Lula recorre a mensaleiro para capturar apoio para Dilma

Mesmo em prisĂŁo domiciliar, Valdemar Costa Neto tem auxiliado o governo a converter parlamentares do PR para o bloco a favor de Dilma

ANA CLARA COSTA E TALITA FERNANDES
Valdemar Costa Neto (Foto: José Cruz/ABr)

O ex-deputado federal Valdemar Costa Neto cumpre prisĂŁo domiciliar em BrasĂ­lia, condenado por sua participação no mensalĂŁo. Quando foi presidente do PL, hoje PR, deu apoio ao governo do presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva no Congresso, mediante a cĂ©lebre mesada paga pela dupla DelĂșbio Soares-Marcos ValĂ©rio. Hoje, para cumprir obrigaçÔes legais, Valdemar mantĂ©m as aparĂȘncias com um emprego na sede do PR, mas faz mesmo Ă© polĂ­tica. Nos Ășltimos dias foi prestigiado pelo ex-­presidente Lula com uma conversa franca sobre a renovação da aliança do petrolĂŁo com o mensalĂŁo. Atarefado, Valdemar escapou da rotina de almoços frequentes no salĂŁo do luxuoso restaurante DalĂ­, que apesar do nome Ă© especializado em gastronomia portuguesa, para reunir o apoio da “turma” do PR contra o impeachment, a pedido de Lula. Na luta para livrar a presidente Dilma Rousseff do impeachment, apĂłs o desembarque do PMDB, Lula tem buscado a ajuda atĂ© de velhos companheiros, ainda que mensaleiros.

É dura a vida. Lula procurou tambĂ©m o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, hoje deputado federal e presidente do PR. Nascimento deixou o governo em 2011, apĂłs denĂșncias de superfaturamento em obras. Foi um dos primeiros ministros “faxinados” por Dilma, quando ela cultivava a imagem de inimiga da corrupção. Lula e Nascimento conversaram sobre o apoio do partido ao governo. Ficou combinado que o PR permaneceria fiel Ă  base governista e com uma promessa de garantir 30 dos 40 votos da sigla contra o impeachment. Os outros dez votos sĂŁo de parlamentares que foram “liberados” por Valdemar para que nĂŁo se prejudiquem em seus Estados nas disputas eleitorais por prefeituras, em outubro deste ano – afinal, atĂ© o governo admite que serĂĄ difĂ­cil algum candidato ganhar votos se posar de aliado de Dilma. Em troca, o governo oferecerĂĄ mimos tentadores, como a possibilidade de o partido acumular, alĂ©m dos Transportes, o MinistĂ©rio de Minas e Energia ou o da Agricultura. A decisĂŁo depende de dois ministros do PMDB, Eduardo Braga e KĂĄtia Abreu, decidirem cumprir a ordem de sair.

Negociar com quem jĂĄ foi faxinado, acabou de sair da cadeia por corrupção ou estĂĄ sendo investigado Ă© a sina do governo Dilma – e de seus colaboradores, como Lula – na dura tentativa de tentar sobreviver. O espaço que resta a Dilma Ă© exĂ­guo. Na semana passada, ela fez o que pĂŽde dentro dele. Enquanto Lula e sua turma negociavam, Dilma fez campanha. Para nĂŁo correr o risco de sair Ă s ruas, a assessoria da PresidĂȘncia montou dois eventos no PalĂĄcio do Planalto, com plateias francamente favorĂĄveis, de movimentos sociais e de artistas, para a presidente atacar a oposição, defender a ideia de que Ă© vĂ­tima de um golpe e ser aplaudida diante de cĂąmeras de televisĂŁo. A exemplo do colega NicolĂĄs Maduro, da Venezuela, que culpa uma conspiração de empresĂĄrios pela inflação e falta de produtos no paĂ­s, Dilma disse que hĂĄ um golpe em curso contra seu governo. “Impeachment sem crime Ă© golpe”, disse.

No dia 30, mesma data da cerimĂŽnia de saĂ­da do PMDB, o Planalto fez uma cerimĂŽnia para anunciar a terceira fase do programa Minha Casa Minha Vida, um dos mais badalados do governo. Em tempos normais, autoridades apareceriam em profusĂŁo. Na quarta-feira havia trĂȘs governadores: FlĂĄvio Dino, do MaranhĂŁo, Wellington Dias, do PiauĂ­, e Camilo Santana, do CearĂĄ. Os lugares vagos de autoridades foram liberados para militantes de movimentos sociais, para nĂŁo deixar vazios. Dilma foi aplaudida quando levantou suspeitas. “Por isso, nĂłs temos de estar atentos, que nĂŁo tem razĂŁo para tirar um governo que tem sua base pactuada pela Constituição, tem seu fundamento baseado na Constituição. Se fazem isso contra mim, o que nĂŁo farĂŁo contra o povo?”, disse. No dia seguinte, diante de uma plateia de artistas e intelectuais contrĂĄrios ao impeachment, Dilma repetiu 19 vezes a palavra “golpe” e 22 vezes “impeachment”. “Tenho dito que estĂĄ em curso um golpe no Brasil. Reafirmo com toda ĂȘnfase: nĂŁo cometi qualquer crime de responsabilidade e, por isto, o pedido de impeachment em anĂĄlise na CĂąmara dos Deputados nĂŁo tem base legal”, disse. “Querem me derrubar, sem nenhuma justificativa juridicamente vĂĄlida e comprovada, porque tĂȘm outras propostas para o Brasil.” Ela mira numa fatia da opiniĂŁo pĂșblica contrĂĄria, por diversas razĂ”es, ao impeachment motivado por pedaladas fiscais.

Enquanto Dilma falava, os novos aliados trabalhavam contra o “golpe”, mediante as perspectivas concretas de poder. AlĂ©m de deputados do PT e de seu PR, “o Boy”, como Valdemar Costa Neto Ă© conhecido, tem recebido parlamentares de outros partidos da base em coordenação com Lula. Um dos visitantes do mensaleiro Valdemar foi o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, investigado pela Operação Lava Jato. Os dois discutiram a que cargos teriam acesso nos dois cenĂĄrios: a continuidade do governo Dilma ou um eventual governo Temer. A conclusĂŁo de Valdemar e Ciro Ă© que haveria menos espaço para seus partidos com Temer na PresidĂȘncia e seu enorme PMDB. Entretanto, partidos pequenos nĂŁo fecham portas. Apesar de Ciro e Valdemar terem se comprometido com Dilma informalmente, anunciaram que sĂł vĂŁo decidir se saem ou ficam entre a apresentação do relatĂłrio da comissĂŁo especial de impeachment, na CĂąmara, e a votação do parecer.

No caso do PP, apesar de dizer a aliados que quer ficar com o governo Dilma, Ciro Nogueira sabe que nĂŁo tem o controle das bancadas. Dos 49 deputados da sigla, os das regiĂ”es Norte e Nordeste estĂŁo mais propensos a ajudar o governo, enquanto os do Sul sĂŁo contra. Contudo, o cenĂĄrio pode mudar a depender da oferta do Planalto. Para conseguir 20 votos da bancada, o governo estĂĄ disposto a rifar o MinistĂ©rio da SaĂșde, maior orçamento da Esplanada, e o comando da Caixa EconĂŽmica Federal, responsĂĄvel pelos financiamentos do programa Minha Casa Minha Vida – uma oferta impensĂĄvel em tempos normais; ainda mais para o partido campeĂŁo da Lava Jato, com 32 integrantes investigados. O governo tem investido atĂ© no PTN, candidato a herdar o MinistĂ©rio do Turismo. Com 13 deputados, o PTN jĂĄ comanda interinamente a Fundação Nacional de SaĂșde (Funasa). “Quando vocĂȘ estĂĄ se afogando, primeiro procura algo em que possa se agarrar, depois pensa em como e para onde sair dali”, diz um ministro.

Essas negociaçÔes ocorreram muito nos Ășltimos dias. Começam com uma conversa de Lula com lideranças partidĂĄrias – como presidentes ou ministros. Em seguida, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, entra com a discussĂŁo de varejo sobre cargos e dinheiro pĂșblico. Parlamentares da base aliada conversam com deputados classificados pelo governo como “indecisos”. AlĂ©m do PP e do PR, o governo recorreu tambĂ©m ao PSD e ao PRB. Lula tambĂ©m procurou o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, comandante do PSD. Por enquanto, a bancada do PSD estĂĄ liberada para votar como quiser no impeachment. Mas, recentemente, Kassab conversou com o adversĂĄrio de Lula e Dilma, o vice-presidente Michel Temer. “Estou com o senhor”, disse Kassab.

Fonte:  globo.com
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Sobre jaguarverdade

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