O fotografo, técnico em contabilidade e escritor José
Geraldo Aguiar promete revolucionar a história do cangaço brasileiro, no que
diz respeito a Lampião, o Rei do Cangaço.
Com 50 anos (ele nasceu em 16 de outubro de 1949), José
Geraldo Aguiar passou 17 anos pesquisando a vida de Lampião – que ele diz ter
conhecido no interior de Minas Gerais – e publicou Lampião o Invencível –
Duas Vidas, Duas Mortes, o outro lado da moeda (Thesarus, 2009).
O
objetivo do livro, diz ele, é “provar” que Virgulino Ferreira da Silva
não foi morto pela Polícia na localidade de Angicos, município de Poço
Redondo (SE), na madrugada de 28 de julho de 1938, ao lado de 11
companheiros, incluindo a lendária Maria Bonita.
O livro de JGA
certamente promoverá uma reviravolta na biografia de Lampião, que nasceu
em 7 de julho de 1897, no sítio Ingazeira e foi criado em Vila Bela,
atual Serra Talhada (PE), sendo transformado um dos mais conhecidos
cangaceiros brasileiros, cantado em prosa e verso, com inúmeras
biografias e cinebiografias.
Na redação da Nós – Fora dos Eixos,
José Geraldo Aguiar falou sobre o seu livro, no qual agradece a Deus
pela “dádiva de anunciar a sobrevida de Lampião.” Antes de lê-lo, eu não
acreditava em sua versão. Em História não existe talvez nem “achismo”,
inexistentes no relato do novo biógrafo do Rei do Cangaço. Daí, dou
crédito à sua versão.
Nós – Fora dos Eixos: Há
tempos alguns jornais noticiaram que você estava fazendo escrevendo uma
outra história de Lampião, que entrou para o imaginário popular
brasileiro como “O Rei do Cangaço”. O que isto significa?
José Geraldo Aguiar: Trata-se da verdadeira história de Lampião. O meu livro é totalmente diferente das histórias que já escreveram sobre Lampião.
NFE:
O que ele tem de novo para acrescentar às dezenas de títulos que já
foram publicados sobre o tema, no Brasil e no exterior, inclusive na
Literatura de Cordel?
JGA: Em relação à morte,
estou contradizendo tudo que se escreveu: Lampião morreu no Estado de
Minas, no noroeste de MG, no dia 3 de agosto de 1993, aos 96 anos de
idade, de acordo com a certidão de nascimento dele, que consta no livro.
O que se diz em contrário foi uma farsa.
NFE: Você está contradizendo tudo o que se escreveu sobre Lampião. Tem como provar isso?
JGA: Tenho. Eu
convivo com Lampião, um homem muito caridoso, durante cinco meses. Mesmo
na época do cangaço, ele era caridoso. Ele relatou pra mim os fatos. Eu
me senti na obrigação de não me acovardar. Senti-me na obrigação de
transmitir para o mundo essa mega-descoberta.
NFE:
Saiba que este repórter é incrédulo sobre o que você está afirmando,
que Lampião não foi morto em Angico (SE), ao lado da companheira, Maria
Bonita, e que não teve a cabeça cortada e exposta ao público, ao lado de
Maria Bonita…
JGA: Pois saiba que essa versão não corresponde à verdade dos fatos com relação à morte de Lampião.
NFE; Como, quando e onde, então, Lampião morreu?
JGA:
Eu já disse, Lampião morreu de morte natural no dia 3 de agosto de
1993. E Maria Bonita no dia 3 de agosto de 1978. Eu provo isso no meu
livro.
NFE: Se você fala a verdade, a história muda, com relação a Lampião. Você diz que conheceu Lampião, vivendo com outro nome…
JGA;
No dia 28 de julho de 1938, no município de Poço Redondo, no estado de
Sergipe, no Nordeste brasileiro – eu conto isso no meu livro – houve a
impostura do tenente João Bezerra, com sua volante. O tenente Bezerra
anunciou o fim do cangaço independente, dizendo ter dado cabo ao rei e
rainha do cangaço, mais nove aliados. Foi uma mentira que entrou para a
história do cangaço. Eu, José Geraldo Aguiar, após 54 anos, descobri
Lampião vivo, no dia 15 de fevereiro de 1992, na cidade de São
Francisco, no Norte de Minas Gerais, na República Federativa do Brasil.
NFE: E você o conheceu…
JGA:
Eu conheci Lampião e fiz uma história investigativa, viajei em grande
parte do Brasil pesquisando para montar o livro. Principalmente em Minas
Gerais, foi principalmente por onde ele entrou, em Itacarambi –
município que foi destaque no noticiário, sofreu um terremoto em 2008 –
que à época era um povoado e hoje está emancipado, com o nome de São
João das Missões.
NFE: Que Lampião, mais uma vez,
tenha escapado do cerco da Polícia é factível. Mas que você o tenha
conhecido, é preciso provas.Você o encontrou mesmo no interior de Minas
Gerais?
JGA: Sim. Além de Itacarambi, Lampião
esteve também em outras localidades mineiras. Na cidade do lado oposto
do rio, Matias Cardoso Januária, depois esteve em três povoados: Tejuco,
Brejo do Amparo e São Joaquim, todos povoados pertencentes ao município
de Januária.
Voltando ele atravessou o rio São Francisco – tudo
nas margens do São Francisco, as citadas – para o lado direito, estando
no povoado de Pedra de Maria da Cruz, isso em 1945.Depois de Pedra…ele
foi até Jaíba e depois Burarama, hoje Capitão Enéas. Fui conversando com
pessoas. Ouvindo depoimentos de pessoas idosas e idôneas, fui
escolhendo o que achei mais correto, que poderia mostrar mais
credibilidade.
NFE: Você diz, no seu livro, que entrevistou 46 testemunhas que também viram Lampião vivo…
JGA:
Dizem as Sagradas Escrituras – Marcos, 1V, 22-23 – que “nada há de
oculto que não deva ser descoberto.” Lampião fez um trajeto para
despistar a Polícia. Aí foi quando ele voltou, indo para o município de
São Francisco – ele foi, não tinha ido ainda – posteriormente foi à
cidade de Arinos, passou por Urucuia, depois cidade de Arinos, Unaí e
finalmente Buritis, onde faleceu.
NFE: Como foi o seu contato com ele?
JGA:
O contato com ele foi interessante, eu conversando com um amigo em
1991, me falou de uma determinada pessoa, no município de São Francisco,
que havia conhecido em 1963, que ele tinha quase certeza que aquele
homem era Lampião. A partir daquela noite eu já passei em pensar em
pesquisar e descobrir o verdadeiro homem. Em fevereiro de 92 me deparei
com ele e realmente pude chegar à conclusão que ele era realmente o
verdadeiro Lampião.
NFE: Ele confessou a verdadeira identidade?
JGA:
Ele declarou pra mim e pras pessoas. A comunidade não se tocou quem era
realmente Lampião, Eu o fotografei, fiz o mesmo com Maria Bonita. Eu
era o único fotografo da cidade. Época do preto e branco. As fotos estão
no livro. São inéditas. Estão no livro.
NFE: Você tinha consciência de que o fato de encontrar Lampião e Maria Bonita vivos mudaria os rumos da história?
JGA:
Quando eu descobri a história, registrei os meus direitos autorais, no
Rio de Janeiro, no Ministério da Cultura, que funciona no Rio Janeiro.
NFE: O que Lampião lhe disse para provar que ele era ele mesmo?
JGA:
No episódio de Angico tinha quatro grupos de Lampião que não estavam
lá. Ele dividiu o bando em subgrupos, onde, num deles, estava um casal
de ex-cangaceiros que eu entrevistei: Moreno e Durvinha (ela faleceu em
26/6/2008).
NFE: Mais uma vez ele enganou a Polícia…
JGA: Lampião foi um homem muito inteligente.
NFE: Agora que você documentou tudo em livro, reafirmando o que havia declarado à imprensa, o que espera?
JGA:
Com essas revelações eu espero mudar a história da realidade do cangaço
brasileiro. Eu não criei, me deparei com essa situação e achei por bem
escrever e mostrar para o mundo.
NFE: O seu livro é polêmico.
JGA:
Eu tenho consciência disso. É polêmico. Essa incógnita começou por lá e
eu vim desvendar o mistério. Por quê? Quando se deu aquele problema a
dita morte em Angico, as dúvidas começaram ali naquele dia, dos
presentes 35 homens e cinco mulheres, apenas 11 foram mortos, nunca se
explicou se foram a tiros ou envenenamento. Essa dúvida tem na história.
Agora, porque o João Bezerra (tenente, consta que foi o matador de
Lampião), mas na própria história é sabido que (citou) dizia que o tem.
João bezerra, entre os colegas,. Era visto como Lampião. Era visto com
Lampião, quando dizia também que já tinha morto. Na decapitação desses
cadáveres só quatro dias depois essas cabeças, em estado de
decomposição, chegaram à presença do público, dentro de uma lata com sal
grosso e vinagre, transporta pela Polícia Militar. Aquela cabeça que
eles diziam ser de Lampião foi entregue em primeiro lugar a um dentista
chamado Arnaldo Siqueira e ele passou para outro dentista, José Lages
Filho, que fez uma autopsia dessa cabeça, mas ele também não afirma que
aquela cabeça era de Lampião. Seria ele um grande mentiroso se tivesse
afirmado.
NFE: Como você se sente, esclarecendo esse fato, que altera os rumos da história do banditismo social no Brasil?
JGA:
Sinto-me muito bem. Com o meu livro, o passado se torna presente ao
povo do futuro. Demonstro a bravura e grandeza de um intrépido
brasileiro do passado. Só através da história a sociedade poderá ter a
exatidão de sua própria história.
NFE: Em História, mais cedo ou mais tarde a verdade aparece.
JGA:
Lampião não serviu ao Exércíto, ninguém tinha dados sobre ele, como é
que alguém poderia afirmar? Eu creio que o meu livro vai causar grande
repercussão a nível nacional e pode até ultrapassar as fronteiras
brasileiras. Existem escritores que escreveram sobre Lampião em
Portugal, França, Espanha, Estados Unidos da América, Inglaterra…
NFE: Com quantos anos você conhece Lampião e quantos anos você tem hoje?
JGA:
Quando descobri estava com 47 anos e hoje estou com 59 (em 16 de
outubro de 2009). Esse tempo todo, 17 anos e seis meses, trabalhei na
pesquisa. Vou lançar meu livro no Ceará, Brasília, Minas Gerais e onde
mais houver oportunidade.
NFE: Você tem alguns objetos que pertenceram a Lampião?
JGA:
Tenho. Tive acesso também à identidade, certidão de nascimento, ele
usou 13 anos em MG para permanecer na clandestinidade. Tive acesso a
vários objetos de Lampião. Ele estava com 41 anos de idade. Fugiu do
cerco da Polícia de Sergipe com apoio de Padre Cícero e outras pessoas.
Eu tive essa dádiva de encontrá-lo.
NFE: E Maria Bonita?
JGA: Lampião teve várias mulheres. Quando eu o conheci ele estava vivendo com outra. Eu não sou o único que fala que ele morreu de morte natural, em Minas Gerais. Vários escritores já disseram que ele não morreu em Angico, eu não sou o primeiro, só que eu tive dádiva de encontrá-lo. Fui o último amigo e confidente, estava com a história toda, só que ele me pediu para não divulgar nada enquanto ele estivesse vivo.
* Menezes y Morais, jornalista,
professor, escritor, historiador
e editor da Nós – Fora dos Eixos.
* José Geraldo Aguiar é fotografo e escritor.
Livro: Lampião o Invencível – Duas Vidas, Duas Mortes
– o outro lado da moeda.
Thesaurus Editora. www.thesaurus.com.br
0 comentários:
Postar um comentário