O ex-deputado federal Valdemar Costa Neto cumpre prisão domiciliar em Brasília, condenado por sua participação no mensalão. Quando foi presidente do PL, hoje PR, deu apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso,
mediante a célebre mesada paga pela dupla Delúbio Soares-Marcos
Valério. Hoje, para cumprir obrigações legais, Valdemar mantém as
aparências com um emprego na sede do PR, mas faz mesmo é política. Nos
últimos dias foi prestigiado pelo ex-presidente Lula com uma conversa franca sobre a renovação da aliança do petrolão com o mensalão. Atarefado, Valdemar escapou
da rotina de almoços frequentes no salão do luxuoso restaurante Dalí,
que apesar do nome é especializado em gastronomia portuguesa, para
reunir o apoio da “turma” do PR contra o impeachment, a pedido de Lula. Na luta para livrar a presidente Dilma Rousseff do impeachment, após o desembarque do PMDB, Lula tem buscado a ajuda até de velhos companheiros, ainda que mensaleiros.
É dura a vida. Lula procurou também o ex-ministro dos Transportes
Alfredo Nascimento, hoje deputado federal e presidente do PR. Nascimento
deixou o governo em 2011, após denúncias de superfaturamento em obras.
Foi um dos primeiros ministros “faxinados” por Dilma, quando ela
cultivava a imagem de inimiga da corrupção. Lula e Nascimento
conversaram sobre o apoio do partido ao governo. Ficou combinado que o
PR permaneceria fiel à base governista e com uma promessa de garantir 30
dos 40 votos da sigla contra o impeachment. Os outros dez votos são de
parlamentares que foram “liberados” por Valdemar para que não se
prejudiquem em seus Estados nas disputas eleitorais por prefeituras, em
outubro deste ano – afinal, até o governo admite que será difícil algum
candidato ganhar votos se posar de aliado de Dilma. Em troca, o governo
oferecerá mimos tentadores, como a possibilidade de o partido acumular,
além dos Transportes, o Ministério de Minas e Energia ou o da
Agricultura. A decisão depende de dois ministros do PMDB, Eduardo Braga e
Kátia Abreu, decidirem cumprir a ordem de sair.
Negociar com quem já foi faxinado, acabou de sair da cadeia por
corrupção ou está sendo investigado é a sina do governo Dilma – e de
seus colaboradores, como Lula – na dura tentativa de tentar sobreviver. O
espaço que resta a Dilma é exíguo. Na semana passada, ela fez o que
pôde dentro dele. Enquanto Lula e sua turma negociavam, Dilma fez
campanha. Para não correr o risco de sair às ruas, a assessoria da
Presidência montou dois eventos no Palácio do Planalto, com plateias
francamente favoráveis, de movimentos sociais e de artistas, para a
presidente atacar a oposição, defender a ideia de que é vítima de um
golpe e ser aplaudida diante de câmeras de televisão. A exemplo do
colega Nicolás Maduro, da Venezuela, que culpa uma conspiração de
empresários pela inflação e falta de produtos no país, Dilma disse que
há um golpe em curso contra seu governo. “Impeachment sem crime é
golpe”, disse.
No dia 30, mesma data da cerimônia de saída do PMDB, o Planalto fez uma
cerimônia para anunciar a terceira fase do programa Minha Casa Minha
Vida, um dos mais badalados do governo. Em tempos normais, autoridades
apareceriam em profusão. Na quarta-feira havia três governadores: Flávio
Dino, do Maranhão, Wellington Dias, do Piauí, e Camilo Santana, do
Ceará. Os lugares vagos de autoridades foram liberados para militantes
de movimentos sociais, para não deixar vazios. Dilma foi aplaudida
quando levantou suspeitas. “Por isso, nós temos de estar atentos, que
não tem razão para tirar um governo que tem sua base pactuada pela
Constituição, tem seu fundamento baseado na Constituição. Se fazem isso
contra mim, o que não farão contra o povo?”, disse. No dia seguinte,
diante de uma plateia de artistas e intelectuais contrários ao
impeachment, Dilma repetiu 19 vezes a palavra “golpe” e 22 vezes
“impeachment”. “Tenho dito que está em curso um golpe no Brasil.
Reafirmo com toda ênfase: não cometi qualquer crime de responsabilidade
e, por isto, o pedido de impeachment em análise na Câmara dos Deputados
não tem base legal”, disse. “Querem me derrubar, sem nenhuma
justificativa juridicamente válida e comprovada, porque têm outras
propostas para o Brasil.” Ela mira numa fatia da opinião pública
contrária, por diversas razões, ao impeachment motivado por pedaladas
fiscais.
Enquanto Dilma falava, os novos aliados trabalhavam contra o “golpe”,
mediante as perspectivas concretas de poder. Além de deputados do PT e
de seu PR, “o Boy”, como Valdemar Costa Neto é conhecido, tem recebido
parlamentares de outros partidos da base em coordenação com Lula. Um dos
visitantes do mensaleiro Valdemar foi o senador Ciro Nogueira,
presidente do PP, investigado pela Operação Lava Jato. Os dois
discutiram a que cargos teriam acesso nos dois cenários: a continuidade
do governo Dilma ou um eventual governo Temer. A conclusão de Valdemar e
Ciro é que haveria menos espaço para seus partidos com Temer na
Presidência e seu enorme PMDB. Entretanto, partidos pequenos não fecham
portas. Apesar de Ciro e Valdemar terem se comprometido com Dilma
informalmente, anunciaram que só vão decidir se saem ou ficam entre a
apresentação do relatório da comissão especial de impeachment, na
Câmara, e a votação do parecer.
No caso do PP, apesar de dizer a aliados que quer ficar com o governo
Dilma, Ciro Nogueira sabe que não tem o controle das bancadas. Dos 49
deputados da sigla, os das regiões Norte e Nordeste estão mais propensos
a ajudar o governo, enquanto os do Sul são contra. Contudo, o cenário
pode mudar a depender da oferta do Planalto. Para conseguir 20 votos da
bancada, o governo está disposto a rifar o Ministério da Saúde, maior
orçamento da Esplanada, e o comando da Caixa Econômica Federal,
responsável pelos financiamentos do programa Minha Casa Minha Vida – uma
oferta impensável em tempos normais; ainda mais para o partido campeão
da Lava Jato, com 32 integrantes investigados. O governo tem investido
até no PTN, candidato a herdar o Ministério do Turismo. Com 13
deputados, o PTN já comanda interinamente a Fundação Nacional de Saúde
(Funasa). “Quando você está se afogando, primeiro procura algo em que
possa se agarrar, depois pensa em como e para onde sair dali”, diz um
ministro.
Essas negociações ocorreram muito nos últimos dias. Começam com uma
conversa de Lula com lideranças partidárias – como presidentes ou
ministros. Em seguida, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo
Berzoini, entra com a discussão de varejo sobre cargos e dinheiro
público. Parlamentares da base aliada conversam com deputados
classificados pelo governo como “indecisos”. Além do PP e do PR, o
governo recorreu também ao PSD e ao PRB. Lula também procurou o ministro
das Cidades, Gilberto Kassab, comandante do PSD. Por enquanto, a
bancada do PSD está liberada para votar como quiser no impeachment. Mas,
recentemente, Kassab conversou com o adversário de Lula e Dilma, o
vice-presidente Michel Temer. “Estou com o senhor”, disse Kassab.
Fonte: globo.com
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