Em despacho, juiz à frente da Lava Jato profere duros ataques contra políticos e cita a 'audácia criminosa' de Gim Argello, preso hoje
O
juiz federal Sergio Moro classificou como "audácia criminosa" o modo
como o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) atuava para extorquir
empreiteiros investigados no escândalo do petrolão e para evitar que
eles fossem alvo da CPI mista da Petrobras, em 2014. Segundo o
magistrado, que autorizou a prisão preventiva do ex-senador, Argello
praticava os crimes de concussão e lavagem de dinheiro mesmo durante as
investigações da Operação Lava Jato. Para Moro, "parece intolerável que o
investigado, integrante das comissões parlamentares de inquérito, ao
invés de contribuir com as apurações, passasse, como indicam as provas, a
extorquir os investigados para protegê-los das apurações". "Nada pior
para a democracia do que um político desonesto", resumiu ele.
Em despacho com duros recados ao mundo político, que sobrevive
cambaleante ao avanço da Operação Lava Jato, Sergio Moro disse ser
"inaceitável que agentes políticos em relação aos quais existam graves
indícios de envolvimento em crimes contra a Administração Pública e
lavagem de dinheiro permaneçam na vida pública sem consequências".
"Como dinheiro é poder e o domínio político é competitivo, políticos
desonestos, por terem condições de contar com recursos criminosos,
possuem uma vantagem comparativa em relação aos probos. Se não houver
reação institucional, há risco concreto do progressivo predomínio dos
criminosos nas instituições públicas, com o comprometimento do próprio
sistema democrático. O correto seria que as próprias instituições
políticas ou as próprias estruturas partidárias resolvessem essas
questões. Não sendo este o caso, necessária infelizmente a intervenção
do Poder Judiciário para poupar a sociedade do risco oferecido pela
perpetuação na vida pública do agente político criminoso, máxime quando
há possibilidade de que este volte, em futura eleição, a assumir mandato
parlamentar", afirmou o juiz responsável pelos processos da Operação
Lava Jato em Curitiba.
Publicidade
Na avaliação do juiz, a "audácia criminosa" de Gim Argello justifica
sua prisão cautelar para que ele não pratique mais crimes nem atente
contra a ordem pública. Moro disse que, mesmo sem mandato parlamentar -
ele não foi eleito na última disputa, em 2014 -, o ex-senador representa
"risco à ordem pública". "O apelo à ordem pública, seja para prevenir
novos crimes, afastando o político improbo da vida pública, seja em
decorrência de gravidade em concreta dos crimes praticados, é suficiente
para justificar a decretação da preventiva", disse ele ao acatar pedido
do Ministério Público e decretar a prisão do ex-senador.
"O fato dele não mais ser parlamentar não elide o risco à ordem
pública, pois o produto dos crimes não foi recuperado e foi submetido,
em princípio, a esquemas sofisticados de lavagem, servindo a prisão
cautelar para prevenir que seja submetido a novas operações de ocultação
e dissimulação", completou Moro.
Fonte: abril.com.br/noticia/
0 comentários:
Postar um comentário