante dos resultados, os autores recomendam que essas pacientes
sejam cuidadosamente acompanhadas para avaliar os sinais de
insuficiência placentária, que podem levar à morte do feto. O estudo,
que reúne pesquisadores de diferentes instituições ligadas à Fiocruz,
como o Instituto Nacional de Infectologia (INI) e o Instituto Fernandes
Figueiras, ainda não foi encerrado. As crianças nascidas dessas mães
serão acompanhadas por longo prazo em outras fases da pesquisa.
Fonte: (Com Estadão Conteúdo)
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