Descoberta
de contrato apreendido pela PF, em 2014, no escritório da contadora do
doleiro Alberto Youssef, Meire Pozza, levou os investigadores ao
empresário Ronan Maria Pinto e seus negócios com o PT (Foto: Celso
Júnior/AE)
A descoberta de contrato apreendido pela Polícia Federal, em março
de 2014 – quando foi deflagrada a Operação Lava Jato – no escritório da
contadora do doleiro Alberto Youssef, Meire Pozza, levou os
investigadores ao empresário Ronan Maria Pinto e seus negócios com o PT.
O empresário e o ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira foram
presos temporariamente nesta sexta-feira, 1, alvos da 27ª batizada de
Operação Carbono 14.
É um contrato de mutuo, no valor de R$ 6 milhões, de 2004 envolvendo a
empresa 2S Participações Ltda, do publicitário Marcos Valério, a
Expresso Nova Santo André, do empresário Ronan Maria Pinto, de Santo
André – investigado na morte do prefeito petista de Santo André, em 2002
-, e a Remar Agenciamento e Assessoria. Assinam os representantes da 2S
e da Remar.
No mesmo ano, 2004, o Banco Schahin concedeu um empréstimo para o
pecuarista José Carlos Bumlai – preso desde novembro do ano passado,
pela Lava Jato – de R$ 12 milhões. O valor, segundo admitiu o amigo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi tomado por ele a pedido do
PT. Ele e um dos delatores dos processos citaram os nomes de Silvio
Pereira e do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares – levado
coercitivamente para depor hoje – na operação.
“Constatou-se que Jose Carlos Bumlai contraiu um empréstimo fraudulento
junto ao Banco Schahin em outubro de 2004 no montante de R$ 12 milhões. O
mútuo, na realidade, tinha por finalidade a “quitação” de dívidas do
Partido dos Trabalhadores(PT) e foi pago por intermédio da contratação
fraudulenta da Schahin como operadora do navio-sonda Vitória 10.000,
pela Petrobras, em 2009, ao custo de US$ 1,6 bilhão”, informou a
força-tarefa da Lava Jato.
“A partir de diligências, descobriu-se que, do valor total emprestado
de R$ 12 milhões a Bumlai, pelo menos R$ 6 milhões tiveram como destino
o empresário do município de Santo André (SP), Ronan Maria Pinto.”
Mensalão. O Ministério Público Federal sabia, desde 2012, da
existência de um negócio que envolveria R$ 6 milhões e os investigados
do mensalão. O publicitário mineiro Marcos Valério, operador de propinas
no mensalão, afirmou em tentativa de delação premiada naquele ano –
quando seria condenado – que dirigentes do PT pediram a ele R$ 6
milhões. O dinheiro seria destinados ao empresário Ronan.
Segundo Valério, isso serviria para que o empresário de Santo André
parasse de “chantagear” o ex-presidente Lula, o então secretário da
Presidência, Gilberto Carvalho, e o então ministro da Casa Civil, José
Dirceu – preso desde março, pela Lava Jato, em Curitiba.
Ronan tentava relacionar Lula, Carvalho e Dirceu a suspeitas de
corrupção na cidade que teriam motivado o assassinato do prefeito Celso
Daniel, em 2002 – a conclusão da polícia paulista é de que ele foi
vítima de um crime comum, não político. Bumlai teria sido uma das
pessoas que teria atuado nesse episódio de suposta compra do silêncio do
empresário de Santo André.
O empresário negou qualquer relação com o caso, e disse não conhecer nem Bumlai nem Marcos Valério.
Contrato confidencial. Dois anos depois das afirmações de Valério, em
delação que acabou não sendo fechada, o contrato dos R$ 6 milhões da
empresa do publicitário envolvendo empresa de Ronan foi apreendido no
escritório da contadora de Youssef durante as buscas da Lava Jato.
O material intitulado “Enivaldo confidencial” seria um contrato
“referente a um proprietário de uma empresa de ônibus de Santo André/SP”
que era guardado a “sete chaves”, contou Youssef em seu termo de
delação 25, prestado em 26 de outubro de 2014.
“(Youssef) sabia que Enivaldo Quadrado tinha os documentos guardados
no escritório de contabilidade de Meire Pozza, a pedido daquele, por uma
questão de resguardo pessoal”, explicou Youssef. Questionado pela
força-tarefa da Lava Jato sobre o que ele temia, o doleiro disse não
saber, mas era algo que guardava “a sete chaves”.
“Enivaldo Quadrado disse que preparou a triangulação de pessoas que
figurariam em tal contrato”, explicou Youssef. “O contrato foi feito
entre a empresa de Marcos Valério, istó é, a 2S Participações Ltda, e
uma outra empresa que Enivaldo indicou.” A empresa, para os
investigadores, é a Remar. Para isso, o ex-dono da Bônus-Banval
“receberia dinheiro ou algum outro favor”, contou.
Segundo o doleiro, quem pediu para que Enivaldo Quadrado fizesse o
documento “era uma pessoa ligada ao Partido dos Trabalhadores – PT,
chamada Breno Altman”. “Sabe que Breno Altman é ligado ao PT, pois o
declarante (Youssef) foi a Cuba duas vezes realizar negócios e o mesmo
estava presente. O pai de Breno foi um dos fundadores do PT”, registra a
força-tarefa, no termo de delação.
Breno Altman é jornalista e consultor internacional, com relação
próxima com o ex-ministro José Dirceu. Ele nega qualquer envolvimento no
caso, diz nunca ter visto Bumlai. Ele foi levado coercitivamente para
depor, nesta sexta-feira, alvo da Operação Carbono 14.
“Indagado sobre o que motivou Breno a realizar tal operação, foi o
fato de que o PT estaria sendo ameaçado por conta do caso ‘Celso
Daniel’, de maneira que a documentação foi preparada para atender a
determinada pessoa, que seria o proprietário de uma empresa de ônibus.”
O doleiro disse que não poder especificar o tipo de chantagem estaria
envolvida, mas que ela “objetivava que tal pessoa ‘ficasse quieta’ em
relação ao Caso Celso Daniel”.
Os procuradores da Lava Jato afirmaram nesta sexta-feira, 1, que
“para fazer os recursos chegarem ao destinatário final, foi arquitetado
um esquema de lavagem de capitais, envolvendo Ronan, pessoas ligadas ao
Partido dos Trabalhadores e terceiros envolvidos na operacionalização da
lavagem do dinheiro proveniente do crime contra o sistema financeiro
nacional”.
“Há evidências que apontam que o Partido dos Trabalhadores influiu
diretamente junto ao Banco Schahin na liberação do empréstimo
fraudulento. Para chegar ao destinatário final Ronan Maria Pinto, os
investigados se utilizaram de diversos estratagemas para ocultar a
proveniência ilícita dos valores e a identidade do destinatário final do
dinheiro obtido na instituição financeira.”
Fonte: (AE)
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