PP propõe a Maranhão renunciar à vice para manter o mandato

Parlamentares da sigla apoiaram representações contra ele no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar

Por: Felipe Frazão, de BrasíliaO presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA)O presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA) durante coletiva sobre sua decisão de suspender a tramitação do impeachment contra Dilma Rousseff, em Brasília (DF) - 09/05/2016(Andressa Anholete/AFP)

Deputados de oposição na bancada do PP propuseram ao presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão (MA), que ele renuncie ao cargo de primeiro vice-presidente, para o qual foi eleito na chapa do presidente afastado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Se ele aceitar, a bancada do PP retiraria o apoio à expulsão de Maranhão do partido.

Como a vaga de vice é uma indicação do PP, a renúncia levaria o partido a indicar outro parlamentar para a eleição de um novo vice-presidente. O PP reivindicará a manutenção da vaga para a eleição - mas não há ainda garantia de que os demais partidos aceitarão. Dois nomes se colocaram na reunião do PP como candidatos a assumir a vaga de Maranhão no caso de renúncia: Esperidião Amin (SC) e Ricardo Izar (SP).

Seguindo conselhos de defensores da presidente Dilma Rousseff, Maranhão anulou a decisão de 367 deputados favoráveis ao impeachment da petista e, quase à meia-noite desta segunda-feira, voltou atrás por causa da ameaça de expulsão do partido, que poderia então requisitar o mandato na Justiça Eleitoral - alvo de três inquéritos no Supremo Tribunal Federal, Maranhão perderia o foro privilegiado.

Os deputados do PP se reuniram a portas fechadas na Câmara nesta terça-feira. A bancada retirou o apoio para que ele continue à frente da Câmara e assinou documento favorável ao seguimento do processo disciplinar que pede a expulsão de Maranhão.

O encontro conduzido pelo ex-ministro Aguinaldo Ribeiro (PB), líder do partido Câmara, começou por volta das 10h40 e terminou quase 'às 13 horas, em meio a discussões exaltadas. Todos os deputados do partido foram convocados, mas Maranhão não compareceu. A proposta de renúncia em troca da manutenção do mandato foi, na sequência, encaminhada a ele pelo deputado Eduardo da Fonte (PE), escalado para convencê-lo e comunicar que ele perdeu apoio da bancada. Dudu da Fonte integra um grupo de deputados mais próximo de Maranhão - aos quais o presidente em exercício já havia demonstrado resistência à ideia de renunciar. Entre eles, estão Ronaldo Carletto (BA), Ricardo Barros (PR), Cacá Leão (BA), Mário Negromonte Jr (BA) e Roberto Britto (BA). Eles queriam um prazo de oito dias para uma nova reunião sobre a situação de Maranhão, mas não houve entendimento.

"Nós retiramos o apoio a ele para criar o ambiente para o afastamento. O PP não podia esperar o andamento de um processo disciplinar com o devido processo legal porque há um movimento na Câmara para tentar afastá-lo antes, essa decisão pode ser tomada pelos demais partidos. Eles já disseram que não serão comandados pelo Maranhão," disse o deputado Jerônimo Goergen (RS). "O simbolismo é fragilizar para que ele saia do comando da Casa. Ele expulso ou não é uma consequência para depois."

Como integrante da Executiva Nacional, Goergen disse que já assinou a abertura de processo disciplinar contra os sete deputados que afrontaram o partido não votaram a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff - eles devem sofrer advertências. Maranhão é um deles, mas com pena de expulsão por causa da "reincidência" em tentar anular a sessão do impeachment com uma canetada alinhada com o governo Dilma.

O encontro na Câmara era apenas consultivo, mas teve a presença do presidente nacional, o senador Ciro Nogueira (PI), e integrantes da Executiva Nacional, que se reuniria à tarde para deliberar sobre o processo disciplinar que pode resultar na expulsão de Waldir Maranhão. Ao fim da reunião, Nogueira disse que tentaria antes um "acordo para que ele entregue a vice-presidência para o partido indicar outro nome". Nogueira disse que a Executiva não tomaria decisão nesta terça-feira sobre a expulsão: "Não é tão rápido assim". Primeiro, ele deve ser suspenso temporariamente - o que, no entendimento de outros deputados, levaria a uma suspensão dele também da vice-presidência, porque a vaga cabe ao PP. Ainda não há um consenso sobre as consequências da suspensão da filiação, nem sobre a proposta para que ele renuncie apenas à vice.

Além de pedirem a expulsão de Maranhão no PP, deputados da sigla apoiaram representações contra ele no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. O deputado Julio Lopes (RJ) ainda protocolou um processo pela cassação de Maranhão Corregedoria da Câmara nesta manhã por causa da decisão em que ele anulou com uma canetada a sessão de debates e votação do impeachment, que se estendeu entre os dias 15, 16 e 17 de abril no plenário. "Ele atentou muito fortemente contra o partido e contra a democracia no cancelamento do impeachment. Eu me senti agredido", disse o oposicionista.

Fonte: Veja.com
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