O pagamento é referente a uma dívida de R$ 30 milhões da campanha do prefeito de São Paulo (Foto: EBC)
O
ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto pediu à Andrade Gutierrez o
pagamento de uma dívida de R$ 30 milhões da campanha do prefeito de São
Paulo, Fernando Haddad (PT). O valor teria sido cobrado também de mais
cinco construtoras, revelou Flávio Gomes Machado Filho, ex-diretor da
empreiteira, em delação premiada na Operação Lava Jato.
“Em 2013, o PT, por meio de João Vaccari Neto, tesoureiro do partido,
solicitou à Andrade Gutierrez o pagamento de uma dívida do partido
referente à campanha de Haddad à Prefeitura de São Paulo”, afirmou
Machado Filho, em depoimento no dia 25 de fevereiro, na
Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília.
“A dívida era de R$ 30 milhões. Também houve a solicitação do
pagamento a outras cinco empresas, de modo que ficariam R$ 5 milhões
para pagamento pela Andrade Gutierrez.” Vaccari está preso.
Dono da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa – primeiro grande empreiteiro a
fazer delação premiada – já confessara, no ano passado, que chegou a
pagar uma despesa de R$ 2,4 milhões da campanha do petista.
Eleito em 2012, Haddad arrecadou R$ 42 milhões em sua campanha e
gastou R$ 67 milhões – um rombo de pelo menos R$ 25 milhões, assumido
pelo Diretório Nacional do PT no ano seguinte. Parte desse valor era do
contrato fechado com a Polis Propaganda e Marketing, de João Santana.
Responsável pela campanha de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva,
em 2006, e da primeira vitória da presidente afastada Dilma Rousseff, em
2010, o publicitário foi contratado pela campanha de Haddad por R$ 30
milhões. Em 2014, ele foi o responsável pelo marketing da campanha de
reeleição de Dilma.
Pagamento
Em sua delação, o ex-executivo da Andrade Gutierrez afirmou que R$ 5
milhões que a empreiteira teria de pagar eram para Santana. “Não sabe se
a dívida de R$ 30 milhões era com João Santana ou o total da campanha
de Haddad, mas a parte da Andrade Gutierrez, os R$ 5 milhões, era de
dívida do PT com João Santana”, afirmou aos procuradores.
O delator disse que foi “o próprio Vaccari” quem passou o contato da
mulher do marqueteiro, Mônica Moura. Sócia do marido na Polis, ela era a
responsável pelas contas do casal. Ambos estão presos em Curitiba,
desde fevereiro, alvos da Operação Acarajé, quando foi descoberta conta
secreta na Suíça. Santana e Mônica são acusados de corrupção e lavagem
de dinheiro.
Machado Filho contou também que chegou a procurar a mulher de Santana
por telefone para acertar “um café, cujo nome não se recorda, na Rua
Dias Ferreira (no Leblon, Rio)”. “A dívida poderia ser paga no exterior,
segundo Mônica.”
A Lava Jato descobriu a conta usada pelo casal, na Suíça, em nome da
offshore ShellBill Finance Corp. O delator disse que, em reunião com
diretores, foi decidido que a Andrade Gutierrez não pagaria os valores.
“Mesmo a Andrade Gutierrez não tendo pago, não houve posteriormente
desdobramentos.” Machado Filho disse ainda que não tratou do pedido com
Haddad. “Não sabe se Haddad sabia.”
Defesas
A coordenação de campanha do prefeito Fernando Haddad informou que
foi deixada uma dívida da disputa, em 2012, que chegava a R$ 29 milhões.
“O valor foi declarado ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e repassado
ao Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, que faria sua
liquidação”, informou a equipe.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o PT disse que “refuta
totalmente as ilações apresentadas”. “Todas as doações que o PT recebeu
foram realizadas estritamente dentro dos parâmetros legais e
posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral”, disse o partido, em
nota.
A defesa de João Santana informou que apenas se manifestaria após conversar com seu cliente sobre o assunto. (AE)
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