Todo ano, quando o frio começa, é quase instintivo recorrer aos descongestionantes nasais.
Somado ao frio, há a seca, que vem acompanhada de poeira, bactérias,
ácaros e outros visitantes indesejados que pioram consideravelmente a
vida dos alérgicos. O medicamento, embora traga alívio imediato ao nariz entupido, não é tão benéfico quanto parece.
Diderot Parreira, otorrinolaringologista da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), explica que o uso indiscriminado do remédio pode ocasionar problemas sérios de saúde.
“Os componentes dos descongestionantes nasais causam vasoconstrição, ou seja, fecham os vasos do nariz”, explica. O problema é que isso não ocorre só no nariz. Como eles contraem os vasos sanguíneos, têm um efeito sistêmico no corpo e contraem outros vasos também. “Isso pode causar arritmia, taquicardia, aumento da pressão arterial e outros problemas.”
Para pessoas que sofrem com pressão alta ou que têm algum tipo de problema cardíaco, portanto, os remédios são um perigo.
Segundo Parreira, os descongestionantes nasais estão em terceiro lugar no ranking dos medicamentos com mais efeitos colaterais e uso incorreto, de acordo com dados do Centro de Atendimento Toxicológico de São Paulo.
Além de todos os efeitos danosos, abusar das gotinhas
diariamente pode causar ainda uma condição chamada rinite medicamentosa:
quanto mais se usa o remédio, mais a obstrução nasal piora, uma vez que
ele perde o efeito. Ao contrário da rinite alérgica, na medicamentosa não há secreções. “Vira um vício que pode fazer com que o paciente perca o olfato”, alerta o médico.
No entanto, o hábito de pingar continuamente o remédio no nariz, além
de viciar, mascara um enorme perigo para a saúde do coração. A longo prazo, os efeitos dos descongestionantes elevam o risco de trombose e formação de coágulos.
Na mucosa nasal, o uso abusivo provoca uma reação inflamatória,
fazendo com que seja preciso quantidades cada vez maiores do remédio
para se obter bem-estar. “O alívio da congestão nasal é imediato. Por isso, a pessoa acha que está fazendo um grande negócio. Mas é só um paliativo – diz o otorrinolaringologista Jair de Carvalho e Castro, do Hospital Samaritano do Rio.
Segundo o médico, o correto é buscar ajuda para descobrir e
tratar a causa do entupimento das narinas, que pode ser sinusite, desvio
de septo ou pólipo nasal, entre outras.
Lavar as narinas com soro fisiológico ou solução de água com
sal e bicarbonato é uma boa alternativa para aliviar a congestão sem
remédios, ensina Jair de Carvalho e Castro. Para quem
já se viciou nos descongestionantes, o tratamento é feito com
medicamentos orais e injetáveis que visam à recuperação da mucosa do
nariz.
Alívio para o nariz, risco para o coração
Se para a maioria da população o que conta é o alívio rápido, é bom
começar a pensar nas consequências do uso desses medicamentos, optando
por soluções menos paliativas e tratamentos mais duradouros. Isto porque
os descongestionantes têm substâncias que contraem os muitos vasos sanguíneos do nariz, que dificultam a respiração quando estão dilatados em decorrência de alergias e gripes.
Quando são usadas sem orientação médica e durante períodos longos, as substâncias vasoconstritoras (fenilefrina, difenidramina, cloridrato de oximetazolina, nafazolina ou cloridrato de nafazolina) vão sendo absorvidas pela mucosa nasal e caem na corrente sanguínea, provocando pressão alta e taquicardia.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já alertou a população sobre os perigos da automedicação de congestionantes nasais com vasoconstritores, e até publicou uma lista daqueles que deveriam ser comercializados com tarja vermelha, ou seja, vendidos apenas mediante a prescrição de um médico.
Alguns medicamentos que contém substâncias vasoconstritoras:
- Neosoro
- Sinustrate
- Sorine
- Adnax
- Rinoklin
Nos Estados Unidos, muitos dos descongestionantes favoritos da
população não estão mais facilmente disponíveis nas prateleiras, foram
para trás do balcão forçando o cliente a fazer o pedido ao farmacêutico,
muitas vezes assinando um termo ou mostrando a identidade. Outras
marcas estão tendo suas fórmulas modificadas para minimizar riscos como
doenças da tireoide, diabetes ou dificuldade de urinar, além de
problemas cardíacos citados acima.
Essas mudanças fizeram parte de um esforço nacional para
evitar o consumo de metanfetamina, droga altamente viciante feita a
partir da pseudoefedrina, ingrediente ativo de vários descongestionantes.
Alguns laboratórios norte-americanos estão substituindo a
pseudoefedrina por fenilefrina, mas como esta não pode ser feita sem a
maléfica metanfetamina… Ou seja, como há poucos estudos sobre o assunto
até agora, o melhor mesmo a se fazer é procurar orientação médica sempre, até porque a verdadeira causa da obstrução nasal pode ser outra, ainda desconhecida.
Além disso, a solução mais rápida nem sempre é a melhor. Quem
sabe mudar seus hábitos alimentares, dormir bem e fazer exercícios pelo
menos três vezes por semana podem protegê-lo muito mais das alergias e
gripes? Fica a dica!
Neosoro: mitos e verdades
O Neosoro, assim como outros descongestionantes nasais, são remédios
adorados por algumas pessoas e visto com maus olhos por outras. Esse
tipo de medicação é bastante conhecida entre os portadores de doenças
respiratórias das vias superiores, como a rinite alérgica, e é cercado
de vários boatos. Esclareça as principais dúvidas sobre o assunto e
conheça os mitos e verdades sobre o Neosoro.
O Neosoro ajuda a dissolver o catarro
Mito. Diferente do que a maioria das pessoas pensa o
nariz não entope pelo excesso de secreção acumulada, e por isso
simplesmente assuar o nariz não é uma medida capaz de solucionar o
problema. O fato é que o processo inflamatório da alergia, resfriado ou
gripe é capaz de provocar uma dilatação dos vasos sanguíneos que irrigam
a mucosa nasal, resultando em um inchaço, que provoca obstrução do
fluxo de ar. Esse é um processo natural que funciona como forma de
defesa, para que o organismo seja capaz de eliminar todos os germes
causadores do problema.
Os descongestionantes simulam a ação da adrenalina
Verdade. Os descongestionantes possuem substâncias
que atuam de maneira muito semelhante à adrenalina, mas a um nível
local, com mínimos efeitos sistêmicos. Esse fármaco atua provocando a
contração dos vasos sanguíneos do nariz, desobstruindo quase que
instantaneamente a via respiratória.
O uso prolongado de Neosoro faz mal à saúde
Verdade. Se utilizado por mais de 3 dias
consecutivos, a mucosa nasal, que inicialmente não absorve o fármaco
deixando seus efeitos limitados à região utilizada, passa a absorvê-lo
cada vez mais. O resultado é que o remédio acaba indo parar na corrente
sanguínea, podendo provocar uma série de problemas à distância, como
aumento da frequência cardíaca e da contração dos vasos sanguíneos,
levando à hipertensão arterial e sobrecarga cardíaca.
Apesar de ser um dos remédios mais consumidos no Brasil e aparentemente inocente, o Neosoro, bem como outros descongestionantes nasais com vasoconstritor, devem ser usados com cautela e podem ter efeito maléfico se as recomendações médicas não forem seguidas à risca. Apesar
de não viciar, esse remédio é capaz de causar uma dependência, uma vez
que serão necessárias doses cada vez maiores para respirar com alívio.
Cuidado!
Fonte: Biosemlimites
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