Políticos oposicionistas acreditam que a aprovação, por 38 a 27, do relatório favorável ao processo contra petista pavimenta rota para o alcance dos 342 votos necessários na Câmara
O
governo entrou em campo para negociar, até os últimos momentos, o apoio
de partidos aliados na comissão do impeachment. A ação fez com que três
legendas - PR, PSD e PTN - mudassem de posição ao longo da sessão desta
segunda-feira, mas não foi suficiente para evitar uma derrota
ainda maior do que a calculada até mesmo pela oposição. A aprovação do
relatório favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff por onze
votos de diferença, na visão dos oposicionistas, pavimenta o caminho
para o alcance dos 342 apoios necessários para a manutenção da decisão
no plenário da Câmara.
Governistas tentam diminuir a derrota com o argumento de que o
colegiado não atingiu dois terços (66%) de apoio ao parecer do relator
Jovair Arantes (PTB-GO), proporção necessária em plenário para a
destituição da presidente da República. O parecer de Arantes foi
aprovado por 38 votos a 27, ou seja, 58% da comissão.
O resultado, no entanto, pegou o Planalto de surpresa e atingiu até a
mais pessimista previsão dos governistas. No início do dia, o governo
falava em ter entre 28 e 30 votos. A margem já era menor do que a da
semana passada, quando esperava entre 29 e 31. Minutos antes da votação,
a base governista já contabilizava um revés mais acentuado e havia
baixado a previsão para entre 27 e 29 votos.
"Era para ser uma votação muito mais justa, muito mais apertada, e
ganhou com folga, porque mostrou as mentiras que eles contaram durante
todo o período. No plenário tenho certeza de que esse placar chega e
chega forte", afirmou o relator Jovair Arantes. "O placar me diz
vitória, vitória do povo brasileiro. Essa é a máxima."
Deputados pró-impeachment comemoram o resultado apontando o fato de a
comissão ser considerada "chapa-branca" - formada apenas por indicações
de líderes partidários, muitos dos quais sentam-se à mesa para negociar
com o Planalto. "Esse número é acachapante para o governo. Deve-se
considerar que essa foi a composição feita de acordo com o que o Palácio
queria. Eles entraram na suprema corte e a comissão acabou sendo
formada por indicações saídas do Palácio. Essa derrota vai repercutir
muito no plenário", afirmou o líder do PSDB, deputado Antônio Imbassahy
(BA). "Essa história da proporção é balela, eles tinham obrigação de
vencer. A comissão foi indicada por eles", emendou o deputado Lúcio
Vieira Lima (PMDB-BA).
Já o líder do DEM, deputado Pauderney Avelino (AM), avalia que o
placar pode ser determinante para uma definição entre os parlamentares
que seguem sem uma posição. "O resultado foi expressivo e atinge os
indecisos. Ninguém trabalhava com a expectativa de dois terços. No
plenário da Câmara será ainda maior. A arma que nós temos é o povo na
rua e nas redes sociais cobrando", disse.
"A derrota do governo aconteceu numa comissão de deputados escolhida a
dedo pelos líderes. Os governistas procuraram impor a sua vontade e não
conseguiram. No plenário, as decisões serão de cada um. Aí vai falar a
sociedade", afirmou o presidente do DEM, Agripino Maia.
Aécio - Presidente nacional do PSDB, o senador Aécio
Neves (MG) também comentou a aprovação do parecer de Jovair Arantes. "O
resultado na Comissão Especial de Impeachment, que já era esperado,
demonstra a fragilidade da defesa da presidente da República. Por
maiores que tenham sido os esforços dos que a defenderam, é impossível
defender o indefensável. A presidente da República cometeu crime de
responsabilidade previsto na Constituição e terá a admissibilidade de
seu processo de afastamento aprovado, segundo determina a mesma
Constituição", disse. "É preciso muita serenidade de todas as partes
nessa hora para enfrentarmos e superarmos esse momento difícil pelo qual
passa o país. Mas estou seguro de que sairemos desse processo mais
fortes graças à força de nossas instituições e da nossa democracia",
continuou.
Governo - Acreditando uma reviravolta em plenário, o
vice-líder do governo, Silvio Costa (PTdoB-PE), avalia que essa semana
será transformada em uma "guerra de números" e aponta que a oposição não
atingirá os 342 votos necessários. Após a votação, ele seguiu para uma
reunião no Palácio do Planalto para analisar o resultado e traçar um
plano de ação.
Costa se surpreendeu com ausência, por exemplo, do deputado Bebeto
(PSB-BA), que se mostrava disposto a votar contra o impeachment. No
entanto, depois de o partido fechar a questão contra Dilma, ele não
votou nesta segunda-feira. O peessebista era um voto com quem o Planalto
contava, mas agora já espera que deve se ausentar novamente na votação
de domingo.
Nem sequer as conversas ao longo do dia conseguiram mudar o cenário. O
Planalto esperava a derrota, mas tentou reverter o impacto político da
aprovação da denúncia. Houve uma surpresa em partidos que estão na mira
do Planalto, como PSD, PR e PTN. As bancadas estavam sem orientação,
livres para votar. Em cima da hora, no entanto, o PTN anunciou que
ficaria contra o relatório de Jovair Arantes (PTB-GO), assim como o PSD,
rachado com um voto para cada lado, e o PR, que se esquivara de fazer o
pronunciamento.
O presidente da comissão, Rogério Rosso (DF), decidiu votar e
desequilibrou o placar no PSD, desfavorável a Dilma por 2 a 1. No PR,
três deputados votaram juntos em defesa da presidente, depois de o líder
Maurício Quintella Lessa (AL) se afastar da bancada. O governo atribuiu
a debandada de Quintella a uma conversa com o vice-presidente Michel
Temer. O PTN cumpriu o compromisso com o único voto, depois de
vislumbrar a chance de fisgar um quinhão em cargos do governo.
Entre os partidos que não mudaram a orientação de liberdade, como o
Partido Progressista e o PMDB, a oposição levou a melhor. O PP liberou a
bancada e rachou: três deputados foram a favor e dois, contra. No PMDB,
também com voto livre, quatro votaram em prol da denúncia e três,
contra.
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