A cuíca-de-colete (Caluromysiops irrupta)
está na categoria Criticamente Ameaçada da Lista de Espécies da Fauna
Brasileira Ameaçadas de Extinção, elaborada pelo ICMBio – Foto: Marcio
Martins
A cuíca-de-colete (Caluromysiops irrupta)
é o único marsupial (grupo dos gambás, cangurus e coalas) classificado
como criticamente ameaçado no Brasil. O único registro que existia da
espécie no país era de uma pele depositada no Museu de Zoologia da USP
datada de 1964. Porém, em dezembro de 2013, a bióloga da USP Júlia
Laterza Barbosa encontrou um exemplar durante um resgate de fauna em
Paranaíta, município localizado dentro da Amazônia Legal, no estado de
Mato Grosso. A redescoberta foi publicada por Barbosa e outros dois pesquisadores no periódico científico De Gruyter no mês passado (maio de 2016).
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Para Marcus Vinicius Brandão, biólogo graduado pela USP, com mestrado
em mastofauna pela UFSCar e um dos autores do artigo, a redescoberta da
espécie mostra a importância do licenciamento ambiental, processo que
analisa os impactos socioambientais de um empreendimento para avaliar se
a obra é viável ou não e que pode deixar de ser obrigatório com a
aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 65/2012 em tramitação no Senado.
A
cuíca-de-colete que foi redescoberta no Brasil após 50 anos. (O animal
foi capturado durante um resgate de fauna e foi solto em um lugar
seguro) – Foto: Júlia Laterza Barbosa
“Durante o processo de licenciamento ambiental busca-se avaliar o
impacto ambiental e também social que grandes obras como rodovias,
hidrelétricas, mineradoras, etc podem causar. Dessa forma, avaliamos se
os benefícios que serão obtidos por esses empreendimentos compensam os
impactos que serão gerados.
Assim, através de estudos do meio social e
ambiental, pode-se ter dimensão da realidade local e elaborar relatórios
que poderão direcionar a minimização dos impactos. Além disso, é uma
oportunidade de aumentarmos o conhecimento sobre a biodiversidade local.
O registro da cuíca-de-colete é um exemplo disso”, diz Brandão. E
completa: “Nós sabemos das atuais tragédias ambientais ocorridas no
país. Agora imagine: se essas tragédias já aconteceram com a atual
legislação, o que aconteceria se a PEC65 fosse aprovada? Imagine os
desastres ambientais que poderiam ocorrer. Grande parte da nossa
biodiversidade, que pouco conhecemos, estaria destinada a desaparecer
sem termos ciência de sua existência.”
A
cuíca-de-colete possui uma característica única entre os marsupiais
sul-americanos: a faixa escura que se estende das mãos, passa pelos
braços, ombros e chega até as costas – Foto: Júlia Laterza Barbosa
No início deste mês (junho), outro
artigo científico, publicado no Check List, informou outro registro da
espécie no Parque Estadual Guajará Mirim, em Rondônia. “Embora este
novo registro refira-se ao avistamento da cuíca-de-colete em 1995, ou
seja, mais de 20 anos atrás, é um registro bastante importante, pois foi
feito em uma Unidade de Conservação, o que representa um grande passo
na ajuda para a conservação de populações desta espécie no Brasil”,
comenta Brandão.
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Os registros publicados recentemente são importantes para provar que a
espécie ainda vive na Amazônia brasileira. Porém, sua área de
ocorrência sofre com o desmatamento para a agricultura e a pecuária.
Para Brandão é preciso avaliar o atual estado das populações da
cuíca-de-colete, obter mais amostras para estudos genéticos e estudar os
dados ecológicos do animal para determinar se a espécie é rara e
ameaçada realmente ou se é comum, mas com hábitos que dificultam a
percepção de sua presença (como vida restrita à copa das árvores e
hábito noturno, por exemplo). “Conhecendo melhor os dados biológicos de Caluromysiops irrupta,
a comunidade científica pode direcionar melhor os esforços de
conservação e quem sabe no futuro poderemos retirar esta espécie da
lista de espécies ameaçadas.
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